quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Porta aberta: Laudato si - De 60 a 67

Cidade do Vaticano (RV) - 7. Diversidade de opiniões
60. Finalmente reconhecemos, a propósito da situação e das possíveis soluções, que se desenvolveram diferentes perspectivas e linhas de pensamento. Num dos extremos, alguns defendem a todo o custo o mito do progresso, afirmando que os problemas ecológicos resolver-se-ão simplesmente com novas aplicações técnicas, sem considerações éticas nem mudanças de fundo. No extremo oposto, outros pensam que o ser humano, com qualquer uma das suas intervenções, só pode ameaçar e comprometer o ecossistema mundial, pelo que convém reduzir a sua presença no planeta e impedir-lhe todo o tipo de intervenção. Entre estes extremos, a reflexão deveria identificar possíveis cenários futuros, porque não existe só um caminho de solução. Isto deixaria espaço para uma variedade de contribuições que poderiam entrar em diálogo a fim de se chegar a respostas abrangentes.
61. Sobre muitas questões concretas, a Igreja não tem motivo para propor uma palavra definitiva e entende que deve escutar e promover o debate honesto entre os cientistas, respeitando a diversidade de opiniões. Basta, porém, olhar a realidade com sinceridade, para ver que há uma grande deterioração da nossa casa comum. A esperança convida-nos a reconhecer que sempre há uma saída, sempre podemos mudar de rumo, sempre podemos fazer alguma coisa para resolver os problemas. Todavia parece notar-se sintomas dum ponto de ruptura, por causa da alta velocidade das mudanças e da degradação, que se manifestam tanto em catástrofes naturais regionais como em crises sociais ou mesmo financeiras, uma vez que os problemas do mundo não se podem analisar nem explicar de forma isolada. Há regiões que já se encontram particularmente em risco e, prescindindo de qualquer previsão catastrófica, o certo é que o actual sistema mundial é insustentável a partir de vários pontos de vista, porque deixamos de pensar nas finalidades da acção humana: «Se o olhar percorre as regiões do nosso planeta, apercebemo-nos depressa de que a humanidade frustrou a expectativa divina».[35]
CAPÍTULO II
O EVANGELHO DA CRIAÇÃO
62. Por que motivo incluir, neste documento dirigido a todas as pessoas de boa vontade, um capítulo referido às convicções de fé? Não ignoro que alguns, no campo da política e do pensamento, rejeitam decididamente a ideia de um Criador ou consideram-na irrelevante, chegando ao ponto de relegar para o reino do irracional a riqueza que as religiões possam oferecer para uma ecologia integral e o pleno desenvolvimento do género humano; outras vezes, supõe-se que elas constituam uma subcultura, que se deve simplesmente tolerar. Todavia a ciência e a religião, que fornecem diferentes abordagens da realidade, podem entrar num diálogo intenso e frutuoso para ambas.
1. A luz que a fé oferece
63. Se tivermos presente a complexidade da crise ecológica e as suas múltiplas causas, deveremos reconhecer que as soluções não podem vir duma única maneira de interpretar e transformar a realidade. É necessário recorrer também às diversas riquezas culturais dos povos, à arte e à poesia, à vida interior e à espiritualidade. Se quisermos, de verdade, construir uma ecologia que nos permita reparar tudo o que temos destruído, então nenhum ramo das ciências e nenhuma forma de sabedoria pode ser transcurada, nem sequer a sabedoria religiosa com a sua linguagem própria. Além disso, a Igreja Católica está aberta ao diálogo com o pensamento filosófico, o que lhe permite produzir várias sínteses entre fé e razão. No que diz respeito às questões sociais, pode-se constatar isto mesmo no desenvolvimento da doutrina social da Igreja, chamada a enriquecer-se cada vez mais a partir dos novos desafios.
64. Por outro lado, embora esta encíclica se abra a um diálogo com todos para, juntos, buscarmos caminhos de libertação, quero mostrar desde o início como as convicções da fé oferecem aos cristãos – e, em parte, também a outros crentes – motivações altas para cuidar da natureza e dos irmãos e irmãs mais frágeis. Se pelo simples facto de ser humanas, as pessoas se sentem movidas a cuidar do ambiente de que fazem parte, «os cristãos, em particular, advertem que a sua tarefa no seio da criação e os seus deveres em relação à natureza e ao Criador fazem parte da sua fé».[36] Por isso é bom, para a humanidade e para o mundo, que nós, crentes, conheçamos melhor os compromissos ecológicos que brotam das nossas convicções.
