terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Vaticano – Carta do Papa Francisco aos novos cardeais


2014-01-13 L’Osservatore Romano
«O Cardinalato não significa uma promoção, uma honra, nem uma condecoração; é simplesmente um serviço que exige que se amplie o olhar e se alargue o coração». 
Escreveu o Papa numa carta pessoal enviada aos novos cardeais que serão criados durante o Consistório de 22 de Fevereiro. «Apesar de parecer um paradoxo – continuou o Papa Francisco – este poder olhar para mais longe e amar mais universalmente com mais intensidade só pode ser adquirido se seguirmos o mesmo caminho do Senhor: o caminho da humilhação e da humildade, tornando-nos servidores (cf. Fl 2, 5-8). Portanto, peço-te, por favor, que recebas esta designação com um coração simples e humilde. E, mesmo que tu o faças com júbilo e alegria, faz de modo que este sentimento esteja longe de qualquer expressão de mundanidade, de qualquer comemoração diferente do espírito evangélico de austeridade, sobriedade e pobreza».
Fonte: News.VA

Favorecer uma cultura do encontro e da paz, valorizando família, idosos e jovens: Papa Francisco ao Corpo Diplomátic


2014-01-13 Rádio Vaticana

Segundo uma tradição consolidada, o Santo Padre recebeu nesta segunda-feira todo o Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé para a apresentação de votos de Ano Novo. Uma ocasião para o Papa Francisco apresentar algumas reflexões sobre a situação atual do mundo, neste início de 2014. Reflexões que - disse – “brotam primariamente do seu coração de pastor, atento às alegrias e sofrimentos da humanidade”. Na primeira parte de um extenso e denso discurso, o Papa chamou a atenção para a situação da família, dos idosos e dos jovens, pedindo que se favoreça “uma cultura do encontro”.
Citando a sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz, Papa Francisco sublinhou que «a fraternidade se começa a aprender habitualmente no seio da família», a qual, «por vocação, deveria contagiar o mundo com o seu amor» e contribuir para fazer maturar aquele espírito de serviço e partilha que edifica a paz.O Santo Padre recordou que, infelizmente, “aumenta o número das famílias divididas e dilaceradas não só pela frágil consciência do sentido de pertença que caracteriza o mundo actual, mas também pelas difíceis condições em que muitas delas são forçadas a viver, chegando ao ponto de lhes faltarem os meios de subsistência. Por isso – advertiu - tornam-se necessárias políticas adequadas que apoiem, promovam e consolidem a família.
Passando então à situação dos idosos e jovens, o Papa Francisco lembrou que os primeiros são muitas vezes “considerados um peso, enquanto os jovens não vêem à sua frente perspectivas seguras para a sua vida”. Ora – sublinhou – “idosos e jovens são a esperança da humanidade: os primeiros trazem a sabedoria da experiência, enquanto os segundos nos abrem ao futuro, impedindo de nos fecharmos em nós mesmos.”“Sábia opção é não marginalizar os idosos da vida social, para se manter viva a memória dum povo. De igual modo, é bom investir nos jovens, com iniciativas adequadas que os ajudem a encontrar trabalho e fundar um lar doméstico. É preciso não apagar o seu entusiasmo!”
O Papa evocou, a este propósito, a Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro, onde encontrou – disse – tantos jovens contentes, cheios de esperança e de expectativas, com desejo de se abrirem aos outros. “O egoísmo e o isolamento criam sempre uma atmosfera asfixiante e pesada, que mais cedo ou mais tarde acaba por estiolar e sufocar. Ao contrário, serve um compromisso comum de todos para favorecer uma cultura do encontro, porque só quem consegue ir ao encontro dos outros é capaz de dar fruto, criar vínculos de comunhão, irradiar alegria, construir a paz”.
A partir daqui, o Santo Padre passou em resenha os pontos do globo que se confrontam com problemas mais sérios de justiça e de paz. Começando pela Síria, Papa Francisco assegurou que continua a esperar que tenha finalmente termo o conflito na Síria. “A solicitude por aquela amada população e o desejo de evitar o agravamento da violência levaram-se a proclamar um dia de jejum e oração, em Setembro passado. Por vosso intermédio, agradeço de coração sincero a quantos nos vossos países, autoridades públicas e pessoas de boa vontade, se associaram a esta iniciativa.”
