Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
A devoção e festa de Nossa Senhora de Fátima que iremos comemorar e que tem tanta repercussão no Brasil, teve origem na cidade de Fátima, uma cidade de Portugal, onde três crianças, Lúcia de Jesus Santos, com 10 anos, e seus primos Francisco Marto de 9 anos, e Jacinta Marto de 7 anos, tiveram uma revelação particular de Nossa Senhora. Aconteceu no ano de 1917. Foram sete momentos de Nossa Senhora aos três meninos, normalmente no dia 13 de cada mês. A primeira foi no dia 13 de maio. Lúcia via e conversava com Nossa Senhora de Fátima. Francisco só via e não ouvia os diálogos. Jacinta via e ouvia, mas não falou com Nossa Senhora de Fátima.
Eles a descreveram assim: Parecia ter uns 18 anos a Senhora, rodeada de claridade fulgurante, seu vestido era de uma alvura puríssima, assim como o manto ornado de ouro, que lhe cobria a cabeça e grande parte do corpo. O rosto sobrenatural e divino estava sereno e grave, com uma sombra de tristeza. Em suas mãos, uma cruz de ouro com um terço em contas que pareciam pérolas, e de seu corpo, especialmente do rosto, irradiavam feixes de luz, incomparavelmente superior a qualquer beleza humana.
No começo as crianças se assustaram, mas a “Senhora” as tranquilizou, dizendo para não terem medo, e que ela era do Céu. Nossa Senhora disse para rezarem o terço todos os dias para alcançarem a paz e o fim da guerra. A mensagem de Fátima é uma mensagem de conversão e arrependimento.
Ninguém acreditava nas crianças. Na segunda aparição, somente 50 pessoas estavam presentes para tentar ver alguma coisa. Depois, as crianças sofreram grandes perseguições por parte dos poderes públicos. Chegaram a ser até presas na delegacia de Fátima, mas nunca negaram as aparições.
Em uma das aparições, Nossa Senhora ensinou esta oração às crianças, que foi acrescentada ao Rosário: “Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o Céu, e socorrei principalmente aquelas que mais precisarem”. (Nós costumamos rezá-la sempre ao final de cada mistério do terço).
Após a terceira aparição, o povo começou a acreditar, e cada vez mais se aglomeravam pessoas, chegando a mais de trinta mil na última aparição.
Na sexta aparição, Maria Santíssima disse a Lúcia que naquele local, com o dinheiro das doações, deveria ser construída uma capela com o nome de Nossa Senhora do Rosário. E quando ela se levantava suavemente para ir embora, o sol apareceu entre as nuvens como um grande disco prateado, brilhando muito, mas sem cegar as pessoas. Começou a girar vertiginosamente e suas bordas se tornaram avermelhadas, espalhando raios de fogo, de modo que sua luz refletia nas pessoas, nas árvores, e foi vista até quarenta quilômetros de distância do local das aparições.
Por três vezes o sol girou e se precipitou sobre a Terra, e todos com medo pediam perdão para Deus. O milagre durou cerca de dez minutos. A partir desses acontecimentos, a devoção a Nossa Senhora do Rosário de Fátima aumentou, se difundiu para o mundo todo, e hoje, em seu Santuário, todos os peregrinos vão fazer seus pedidos, agradecimentos e orações.
São muitos os testemunhos de pessoas que em Fátima encontram o seu caminho espiritual para Deus, e tantos outros que experimentam várias graças do Senhor em suas vidas. Sou testemunha, pelas vezes que lá pude estar, desse clima de oração, penitência, conversão!
Quanto ao Segredo de Fátima, vale esclarecer: somente os três pastorinhos tiveram contato com Fátima em suas aparições. E com a morte prematura de seus primos Jacinta e Francisco, ficou somente com Lúcia o tão famoso Segredo de Fátima. As duas primeiras partes do segredo são conhecidas desde 1941 e constam de documentos oficiais da Igreja Católica. A primeira parte: Nossa Senhora fala dos castigos pelos nossos pecados. Nesta vida, aqui na Terra, haveria uma guerra horrível, precedida por uma luz desconhecida no meio da noite; haveria fome, perseguição religiosa, erros espalhados no mundo pela Rússia, e várias nações aniquiladas. A nós, pecadores, na outra vida, estariam reservados suplícios do inferno, dos quais os pastorinhos tiveram pavorosa visão.
A segunda parte do segredo revela os meios para evitar esses castigos: a devoção ao Imaculado Coração de Maria através da prática reparadora de rezar o terço, meditar nos mistérios do Rosário, confessar-se e receber a Sagrada Comunhão.
A última parte foi revelada em 2001. Fátima falou de um papa que sofreria um atentado. Os fatos parecem confirmar o mistério: em 1981, São João Paulo II foi baleado justamente num outro dia 13 de maio, dia da primeira aparição de Fátima.
No início deste mês tive oportunidade de presidir a grande celebração do “terço dos homens” em nosso Santuário Arquidiocesano Mariano, e vejo como hoje, de modo especial, o Senhor continua suscitando uma renovação em nós através da oração de contemplação, que é o Rosário. Neste tempo de perseguições aos católicos, recordemos como essa oração ajudou a Igreja a passar por essas provações.
Também recordo que no ano de 2013, tive a graça de presidir a Festa de Nossa Senhora de Fátima no seu Santuário, em Portugal. Ao recordar este momento especial, quero me unir a todos os devotos de Nossa Senhora de Fátima, de Portugal e do Brasil, pedindo-lhes que, com novo empenho pastoral, façamos diariamente a reza do Santo Rosário. A teologia católica nos ensina que é rezando o rosário que iremos a Jesus, por Maria. Não tenhamos vergonha de rezar esta oração vocal importantíssima. Que a Virgem Maria nos anine na ação pastoral!
Rezemos: Santíssima Virgem, que nos montes de Fátima vos dignastes revelar a três humildes pastorinhos os tesouros de graça contidos na prática de vosso Rosário, incuti profundamente em nossa alma o apreço em que devemos ter com essa devoção, para Vós tão querida, a fim de que, meditando os mistérios da Vossa Redenção que nela se comemora, nos aproveitemos de vossos preciosos frutos, e alcancemos a graça que vos pedimos nesta oração, se for para maior glória de Deus, honra vossa e proveito de nossas almas. Amém. Rainha do Santíssimo Rosário, rogai por nós!
Fonte: CNBB