2. A sabedoria das narrações bíblicas
65. Sem repropor aqui toda a teologia da Criação, queremos saber o que nos dizem as grandes narrações bíblicas sobre a relação do ser humano com o mundo. Na primeira narração da obra criadora, no livro do Génesis, o plano de Deus inclui a criação da humanidade. Depois da criação do homem e da mulher, diz-se que «Deus, vendo a sua obra, considerou-a muito boa» (Gn 1, 31). A Bíblia ensina que cada ser humano é criado por amor, feito à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1, 26). Esta afirmação mostra-nos a imensa dignidade de cada pessoa humana, que «não é somente alguma coisa, mas alguém. É capaz de se conhecer, de se possuir e de livremente se dar e entrar em comunhão com outras pessoas».[37] São João Paulo II recordou que o amor muito especial que o Criador tem por cada ser humano «confere-lhe uma dignidade infinita».[38] Todos aqueles que estão empenhados na defesa da dignidade das pessoas podem encontrar, na fé cristã, as razões mais profundas para tal compromisso. Como é maravilhosa a certeza de que a vida de cada pessoa não se perde num caos desesperador, num mundo regido pelo puro acaso ou por ciclos que se repetem sem sentido! O Criador pode dizer a cada um de nós: «Antes de te haver formado no ventre materno, Eu já te conhecia» (Jr 1, 5). Fomos concebidos no coração de Deus e, por isso, «cada um de nós é o fruto de um pensamento de Deus. Cada um de nós é querido, cada um de nós é amado, cada um é necessário».[39]
66. As narrações da criação no livro do Génesis contêm, na sua linguagem simbólica e narrativa, ensinamentos profundos sobre a existência humana e a sua realidade histórica. Estas narrações sugerem que a existência humana se baseia sobre três relações fundamentais intimamente ligadas: as relações com Deus, com o próximo e com a terra. Segundo a Bíblia, estas três relações vitais romperam-se não só exteriormente, mas também dentro de nós. Esta ruptura é o pecado. A harmonia entre o Criador, a humanidade e toda a criação foi destruída por termos pretendido ocupar o lugar de Deus, recusando reconhecer-nos como criaturas limitadas. Este facto distorceu também a natureza do mandato de «dominar» a terra (cf. Gn 1, 28) e de a «cultivar e guardar» (cf. Gn 2, 15). Como resultado, a relação originariamente harmoniosa entre o ser humano e a natureza transformou-se num conflito (cf. Gn 3, 17-19). Por isso, é significativo que a harmonia vivida por São Francisco de Assis com todas as criaturas tenha sido interpretada como uma sanação daquela ruptura. Dizia São Boaventura que, através da reconciliação universal com todas as criaturas, Francisco voltara de alguma forma ao estado de inocência original.[40] Longe deste modelo, o pecado manifesta-se hoje, com toda a sua força de destruição, nas guerras, nas várias formas de violência e abuso, no abandono dos mais frágeis, nos ataques contra a natureza.
67. Não somos Deus. A terra existe antes de nós e foi-nos dada. Isto permite responder a uma acusação lançada contra o pensamento judaico-cristão: foi dito que a narração do Génesis, que convida a «dominar» a terra (cf. Gn 1, 28), favoreceria a exploração selvagem da natureza, apresentando uma imagem do ser humano como dominador e devastador. Mas esta não é uma interpretação correcta da Bíblia, como a entende a Igreja. Se é verdade que nós, cristãos, algumas vezes interpretámos de forma incorrecta as Escrituras, hoje devemos decididamente rejeitar que, do facto de ser criados à imagem de Deus e do mandato de dominar a terra, se deduza um domínio absoluto sobre as outras criaturas. É importante ler os textos bíblicos no seu contexto, com uma justa hermenêutica, e lembrar que nos convidam a «cultivar e guardar» o jardim do mundo (cf. Gn 2, 15). Enquanto «cultivar» quer dizer lavrar ou trabalhar um terreno, «guardar» significa proteger, cuidar, preservar, velar. Isto implica uma relação de reciprocidade responsável entre o ser humano e a natureza. Cada comunidade pode tomar da bondade da terra aquilo de que necessita para a sua sobrevivência, mas tem também o dever de a proteger e garantir a continuidade da sua fertilidade para as gerações futuras. Em última análise, «ao Senhor pertence a terra» (Sl 24/23, 1), a Ele pertence «a terra e tudo o que nela existe» (Dt 10, 14). Por isso, Deus proíbe-nos toda a pretensão de posse absoluta: «Nenhuma terra será vendida definitivamente, porque a terra pertence-Me, e vós sois apenas estrangeiros e meus hóspedes» (Lv 25, 23).
Fonte: Rádio Vaticano