Agora requer-se uma renovada vontade política comum para pôr fim ao conflito – advertiu o Papa, referindo expressamente a Conferência Genebra 2, convocada para o próximo dia 22, e a necessidade imperiosa de que se respeite plenamente o direito humanitário.“Não se pode aceitar que seja atingida a população civil inerme, sobretudo as crianças. Encorajo todos a favorecer e garantir, de todos os modos possíveis, a assistência necessária e urgente da população, sem esquecer o louvável esforço dos países, especialmente Líbano e Jordânia, que generosamente acolheram no seu território inúmeros refugiados sírios.”
Ainda no Médio Oriente, o Papa evocou as dificuldades políticas com que se confrontam o Líbano e o Egipto e congratulou-se com os progressos no diálogo com o Irão sobre a questão nuclear. “Por toda a parte, a via para resolver as questões em aberto há-de ser o caminho diplomático do diálogo.
É a estrada-mestra já apontada, com lúcida clareza, pelo Papa Bento XV, quando convidava os responsáveis das nações europeias a fazerem prevalecer «a força moral do direito» sobre a força «material das armas», para acabar com aquele «inútil massacre» que foi a I Guerra Mundial, cujo início teve lugar há cem anos. É preciso «a coragem de ultrapassar a superfície conflitual» para considerar os outros na sua dignidade mais profunda, a fim de que a unidade prevaleça sobre o conflito e seja «possível desenvolver uma comunhão nas diferenças.»
Não faltou no discurso do Santo Padre ao Corpo Diplomático uma referência às negociações de paz entre israelitas e palestinianos, assim como à sua “preocupação incessante” pelo êxodo dos cristãos do Médio Oriente e do Norte de África. “O desejo deles é continuarem a fazer parte da colectividade social, política e cultural dos países que ajudaram a construir, e anelam concorrer para o bem comum das sociedades onde querem viver plenamente inseridos como artífices de paz e reconciliação.
Também noutras partes da África, os cristãos são chamados a dar testemunho do amor e da misericórdia de Deus. Não se deve jamais desistir de praticar o bem, mesmo quando é árduo e se padecem atos de intolerância, se não de verdadeira e própria perseguição.”Neste contexto o Santo Padre, mencionou expressamente as violências na Nigéria e na República Centro-Africana.
“Ao mesmo tempo que asseguro a minha oração pelas vítimas e os numerosos desalojados, constrangidos a viver em condições de indigência, espero que a solicitude da Comunidade Internacional contribua para fazer cessar as violências, restaurar o estado de direito e garantir a chegada das ajudas humanitárias mesmo nas zonas mais remotas do país. Por sua vez, a Igreja Católica continuará a assegurar a sua presença e colaboração, empenhando-se generosamente por fornecer toda a ajuda possível à população e sobretudo por reconstruir um clima de reconciliação e de paz entre todas as componentes da sociedade.” “Reconciliação e paz aparecem como prioridades fundamentais também noutras partes do continente africano” – sublinhou ainda o Papa Francisco, mencionando o Mali e o Sudão do Sul.
Dirigindo o seu olhar à Ásia, referiu expressamente ao povo coreano e à necessidade de que se encontrem possíveis soluções para a Coreia, segundo o espírito de convivência pacífica tradicional no continente:“a Ásia tem uma longa história de convivência pacífica entre as suas diversas componentes civis, étnicas e religiosas. É preciso incentivar tal respeito mútuo, sobretudo perante alguns sinais preocupantes do seu enfraquecimento, nomeadamente nas atitudes, em número crescente, de fechamento que, apoiando-se sobre motivos religiosos, tendem a privar os cristãos da sua liberdade e pôr em risco a convivência civil. Inversamente, a Santa Sé olha com viva esperança os sinais de abertura que provêm de países de grande tradição religiosa e cultural, com quem ela deseja colaborar para a edificação do bem comum.”
Eis o texto integral do discurso, pronunciado em italiano:

Excelências,Senhoras e Senhores!
Quer uma tradição, já longa e consolidada, que o Papa, no início de cada novo ano, encontre o Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé para formular venturosos votos e apresentar algumas reflexões, que brotam primariamente do seu coração de pastor, atento às alegrias e sofrimentos da humanidade. Por isso, é motivo de grande alegria o encontro de hoje. Permite-me formular a vós, pessoalmente, às vossas famílias, às autoridades e aos povos que representais os meus mais sinceros votos de um 2014 rico de bênçãos e de paz.
Agradeço, antes de mais, ao Decano Jean-Claude Michel, que deu voz, em nome de todos, às expressões de afecto e estima que unem as vossas nações à Sé Apostólica. Sinto-me feliz por vos ver de novo aqui, tão numerosos, após o nosso primeiro encontro que teve lugar poucos dias depois da minha eleição. Entretanto foram acreditados uma série de novos Embaixadores, a quem renovo as boas-vindas; e, dentre aqueles que nos deixaram, não posso passar sem mencionar o falecido Embaixador Alejandro Valladares Lanza, durante muitos anos Decano do Corpo Diplomático, que o Senhor chamou a Si alguns meses atrás.O ano que terminou foi particularmente denso de acontecimentos não só na vida da Igreja, mas também no âmbito das relações que a Santa Sé mantém com os Estados e as Organizações Internacionais. Lembro, em particular, o estabelecimento das relações diplomáticas com o Sudão do Sul, a assinatura de acordos, de base ou específicos, com Cabo Verde, Hungria e Chade, e a ratificação do acordo com a Guiné Equatorial que fora assinado em 2012. E, a nível continental, também cresceu a presença da Santa Sé, quer na América Central, onde se tornou Observador Extra-Regional junto do Sistema de la Integración Centro americana, quer na África, com a acreditação do primeiro Observador Permanente junto da Comunidade Economica dos Estados da África Ocidental.
Na Mensagem para o Dia Mundial da Paz, dedicada à fraternidade como fundamento e caminho para a paz, assinalei que «a fraternidade se começa a aprender habitualmente no seio da família»,53 a qual, «por vocação, deveria contagiar o mundo com o seu amor»54 e contribuir para fazer maturar aquele espírito de serviço e partilha que edifica a paz.55 Isto mesmo vemos narrado no Presépio, onde a Sagrada Família não aparece sozinha nem isolada do mundo, mas rodeada pelos pastores e os magos; por outras palavras, é uma comunidade aberta, na qual há espaço para todos, pobres e ricos, vindos de perto e de longe. Assim se compreendem as palavras do meu amado predecessor Bento XVI, quando sublinhava que «a linguagem familiar usa um léxico de paz».56Muitas vezes, infelizmente, isto não acontece, porque aumenta o número das famílias divididas e dilaceradas não só pela frágil consciência do sentido de pertença que caracteriza o mundo actual, mas também pelas difíceis condições em que muitas delas são forçadas a viver, chegando ao ponto de lhes faltarem os próprios meios de subsistência. Por isso, tornam-se necessárias políticas adequadas que apoiem, promovam e consolidem a família.
Além disso, sucede que os idosos sejam considerados um peso, enquanto os jovens não vêem à sua frente perspectivas seguras para a sua vida. E, no entanto, idosos e jovens são a esperança da humanidade: os primeiros trazem a sabedoria da experiência, enquanto os segundos nos abrem ao futuro, impedindo de nos fecharmos em nós mesmos.57 Sábia opção é não marginalizar os idosos da vida social, para se manter viva a memória dum povo. De igual modo, é bom investir nos jovens, com iniciativas adequadas que os ajudem a encontrar trabalho e fundar um lar doméstico. É preciso não apagar o seu entusiasmo! Conservo viva na mente a experiência da XXVIII Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro. Pude