"Só Eucaristia sacia fome de afeto, perdão e misericórdia"

Cidade do Vaticano (RV) – A partir de quinta-feira (12/11), até dia 15, realiza-se em Mumbai o Congresso Eucarístico indiano. O Cardeal Malcolm Ranjith, arcebispo de Colombo, no Sri Lanka, é o Enviado Especial do Papa. Estão participando ainda quatro cardeais indianos: Telesphore Toppo, Baselios Cleemis, George Alencherry e Oswald Gracias, além de 71 bispos e 665 delegados de toda a Índia. 
Os trabalhos serão abertos pelo Card. Toppo, arcebispo de Ranchi, que recordará o seu encontro com a beata Madre Teresa de Calcutá. Sexta-feira (13/11), dois sobreviventes das perseguições anticristãs de 2008 em Orissa darão o seu testemunho. 
O Papa Francisco participa do Congresso com uma mensagem em vídeo. 
Com o tema “Nutridos pela Eucaristia para nutrir os outros”, este Congresso é um dom de Deus não só para os cristãos da Índia, mas para toda a população deste país tão rico de diversidades culturais e espiritualidades”, diz o Papa.
“Os seres humanos de todo o mundo hoje precisam de nutrimento para saciar também fomes como a de amor, de imortalidade, de afeto, atenções, perdão e misericórdia, que podem ser satisfeitas somente com o Pão que vem do alto”, prossegue, explicando que a Eucaristia não se encerra com a comunhão do corpo e do sangue, mas nos conduz à solidariedade com os outros. 
“Quem é saciado e nutrido por Cristo não pode ficar indiferente quando vê seus irmãos e irmãs sofrerem na indigência e na fome. São chamados a levar a alegria do Evangelho àqueles que ainda não a receberam; e reforçados pelo Pão vivente, serem portadores de esperança àqueles que vivem nas trevas e no desespero”.
O Papa encerra a mensagem fazendo votos que o Congresso Eucarístico seja ocasião para a união de todos no amor. 
(CM)
Fonte: Rádio Vaticano

Papa: a peregrinação é experiência de misericórdia




Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco enviou uma mensagem, nesta terça-feira (10/11), aos participantes do 20º encontro comum das Pontifícias Academias sobre o tema “Ad limina Petri. Traços monumentais da peregrinação nos primeiros séculos do Cristianismo”.
O documento foi enviado ao Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, Cardeal Gianfranco Ravasi, Presidente do Conselho de Coordenação das Pontifícias Academias. 
“Dentre as iniciativas a fim de valorizar esse caminho comum, destaca certamente o Prêmio destinado anualmente a jovens estudiosos, artistas ou instituições que contribuíram, através de seus estudos ou obras, nos vários âmbitos disciplinares das Academias, na promoção do humanismo cristão e do desenvolvimento das ciências religiosas. A sua reflexão ajudará a aprofundar o sentido da peregrinação cristã”, frisa o Santo Padre na mensagem.
"A vida é uma peregrinação e o homem é um peregrino que caminha rumo ao objetivo desejado. Desde os primeiros séculos da era cristã os itinerários dos peregrinos, eclesiásticos e leigos, são bem documentados por várias fontes, dentre as quais os grafites deixados nos lugares de visita, nos túmulos dos mártires. Deles emerge a fé pura e generosa de quem se colocou a caminho, com coragem e muitos sacrifícios, para encontrar, ou melhor, tocar com as mãos, o testemunho da fé e suas memórias, a fim de obter entusiasmo renovado e força interior para viver profundamente e com coerência a própria fé”, destaca ainda Francisco.
"A peregrinação é também esperança de misericórdia, partilha e solidariedade com quem faz o mesmo caminho, como também de acolhimento e generosidade da parte de quem hospeda os peregrinos", disse ainda o pontífice. O Papa deseja que os peregrinos que virão a Roma por ocasião do Ano Santo da Misericórdia possam sentir a presença do Senhor como companheiro de viagem e experimentar a alegria do encontro com Ele. 
Durante o encontro o Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin, entregou os prêmios das Pontifícias Academias. Este ano, o Papa Francisco conferiu o prêmio à associação portuguesa Campo Arqueológico de Mértola, que tem como referência o professor Virgílio Lopes, pelas campanhas arqueológicas realizadas nos últimos anos, e a Matteo Braconi pela tese de doutorado sobre o tema “O mosaico da abside da Basílica de Santa Pudenziana em Roma. História, restaurações e interpretações” defendida na Università degli Studi Roma Tre.
Foi entregue a medalha do pontificado a Almudena Alba López, da Universidade de Salamanca, pela publicação Teología política y polémica antiarriana. (MJ)
Fonte: Rádio Vaticano