encontrar tantos jovens contentes! Havia tanta esperança e expectativa nos seus olhos e nas suas orações! Tanta sede de vida e tanto desejo de se abrir aos outros! O egoísmo e o isolamento criam sempre uma atmosfera asfixiante e pesada, que mais cedo ou mais tarde acaba por estiolar e sufocar. Ao contrário, serve um compromisso comum de todos para favorecer uma cultura do encontro, porque só quem consegue ir ao encontro dos outros é capaz de dar fruto, criar vínculos de comunhão, irradiar alegria, construir a paz.Vimos uma confirmação disto mesmo – caso fosse necessária – nas imagens de destruição e morte que tivemos diante dos olhos no ano que passou. Quanto sofrimento, quanto desespero causa o fechamento em si mesmo, que pouco a pouco toma o rosto da inveja, do egoísmo, da rivalidade, da sede de poder e de dinheiro! Parece, às vezes, que tais realidades estejam destinadas a dominar; mas, o Natal infunde em nós, cristãos, a certeza de que a palavra última e definitiva pertence ao Príncipe da Paz, que muda «as espadas em relhas de arado e as lanças em foices» (cf. Is 2, 4) e transforma o egoísmo em dom de si mesmo e a vingança em perdão.
É com esta confiança que desejo olhar para o ano que está à nossa frente. Por isso, não cesso de esperar que tenha finalmente termo o conflito na Síria. A solicitude por aquela amada população e o desejo de evitar o agravamento da violência levaram-se a proclamar um dia de jejum e oração, em Setembro passado. Por vosso intermédio, agradeço de coração sincero a quantos nos vossos países, autoridades públicas e pessoas de boa vontade, se associaram a esta iniciativa. Agora requer-se uma renovada vontade política comum para pôr fim ao conflito. Nesta linha, espero que a Conferência «Genebra 2», convocada para o próximo dia 22 de Janeiro, marque o início do desejado caminho de pacificação. Ao mesmo tempo, é imprescindível o pleno respeito do direito humanitário. Não se pode aceitar que seja atingida a população civil inerme, sobretudo as crianças. Além disso, encorajo a todos a favorecer e garantir, de todos os modos possíveis, a assistência necessária e urgente de grande parte da população, sem esquecer o louvável esforço ??dos países, especialmente o Líbano e a Jordânia, que generosamente acolheram em seu território os inúmeros refugiados sírios.Continuando no Médio Oriente, observo com preocupação as tensões que afectam, de vários modos, a Região. Com particular preocupação, vejo prolongar-se as dificuldades políticas no Líbano, onde se torna mais indispensável que nunca um clima de renovada cooperação entre as várias instâncias da sociedade civil e as forças políticas para evitar o agudizar-se de contrastes que podem minar a estabilidade do país. Penso também no Egipto, necessitado de reencontrar a concórdia social, assim como no Iraque, que tem dificuldade em chegar à almejada paz e estabilidade. Ao mesmo tempo, assinalo com satisfação os significativos progressos realizados no diálogo entre o Irão e o «Grupo 5+1» sobre a questão nuclear.
Por toda a parte, a via para resolver as questões em aberto há-de ser o caminho diplomático do diálogo. É a estrada-mestra já apontada, com lúcida clareza, pelo Papa Bento XV, quando convidava os responsáveis das nações europeias a fazerem prevalecer «a força moral do direito» sobre a força «material das armas», para acabar com aquele «inútil massacre»58 que foi a I Guerra Mundial, cujo início teve lugar há cem anos. É preciso «a coragem de ultrapassar a superfície conflitual»59 para considerar os outros na sua dignidade mais profunda, a fim de que a unidade prevaleça sobre o conflito e seja «possível desenvolver uma comunhão nas diferenças».60 Neste sentido, é positivo o facto de se terem retomado as negociações de paz entre israelitas e palestinianos, e espero que as Partes estejam determinadas a assumir, com o apoio da Comunidade Internacional, decisões corajosas a fim de se encontrar uma solução justa e duradoura para um conflito, cujo fim se revela cada vez mais necessário e urgente. Motivo incessante de preocupação é o êxodo dos cristãos do Médio Oriente e do Norte da África. O desejo deles é continuarem a fazer parte da colectividade social, política e cultural dos países que ajudaram a construir, e anelam concorrer para o bem comum das sociedades onde querem viver plenamente inseridos como artífices de paz e reconciliação.Também noutras partes da África, os cristãos são chamados a dar testemunho do amor e da misericórdia de Deus. Não se deve jamais desistir de praticar o bem, mesmo quando é árduo e se padecem actos de intolerância, se não de verdadeira e própria perseguição. Em vastas áreas da Nigéria, não cessam as violências e continua a ser derramado tanto sangue inocente. Pelo meu pensamento perpassa sobretudo a República Centro-Africana, onde a população sofre por causa das tensões que o país atravessa e que já semearam destruição e morte, em várias ocasiões. Ao mesmo tempo que asseguro a minha oração pelas vítimas e os numerosos desalojados, constrangidos a viver em condições de indigência, espero que a solicitude da Comunidade Internacional contribua para fazer cessar as violências, restaurar o estado de direito e garantir a chegada das ajudas humanitárias mesmo nas zonas mais remotas do país. Por sua vez, a Igreja Católica continuará a assegurar a sua presença e colaboração, empenhando-se generosamente por fornecer toda a ajuda possível à população e sobretudo por reconstruir um clima de reconciliação e de paz entre todas as componentes da sociedade. Reconciliação e paz aparecem como prioridades fundamentais também noutras partes do continente africano. Refiro-me particularmente ao Mali, onde já se nota positivamente a restauração das estruturas democráticas do país, e também ao Sudão do Sul, onde, pelo contrário, a instabilidade política do último período já provocou numerosos mortos e uma nova emergência humanitária.
A Santa Sé acompanha com viva atenção também as vicissitudes da Ásia, onde a Igreja deseja compartilhar as alegrias e as aspirações de todos os povos que compõem aquele vasto e nobre continente. Por ocasião do cinquentenário das relações diplomáticas com a República da Coreia, quero implorar, de Deus, o dom da reconciliação na península, com a esperança de que, para bem de todo o povo coreano, as Partes envolvidas não se cansem de procurar pontos de encontro e possíveis soluções. Efectivamente a Ásia tem uma longa história de convivência pacífica entre as suas diversas componentes civis, étnicas e religiosas. É preciso incentivar tal respeito mútuo, sobretudo perante alguns sinais preocupantes do seu enfraquecimento, nomeadamente nas atitudes, em número crescente, de fechamento que, apoiando-se sobre motivos religiosos, tendem a privar os cristãos da sua liberdade e pôr em risco a convivência civil. Inversamente, a Santa Sé olha com viva esperança os sinais de abertura que provêm de países de grande tradição religiosa e cultural, com quem ela deseja colaborar para a edificação do bem comum. A paz é ferida ainda por toda e qualquer negação da dignidade humana e, primariamente, pela impossibilidade de se alimentar de forma suficiente. Não podem deixar-nos indiferentes os rostos de quantos padecem fome, sobretudo das crianças, se pensarmos quanta comida é desperdiçada cada dia em tantas partes do mundo, mergulhadas naquela que já várias vezes defini como a «cultura do descarte». Infelizmente, objecto de descarte não são apenas os alimentos ou os bens supérfluos, mas muitas vezes os próprios seres humanos, que acabam «descartados» como se fossem «coisas desnecessárias». Por exemplo, causa horror só o pensar que haja crianças que não poderão jamais ver a luz, vítimas do aborto, ou aquelas que são usadas ??como soldados, estupradas ou mortas nos conflitos armados, ou então feitas objecto de mercado naquela tremenda forma de escravidão moderna que é o tráfico dos seres humanos, que é um crime contra a humanidade.