A igreja e o racismo

 Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney


Dia 20 de novembro próximo, comemora-se o dia nacional da consciência negra, cujo fim é o da superação do racismo, especialmente contra os de pele negra ou similar. 
Antropologicamente, a palavra “raça”, referindo-se a seres humanos, está superada, pois biologicamente significa “subespécie” e conota um preconceito contra certos grupos humanos, o que vem a ser “racismo”. Às vezes se usa o termo “raça” para identificar um grupo cultural ou étnico-linguístico, mas seriam preferíveis os termos “população”, “etnia” ou “cultura”.
A Igreja já se pronunciou diversas vezes contra o preconceito baseado na cor da pele ou na etnia, proclamando, firmada na divina Revelação, a dignidade de toda a pessoa criada à imagem de Deus, a unidade do gênero humano no plano do Criador e a reconciliação com Deus de toda a humanidade pela Redenção de Cristo, que destruiu o muro de ódio que separava os mundos contrapostos, para que em Cristo se recapitulassem todos os seres humanos. Com essas premissas, a Igreja prega o respeito recíproco dos grupos étnicos e das chamadas “raças” e a sua convivência fraterna. A mensagem de Cristo foi para todos os povos e nações, sem distinção nem preferências. É o tema repetido por São Paulo: “Não há distinção entre judeu e grego, porque todos têm um mesmo Senhor...” (Rm 10,12); “já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre..., pois todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gal 3, 28).
Infelizmente, com a descoberta e colonização do Novo Mundo, no século XVI, começaram a surgir abusos e ideologias racistas. Os Papas não tardaram a reagir. Assim, em 1537, na Bula Sublimis Deus, o Papa Paulo II denunciava os que consideravam os indígenas como seres inferiores e solenemente afirmava: “No desejo de remediar o mal que foi causado, nós decidimos e declaramos que os chamados Indígenas, bem como todas as populações com que no futuro a cristandade entrará em relação, não deverão ser privados da sua liberdade e dos seus bens – não obstante as alegações contrárias – ainda que eles não sejam cristãos, e que, ao contrário, deverão ser deixados em pleno gozo da sua liberdade e dos seus bens”. Mais tarde, o Papa Urbano VIII teve até de excomungar aqueles que detinham escravos indígenas. É claro que essas normas da Igreja nem sempre foram obedecidas, mesmo por muitos dos seus membros. Quando começou o tráfico de Negros, vendidos pelos próprios africanos como escravos e trazidos para as novas terras, os Papas e os teólogos pronunciaram-se contra essa prática abominável. O Papa Leão XIII condenou-a com vigor na sua encíclica In Plurimis, de maio de 1888, ao felicitar o Brasil por ter abolido a escravidão. E o Papa São João Paulo II não hesitou, no seu discurso aos intelectuais africanos, em Yaoundé, em 13 de agosto de 1985, em deplorar que pessoas pertencentes a nações cristãs tenham contribuído para esse tráfico de Negros.
E quando, fruto da ideologia racista do século XVIII e XIX (Nietzsche), surgiu na Alemanha o partido totalitário nacional-socialista, o Papa Pio XI, na encíclica Mit Brennender Sorge, condenou as doutrinas nazistas da superioridade da raça ariana sobre as demais.
 Fonte: CNBB

Aniversário do decreto Apostolicam Actuositatem

Dom Severino Clasen
Bispo de Caçador (SC)
Presidente da Comissão Episcopal de Pastoral para o Laicato



No dia 18 de novembro de 1965, o Papa Paulo VI, em pleno Concílio Vaticano II, assina o decreto Apostolicam Actuositatem, sobre o apostolado dos leigos). Já se passaram 50 anos e o decreto ainda é muito desconhecido tanto pela hierarquia quanto pelos próprios leigos. Cabe a nós divulgar e apresentar a sua riqueza e seu conteúdo evangelizador para os tempos atuais. Naturalmente muita coisa mudou, mas o seu conteúdo continua atual e vai além dos nossos tempos.
1. Natureza e conteúdo do Decreto
Importante destacar o testemunho dos leigos que tem sua identidade própria.  “O apostolado dos leigos, uma vez que dimana da sua própria vocação cristã, jamais pode deixar de existir na Igreja. A própria Sagrada Escritura demonstra abundantemente quão espontânea e fecunda foi tal atividade nos primórdios da Igreja” (cf. At 11,19-21; 18,26; Rm 16,1-16; Fl 4,3). Por isso, os leigos e leigas são sujeitos da missão na Igreja e na sociedade. “A Igreja nasceu para que, dilatando o Reino de Cristo por toda a terra para glória de Deus Pai, torne os homens participantes da redenção salvadora e por meio deles o mundo seja efetivamente ordenado para Cristo. Toda a atividade do corpo místico orientada para este fim chama-se apostolado, que a Igreja exerce, por meio de todos os seus membros, de maneira diversas; com efeito, a vocação cristã, por sua natureza, é também vocação ao apostolado” (n.2).
Existe apenas uma categoria de cristãos, mas serviços, e responsabilidades diferentes. “Pois, o dever e o direito do apostolado deriva da união destes com Cristo cabeça. Com efeito, inseridos no corpo místico de Cristo pelo batismo e robustecidos pela virtude do Espírito Santo na confirmação, os leigos são deputados pelo próprio Senhor para o apostolado. São consagrados como sacerdócio real e povo santo (cf.1Pd ,4-10), a fim de oferecerem, por meio de todas as obras, hóstia espirituais, e darem testemunho de Cristo em toda a parte. O apostolado é exercido na fé, na esperança e na caridade que o Espírito Santo difunde nos corações de todos os membros da Igreja”. (n.3). 
Através da espiritualidade no seguimento a Jesus Cristo, os leigos descobrem uma mística própria do seguimento e orientação para um vida digna, justa e fecunda na família, no mundo do trabalho e na sociedade.
2. Evangelizar para a santificação
O convite à santidade é dirigida a todos os batizados. Inúmeras possibilidades se abrem para que todos possam exercer o apostolado de evangelização e de santificação. O próprio testemunho de vida cristã e as boas obras feitas com espírito sobrenatural têm força para atrair os homens à Deus, pois disse Senhor: “Brilhe do mesmo modo a vossa luz diante dos homens, que vendo as vossas boas obras, eles glorifiquem o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16) (n.6). 
Nos habituamos em ser cristãos dentro dos templos enquanto no mundo nos escondemos como cristãos. Explica-se porque tanta corrupção e violência e a maioria em nosso continente ocidental por pessoas que foram introduzidos na doutrina cristã.
3. Campos e formas de Apostolado
O Papa Francisco vem insistindo numa igreja em saída. É preciso sair das estruturas e aventurar-se no meio do mundo. 
“Os leigos exercem o seu multíplice apostolado tanto na Igreja como no mundo. Numa e noutra destas ordens, se abrem vários campos de atuação apostólica. Queremos recordar aqui os principais. São os seguintes: as comunidades da Igreja, a família, os jovens, o ambiente social e a ordem nacional e internacional” (n.9). 
Enquanto a Igreja se estrutura e se organiza em suas várias pastorais, surgem também outras formas de apostolado mais numa dimensão interna. Enquanto o Apostolado, se expunha aos desafios, sendo sal e luz no mundo, há uma certa restrição em mostrar as caras para fermentar com o evangelho que exige presença, testemunho, anúncio e denúncia nos mecanismos da sociedade. 
Os avanços são percebidos quando a hierarquia dialoga, acolhe e incentiva que todos os batizados se tornando filhos da Igreja e portanto, vez e voz para viver e experimentar a alegria do evangelho. 
4. Formação
As novidades apresentadas sobretudo do mercado, cabe a Igreja como mãe, orientar seus filhos que vivem dentro desse mundo com suas alegrias e suas angústias.
“O apostolado só pode atingir plena eficácia com uma multiforme e integral formação exigida não só o contínuo progresso espiritual e doutrinal do próprio leigo mas até pelas várias circunstâncias de coisas, pessoas e tarefas, às quais se deve adaptar a sua atividade. Esta formação em ordem ao apostolado deve apoiar-se naqueles fundamentos, que noutros lugares foram afirmados e declarados pelo Concílio. Além da formação espiritual, requer-se uma sólida preparação doutrinal, nomeadamente teológica, ética, filosófica, segundo a diversidade de idade, condição e talento. De forma nenhuma se descure a importância também da cultura geral, unida à formação prática e técnica”. (n.28-29).
Fomentemos a esperança que, depois de 50 anos da promulgação desse decreto, saibamos todos que a missão continua. O desejo de conhecer Jesus Cristo e o seu Evangelho é tarefa apostólica própria dos batizados, resgatando a paz tanto desejada em todo o mundo.
Fonte: CNBB