Não pode deixar-nos insensíveis o drama das multidões forçadas a fugir da carestia ou das violências e abusos, particularmente no Corno da África e na região dos Grandes Lagos. Muitos deles vivem como deslocados ou refugiados em campos onde já não são consideradas pessoas mas cifras anónimas. Outros, com a esperança duma vida melhor, empreendem viagens de fortuna, que não raro terminam tragicamente. Refiro-me de modo particular aos numerosos emigrantes que, da América Latina, se dirigem para os Estados Unidos, mas sobretudo a quantos, da África ou do Médio Oriente, buscam refúgio na Europa. Continua viva na minha memória a breve visita que realizei a Lampedusa, no passado mês de Julho, para rezar pelos numerosos náufragos no Mediterrâneo. Perante tais tragédias, infelizmente, verifica-se uma indiferença geral, constituindo um sinal dramático da perda daquele «sentido da responsabilidade fraterna»61 sobre o qual assenta toda a sociedade civil. Naquela ocasião, porém, pude constatar também o acolhimento e a dedicação por parte de tantas pessoas. Desejo ao povo italiano – para quem olho com afecto, nomeadamente pelas raízes comuns que nos unem – que saiba renovar o seu louvável empenho de solidariedade para com os mais frágeis e indefesos e, com o esforço sincero e concorde de cidadãos e instituições, superar as dificuldades actuais, recuperando o clima de criatividade social construtiva que há muito o caracteriza.
Por fim, desejo mencionar outra ferida à paz, que deriva da ávida exploração dos recursos ambientais. Embora «a natureza esteja à nossa disposição»,62 com muita frequência «não a respeitamos, nem a consideramos como um dom gratuito de que devemos cuidar e colocar ao serviço dos irmãos, incluindo as gerações futuras».63 Também neste caso, há que chamar em causa a responsabilidade de cada um para que, com espírito fraterno, se persigam políticas respeitadoras desta terra, que é a casa de cada um de nós. Recordo um adágio popular, que diz: «Deus perdoa sempre, nós às vezes, mas a natureza – a criação – nunca perdoa quando é maltratada». Aliás permanecem diante dos olhos os efeitos devastadores de algumas catástrofes naturais recentes. Em particular, quero lembrar uma vez mais as numerosas vítimas e as graves devastações nas Filipinas e noutros países do sudeste asiático provocadas pelo tufão Haiyan.Excelências,
Senhoras e Senhores!
O Papa Paulo VI observava que «a paz não se reduz a uma ausência de guerra, fruto do equilíbrio sempre precário das forças. Constrói-se, dia a dia, na busca duma ordem querida por Deus, que traz consigo uma justiça mais perfeita entre os homens».64 Este é o espírito que anima a acção da Igreja em todo o mundo, através dos sacerdotes, missionários, fiéis-leigos que, com grande espírito de dedicação, se prodigalizam, para além do mais, em múltiplas obras de carácter educativo, sanitário e assistencial, ao serviço dos pobres, doentes, órfãos e quem quer que precise de ajuda e conforto. A partir desta «atenção amiga»,65 a Igreja coopera com todas as instituições que têm a peito tanto o bem dos indivíduos como o bem comum. Por isso, no início deste novo ano, desejo reiterar a disponibilidade da Santa Sé, e particularmente da Secretaria de Estado, em colaborar com os vossos países para favorecer aqueles laços de fraternidade que são reflexo do amor de Deus e fundamento da concórdia e da paz. Sobre vós, as vossas famílias e os vossos povos, desça copiosa a bênção do Senhor. Obrigado!

Fonte: News.VA


Liturgia Diária

Invoquemos a presença do Espírito Santo para ler e refletir a liturgia de hoje:

Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra. 

Oremos: 

Deus que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre da sua consolação. Por Cristo, Senhor nosso. Amém.

Oração:
Pai, dá-me forças para que jamais eu permita ao poder do mal prevalecer sobre mim. Seja o meu coração totalmente voltado para ti e para o teu Reino.
Primeira leitura: 1Sm 1,9-20
Leitura do Primeiro Livro de Samuel
Naqueles dias, 9Ana levantou-se, depois de ter comido e bebido em Silo. Ora, o sacerdote Eli estava sentado em sua cadeira à porta do templo do Senhor. 10Ana, com o coração cheio de amargura, orou ao Senhor, derramando copiosas lágrimas. 11E fez a seguinte promessa, dizendo: “Senhor todo-poderoso, se olhares para a aflição de tua serva e te lembrares de mim, se não te esqueceres da tua escrava e lhe deres um filho homem, eu o oferecerei a ti por todos os dias de sua vida, e não passará navalha sobre a sua cabeça”.
12Como ela demorasse nas preces diante do Senhor, Eli observava o movimento de seus lábios. 13Ana, porém, apenas murmurava; os seus lábios se moviam, mas não se podia ouvir palavra alguma. Eli julgou que ela estivesse embriagada; 14por isso lhe disse: “Até quando estarás bêbada? Vai curar essa bebedeira!”
15Ana, porém, respondeu: “Não é isso, meu senhor! Sou apenas uma mulher muito infeliz; não bebi vinho, nem outra coisa que possa embebedar, mas desafoguei a minha alma na presença do Senhor. 16Não julgues a tua serva como uma mulher perdida, pois foi pelo excesso da minha dor e da minha aflição que falei até agora”.
17Eli então lhe disse: “Vai em paz, e que o Deus de Israel te conceda o que lhe pediste”. 18Ela respondeu: “Que tua serva encontre graça diante dos teus olhos”. E a mulher foi embora, comeu e o seu semblante não era mais o mesmo.
19Na manhã seguinte, ela e seu marido levantaram-se muito cedo e, depois de terem adorado o Senhor, voltaram para sua casa em Ramá. Elcana uniu-se a Ana, sua mulher, e o Senhor lembrou-se dela. 20Ana concebeu e, no devido tempo, deu à luz um filho e chamou-o Samuel, porque – disse ela – “eu o pedi ao Senhor”. 
- Palavra do Senhor.
- Graças a Deus.
Salmos: 1Sm 2,1-8
          — Meu coração se alegrou em Deus, meu Salvador.
— Meu coração se alegrou em Deus, meu Salvador.

— Exulta no Senhor meu coração, e se eleva a minha fronte no meu Deus; minha boca desafia os meus rivais porque me alegro com a vossa salvação.

— O arco dos fortes foi dobrado, foi quebrado, mas os fracos se vestiram de vigor. Os saciados se empregaram por um pão, mas os pobres e os famintos se fartaram. Muitas vezes deu à luz a que era estéril, mas a mãe de muitos filhos definhou.

— É o Senhor quem dá a morte e dá a vida, faz descer à sepultura e faz voltar; é o Senhor quem faz o pobre e faz o rico, é o Senhor quem nos humilha e nos exalta.

— O Senhor ergue do pó o homem fraco, e do lixo ele retira o indigente, para fazê-lo assentar-se com os nobres num lugar de muita honra e distinção.
 
 
Evangelho: Mc 1,21-28
         - O Senhor esteja convosco.
          - Ele está no meio de nós.
          - Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo São Marcos.
          - Glória a vós, Senhor.

        21bEstando com seus discípulos em Cafarnaum, Jesus, num dia de sábado, entrou na sinagoga e começou a ensinar. 22Todos ficavam admirados com o seu ensinamento, pois ensinava como quem tem autoridade, não como os mestres da Lei.
23Estava então na sinagoga um homem possuído por um espírito mau. Ele gritou: 24“Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus”. 25Jesus o intimou: “Cala-te e sai dele!”
26Então o espírito mau sacudiu o homem com violência, deu um grande grito e saiu. 27E todos ficaram muito espantados e perguntavam uns aos outros: “Que é isso? Um ensinamento novo dado com autoridade: Ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem!” 28E a fama de Jesus logo se espalhou por toda parte, em toda a região da Galileia.
- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
 