Natal Missionário

Dom Pedro Carlos Cipollini
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Bispo de Santo André (SP)
Sempre que se aproxima o Natal refletimos sobre este evento de salvação, nos comovemos com a humildade do Filho de Deus no presépio. Deus amou tanto o mundo que enviou seu filho para salvá-lo (cf. Jo 3,16). Jesus nasce pobre, em meio aos pobres. Numa manjedoura foi colocado, junto aos animais. Fez-se humano, como homem tomou o último lugar, o lugar de servo.
Escapa-nos a maioria das vezes a consideração do natal no seu aspecto missionário. O que é este envio do Filho pelo Pai a não ser a missão original? Deus envia seu Filho e Ele vem neste grande “êxodo”, a saída do Pai para nós. Jesus é o missionário primordial. No natal nós contemplamos o “êxodo do Pai”; o “êxodo de si mesmo” e o “êxodo para o Pai” (cf. Fl 2, 6-11). Jesus vem do Pai, se torna homem, sai de si e se torna servo, mas volta ressuscitado para o Pai. E nesta volta quer levar-nos consigo para o Pai: na casa do Pai há muitas moradas e eu vos prepararei um lugar para vós, a fim de que onde eu esteja estejais também (cf. Jo 14,2).
É à luz deste tríplice êxodo que se quebra o círculo fechado da razão ideológica e o niilismo que tenta fechar-nos na prisão de um mundo sem Deus. Em Jesus se revela o Amor de Deus que, tendo nos amado, amou-nos até o fim (cf. Jo 13,1). Somente o amor liberta, porque no amor está a verdade. Assim no natal se coloca para a Igreja a questão da missão.
A Igreja, assim como Jesus Cristo, é missionária por sua própria natureza. “A Igreja peregrina é por sua natureza missionária. Pois ela se origina da missão do Filho e da missão do Espírito Santo, segundo o desígnio de Deus Pai” ( Vat. II - AA n.2).O papa Francisco não se cansa de exortar a Igreja para que seja uma Igreja Missionária, Igreja em saída: “Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar este chamado: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho” (Papa Francisco in EG n. 20).
Antes de celebrar o Natal a Igreja é convidada a viver o período do advento. Advento que se reveste de um caráter também penitencial, de escuta e reflexão. Convido nossa Igreja de Santo André a ouvir o que nos diz o espírito a respeito desta relação entre a Encarnação do Filho de Deus, o mistério de sua vinda missionária até nós e o chamado batismal para que sejamos missionários, disponíveis ao serviço do Reino de Deus onde a Igreja nos pede e envia.
Hoje é enorme o individualismo, os pequenos projetos pessoais, o apego a tantas coisas e lugares, a dificuldade de sair de si para ir ao encontro do novo. Às vezes o discurso é bonito e a pregação que nós cristãos fazemos é excelente, contanto, “que não mexa no meu mundo”. Às vezes, inconscientemente, achamos que todos devem mudar, menos eu e minha circunstância de vida. E aí devemos perguntar se há lugar para o projeto de Deus dentro de nossos projetos pessoais? Qual projeto vencerá? Esta é uma resposta crucial para se responder ao refletir em um natal missionário.
Maria e José deixaram o projeto de Deus vencer em suas vidas. Ao aceitar o menino Jesus, a vida deles não foi a mesma de antes. Eles tiveram que percorrer um caminho que nunca tinham imaginado percorrer. Caminho que somente se pode percorrer na fé. Eis aí a questão: ser Igreja missionária depende da fé adulta dos membros da Igreja. Fé capaz de desapego, de entrega, de gratuidade e despojamento para dizer o Sim que Jesus disse ao Pai; e que Maria e José disseram a Jesus. Nossa vida vai mudar certamente, mas se não convertemos, não entraremos no Reino de Deus. E a conversão passa pela conversão missionária, o sair de si para ir ao encontro do novo que Deus indica.
Bom e santo Natal a todos com minha benção em nome de Jesus!
Fonte: CNBB

Concílio Vaticano II: 50 anos depois

Cardeal Odilo Pedro Scherer

Arcebispo de São Paulo (SP)
No próximo dia 8 de dezembro, recordam-se os 50 anos da conclusão do Concílio Ecumênico Vaticano II, realizado entre outubro de 1962 e dezembro de 1965. Para marcar esse aniversário, o Papa Francisco vai abrir o Ano Santo da Misericórdia para tida a Igreja.
O Concílio foi o fato mais marcante da história da Igreja Católica no século XX. Os papas Pio XI e Pio XII, na primeira metade do século passado, já haviam cogitado na convocação de um Concílio mas as circunstâncias históricas, sobretudo as duas grandes guerras mundiais, não permitiram levar avante esse propósito. Foi São João XXIII que tomou a decisão de convocar um Concílio Ecumênico; e o fez à surpresa, sem prévios estudos ou consultas, no dia 25 de janeiro de 1959, explicando que se tratou de uma espécie de “intuição divina”, que lhe veio de modo espontâneo e forte, “como flor de inesperada primavera”.
O grande objetivo da convocação do Concílio foi a renovação da vida da Igreja mediante a revitalização da fé católica, a renovação dos costumes no meio do povo cristão e a adaptação da disciplina da Igreja às necessidades do tempo. Em seguida, também foi acrescentada a preocupação ecumênica, para a busca da unidade da Igreja. João XXIII desejava que, através do Concílio, a Igreja reencontrasse o seu rosto genuíno e os traços simples e puros das suas origens.
Não estavam em pauta alterações nos conteúdos da fé e da doutrina católicas, mas sim, mudanças pastorais e a busca de modos mais adaptados ao tempo e às circunstâncias para expressar e transmitir essa mesma doutrina. O exercício da missão da Igreja deveria ser caracterizado pelo diálogo e a misericórdia.
O Concílio Vaticano II foi realizado ao longo de 4 anos, com a participação da quase totalidade dos bispos católicos do mundo. Em 1963, ainda durante o primeiro ano do Concílio, João XXIII veio a falecer; seu sucessor, Paulo VI, conduziu os trabalhos conciliares até à sua conclusão, em 8 de dezembro de 1965. Ao todo, foram produzidos 16 preciosos Documentos; o primeiro fruto, porém, foi certamente o clima novo de interesse, entusiasmo e confiança despertado na Igreja e o entrosamento dos bispos entre si e com o Sucessor de Pedro. 
Cada Documento do Concílio produziu apreciáveis frutos, como a renovação bíblica na Igreja e uma nova impostação da vida da Igreja, onde ela aparece mais claramente como testemunha e servidora do Reino de Deus no mundo, como povo de Deus no qual os membros têm dons e carismas diversos, mas igual dignidade. A renovação litúrgica foi o efeito mais perceptível e imediato do Concílio e possibilitou a participação ativa e frutuosa do povo nas celebrações. Enormes também foram os esforços para formar o clero para os novos tempos da Igreja; também o rosto da Vida Consagrada foi profundamente transformado. Quantas mudanças no exercício concreto da missão pastoral da Igreja! Uma das novidades mais expressivas trazidas pelo Vaticano II refere-se à maior participação maior dos fieis leigos na vida e na missão da Igreja. A Constituição Pastoral Gaudium et Spes levou a uma relação nova da Igreja com o mundo, marcada pela postura do diálogo respeitoso, da colaboração e da presença solidária, no meio da comunidade humana, participando das “alegrias e esperanças, sofrimentos e angústias dos homens do nosso tempo”.
O Concílio também já suscitou frutos apreciáveis no caminho ecumênico nesses 50 anos, embora ainda reste tanto por fazer; da mesma forma, houve um significativo esforço no diálogo com as religiões não cristãs. Houve um desenvolvimento grande no ensino social da Igreja sobre as questões da paz no mundo, da justiça social e econômica, da dignidade humana e dos direitos da pessoa; esses ensinamentos foram condensados, sobretudo, nas encíclicas sociais dos Papas que presidiram a Igreja depois do Concílio. 
Fruto importante foi também o Sínodo dos Bispos, instituído por Paulo VI em 1965, pouco antes da conclusão do Concílio, para ser expressão da responsabilidade pela Igreja, compartilhada de todo o episcopado, junto com o Papa. Nas suas 14 assembleias ordinárias, 3 extraordinárias e numerosas assembleias regionais ou continentais, o Sínodo retomou e atualizou a reflexão sobre os grandes temas do Concílio. Assim fez também a recente assembleia do Sínodo, sobre as questões relacionadas com o casamento e a família. Os documentos pós-sinodais explicitam e atualizam constantemente as orientações do Concílio. 
Nesses 50 anos, o Concílio produziu uma grande transformação em toda a vida da Igreja: na liturgia, na teologia, na revisão geral das normas disciplinares da Igreja e na formação de seu clero. Os efeitos dessa renovação são mais perceptíveis nas dioceses e comunidades locais. A Conferências Episcopais já existentes foram fortalecidas; outras foram instituídas. O mesmo vale para os organismos continentais da Igreja, como o Conselho Episcopal Latino Americano (CELAM); este teve um papel relevante na implementação das reformas conciliares, através das 4 grandes Conferências Gerais dos bispos da América Latina e do Caribe: Medellín (1968), Puebla (1979), Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007).
Não houve ruptura entre a Igreja anterior ao Concílio e a posterior a ele; na sua essência, ela permaneceu a mesma, mas é inegável que ela se apresenta hoje com um rosto bem mudado e renovado. As árvores mudam de aspecto ao longo das estações do ano, sem perder sua identidade. Assim também acontece com a Igreja de Cristo: o Concílio suscitou um novo período de primavera e alguns frutos já amadureceram; outros ainda são esperados e vão aparecer, com o passar do tempo, contando com a ajuda de Deus e nosso cultivo perseverante.
Fonte: CNBB

Desabafo do Papa Francisco




   Mas também hoje, Jesus chora! Porque nós preferimos o caminho das guerras, o caminho do ódio, o caminho das inimizades. Estamos próximos ao Natal: teremos luzes, festas, árvores luminosas e presépio. Tudo falso: o mundo continua fazendo guerras. O mundo não entendeu o caminho da paz!