Comentário do Evangelho
Ensina com autoridade
Jesus ir à sinagoga no dia de sábado mostra ser um judeu praticante. Uma das características do Jesus apresentado por Marcos é que ele está sempre a ensinar. No entanto, o segundo evangelho nunca informa, explicitamente, ao leitor acerca do conteúdo do ensinamento de Jesus. O ensinamento de Jesus causa a admiração de muitos porque ensina com autoridade. Entenda-se, aqui, a coerência interna, ou o acordo de si consigo mesmo. Essa coerência é que dá credibilidade ao seu ensinamento e o distingue dos escribas e fariseus, continuamente criticados pela hipocrisia, que é só aparência e, por isso, contrária à coerência exigida do serviço a Deus. A palavra do Senhor revela a maldade do coração do ser humano. É disso que se trata quando o relato evangélico diz que o espírito impuro se manifesta ameaçando. Todo mal quer permanecer encoberto; aliás, o mal se alimenta e cresce na sombra. A Luz do Senhor o revela para destruí-lo. O mal não pode ter lugar na vida do ser humano, sob pena de desfigurar nele a imagem de Deus. Seja como for, o texto faz uma afirmação fundamental: o Cristo de Deus submete e destrói o mal que aprisiona o ser humano e o impede de celebrar livremente o descanso sabático. Esse é o ensinamento que é necessário reter.
 
Leitura Orante

Oração Inicial

- A nós, que nos encontramos na web, a paz de Deus, nosso Pai, a graça e a alegria de Nosso Senhor Jesus Cristo,
no amor e na comunhão do Espírito Santo.
- Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo!
Preparo-me para a Leitura, rezando:
Jesus Mestre, ficai conosco, aqui reunidos (pela grande rede da internet),
para melhor meditar e comungar com a vossa Palavra.
Sois o Mestre e a Verdade: iluminai-nos, para que melhor compreendamos
as Sagradas Escrituras.

1- Leitura (Verdade)

O que diz o texto do dia?
Leio na Bíblia, atentamente, o texto: Mc 1,21b-28.
Consideremos dois aspectos deste texto que aparecem neste encontro de Jesus na sinagoga de Cafarnaum, num dia de sábado: 1º. O ensino de Jesus "com autoridade" e 2º. O espírito mau que dominava o homem.
O espírito mau dominou e desestruturou a vida do homem que chegou à sinagoga. Sua vida era tão desintegrada e vulnerável que achou que Jesus queria lhe fazer mal: "Você veio para nos destruir?" Diante desta incapacidade do homem de reconhecer a necessidade de libertação, Jesus se impôs, Usou de sua "autoridade", ordenando ao espírito mau: "Cale a boca e saia desse homem!".
O povo se impressionou com a autoridade de Jesus e tentava entendê-lo. Convencido da autoridade do Mestre, o povo "espalhou" o fato por toda a Galileia.

2- Meditação (Caminho)

O que o texto diz para mim, hoje?
Recordo o que disseram os bispos em Aparecida sobre a vulnerabilidade dos mais fracos: "De nossa fé em Cristo nasce também a solidariedade como atitude permanente de encontro, irmandade e serviço. Ela há de se manifestar em opções e gestos visíveis, principalmente na defesa da vida e dos direitos dos mais vulneráveis e excluídos, e no permanente acompanhamento em seus esforços por serem sujeitos de mudança e de transformação de sua situação" (DAp 394).

3- Oração (Vida)

O que o texto me leva a dizer a Deus?
Rezo com Jesus: Pai nosso...
E faço o Oferecimento do dia
Adoro-vos, meu Deus, amo-vos de todo o meu coração.
Agradeço-vos porque me criastes, me fizestes cristão, me conservastes a vida e a saúde.
Ofereço-vos o meu dia: que todas as minhas ações correspondam à vossa vontade.
E que faça tudo para a vossa glória e a paz das pessoas.
Livrai-me do pecado, do perigo e de todo o mal.
Que a vossa graça, benção, luz e presença permaneçam sempre comigo
e com todos aqueles que eu amo. Amém. (Orações da Família Paulina)

4- Contemplação (Vida e Missão)

Qual meu novo olhar a partir da Palavra?
Vou olhar o mundo e a vida com os olhos de Deus. Vou eliminar do meu modo de pensar e agir aquilo que não vem de Deus, que não é conforme o Projeto de Jesus Mestre.

Bênção

- Deus nos abençoe e nos guarde. Amém.
- Ele nos mostre a sua face e se compadeça de nós. Amém.
- Volte para nós o seu olhar e nos dê a sua paz. Amém.
- Abençoe-nos Deus misericordioso, Pai e Filho e Espírito Santo. Amém.
Fonte: Catequese Católica