                                                                                                                  Papa Francisco.

O salmo dos carecas

Dom José Maria Maimone
Bispo de Umuarama (PR)


SALMO 39 (40)

Creio que esse título deixará muita gente curiosa. Decidi dar esse título ao salmo 39 por causa do versículo 13 que diz: “Meus pecados são mais numerosos do que os cabelos de minha cabeça e acabam me roubando a paz e a coragem”.
E eu fico imaginando a alegria dos carecas quando rezam estas palavras. Em contraposição, imagino o desespero dos que têm cabelos muito abundantes,
Sei que essa minha imaginação não tem nada de teológico, mas isso não impede a alegria de uns e sofrimento de outros.
Olhando de um modo mais sério este salmo exalta o amor infinito de Deus. Amor que se traduz em perdão. Por maiores que sejam nossos pedados, devemos adquirir a certeza de que o amor de Deus é muito maior do que eles.
O amor de Deus é maior que o amor de mãe, tão decantado. Já dizia outro salmo: “Ainda que meu pai e minha mãe me desamparem, sei que o Senhor sempre me acolherá” (Sl 26, 10).
De maneira semelhante este salmo repete a mesma verdade: “Sei que o Senhor nunca me abandonará. Ele me ama e sempre é bom para comigo” (39, 12).
Há outra coisa que chama muito a minha atenção. Sabemos que no Antigo Testamento é dado um enorme valor aos sacrifícios de animais para a remissão dos pecados. Os animais sacrificados, especialmente os cordeiros, são figuras de Jesus sacrificado pelos nossos pecados.
Este salmo (que também é AT) traz uma luz que só se torna clara no Novo Testamento: “O Senhor me fez entender que não lhe agradam os sacrifícios de animais e a oferta de cereais; jamais me pediu que queimasse animais em seu altar, para a remissão dos meus pecados” (39, 7).
Nesse trecho do NT, o autor sagrado nos ajuda a entender o versículo citado acima: “Pois o sangue de touros e carneiros não tem poder algum para tirar os pecados de alguém. É por isso que Cristo ao entrar no mundo diz ao Pai: ‘Não quiseste sacrifício nem oblação, mas me deste assumir um corpo. Não te foram agradáveis os holocaustos de animais queimados inteiros no altar, pelos pecados! E acrescentou estas palavras o livro sagrado: ‘Eis que venho, ó Deus, para fazer a tua vontade’. (Sl 39, 7-9)” (Hb 10, 4-7).
Concluo esta reflexão agradecendo a Deus que me ama muito e me dá a alegria de crer no seu amor e perdão.
Cito apenas o último versículo do salmo que coroa estes pensamentos: “Eu sou pobre e miserável, mas o Senhor pensa em mim com carinho. Por isso lhe digo: Vós sois o meu protetor e libertador. Ó Senhor, vinde logo em meu auxílio!” (39, 18).
Fonte: CNBB

Decreto sobre o apostolado dos leigos completa 50 anos

Apostolicam Actuositatem foi assinado em 1965 pelo papa Paulo VI
O decreto conciliar Apostolicam Actuositatem, do Concílio Vaticano II, completa, nesta quarta-feira, 50 anos. Assinado pelo papa Paulo VI, no dia 18 de novembro de 1965, o documento aborda a importância da vocação e da missão dos fiéis leigos e leigas na igreja e no mundo. "É um documento que fala das questões práticas do povo como cristãos e como cidadãos", explica o bispo de Caçador e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato, dom Severino Clasen. 
O decreto, que está disponível no site do Vaticano, contém a natureza, a índole e a variedade do laicato. Além disso, aponta princípios fundamentais e dá orientações pastorais. 
Para dom Severino, é importante que todos tenham acesso ao texto. Desse modo, pode-se começar a entender "a riqueza da Igreja em dar sustentabilidade à missão de todos os batizados, daqueles que são maioria absoluta, que constituem família, que têm seu emprego, sua vida profissional e que têm a mesma dignidade que aqueles que seguem a vida religiosa". 
Apostolicam Actuositatem deu origem ao Conselho Pontifício para os leigos, órgão do Vaticano que atua na promoção do laicato no mundo.
 Foto: CNLB regional Leste 2

Fonte: CNBB