quinta-feira, 9 de julho de 2015

Ser religioso(a) ou ser uma pessoa de fé: distinções

Dom José Antônio Peruzzo
Arcebispo de Curitiba (PR)

Impressiona o elevado grau de religiosidade disseminada por toda a parte. Desde os tempos do iluminismo se anunciava o fim da religião. Contudo, por mais que a genialidade humana seja pródiga em sua força inventiva, quando tudo estaria a sugerir que a família humana seria mais feliz e justa, ainda assim enumeram-se as contradições da história. Homens e mulheres, carentes e abastados, parecem sempre mais inquietos. Uns pela falta, outros pelo excesso. E Deus é sempre lembrado. Em muitos casos, infelizmente, até para legitimar a violência.

É muito comum confundir experiência religiosa com experiência de fé. Também se fazem verdadeiros hibridismos entre religião e espiritualidade. Embora sejam questões conexas, se faltar discernimento, prevalecerá muito mais a disputa entre religião e fé do que o encontro entre estas duas dimensões. A religião refere-se ao sagrado, ao inacessível, dotado de onipotência. A pessoa religiosa se expressa com ritos e cultos. Faz suas ofertas e apresenta seus pedidos. Em muitas situações envolve um grande fascínio. Tem forte componente emotivo. Também faz parte da experiência religiosa a adesão a um corpo doutrinal. Mas ainda não chega a ser uma vivência de encontro com um Deus amoroso. Neste sentido, até as nossas novenas, vez por outra, podem carecer de maiores discernimentos. Elas correm o risco de serem apenas exercícios de religiosidade, o que é ambíguo.
A experiência de fé tem fundas raízes na religião. Mas traz consigo alguns elementos diferenciadores. A fé pede atitudes de relação, de confiança, de obediência. Não se trata de relação submissa, nem confiança cega. Tampouco se pensa em obediência fanatizada. Na experiência de fé conta muito, decisivamente, a liberdade pessoal. Compreendamos o sentido de “obediência”. Vem do latim ob-audire. A primeira parte (ob) é prefixo que indica “diante de”, “por causa de”. Audire quer dizer ouvir. Daí o termo obediência.
Agora voltemos à fé. Homem ou mulher de fé não é aquele(a) que tem certezas intelectuais. Tampouco é fé aquela atitude psicológica parecida com pensamento positivo. Estas são virtudes humanas, mas que ainda não integram ou constroem relações de confiança. Tem fé quem se dispõe aderir e vincular sua liberdade em favor de alguém que confere sentido à vida presente e futura. Porque adere também ouve, também ora, também obedece (ob-audire). Claro, a fé tem uma dimensão religiosa porque comporta abrir-se à eternidade, ao infinito, ao onipotente. Mas mais do que aspectos de ritos, valem os vínculos de relação.
Agora podemos retomar a frase do evangelho. O mais sério problema dos discípulos não era o vento tempestuoso. Não era a ameaça das ondas. Era a sua pouca confiança. O mar agitado era poderoso. O vento forte era ameaçador. Aos discípulos parecia mais lógica a certeza vinda de um milagre expectado do que a confiança na força, na autoridade e na palavra que de Jesus tinham ouvido. Eles eram homens religiosos. Mas ainda não tinham fé. O vento e o mar se curvaram ante a voz de Jesus. Os discípulos, porém, se apavoraram.
Segue que para chegar a ser uma pessoa de fé o caminho a percorrer não é o das elaborações filosóficas. Não são os raciocínios complicados que me levam à obediência a Deus. Se se trata de relação e de confiança, então a disposição à oração é o passo primeiro. É por isso que encontramos no mesmo evangelho de Marcos uma sublime oração de súplica: “Senhor, vem em socorro à minha fé” (Mc 9,24).
 Fonte: CNBB

Em Quito, papa fala sobre os desafios da evangelização

Após reunir-se com os bispos do Equador, nesta terça-feira, 8 de julho, o papa Francisco presidiu missa dedicada à Evangelização dos Povos, no Parque Bicentenário, em Quito, capital do país.  A missa reuniu mais de um milhão e meio de fiéis e foi concelebrada por 40 bispos e 1200 sacerdotes. As vestes litúrgicas do papa, confeccionadas por artesãs da região equatoriana de Azuay e por Carmelitas Descalças, tinham os símbolos de um lírio, que representa Santa Mariana de Jesus, a primeira santa equatoriana, à qual o Equador é consagrado.
Na homilia, o papa Francisco falou da libertação das desigualdades sociais e do pecado, da necessidade de inclusão em todos os níveis  da evangelização como veículo de unidade de aspirações, sensibilidades e ilusões. “Evangelizar consiste em atrair os afastados com o nosso testemunho, em aproximar-se humildemente daqueles que se sentem longe de Deus na Igreja, aproximar-se daqueles que se sentem julgados e condenados a priori por aqueles que se sentem perfeitos e puros. Aproximar-nos daqueles que têm medo ou dos indiferentes, para lhes dizer: «O Senhor também te chama para seres parte do seu povo, e fá-lo com grande respeito e amor» (EG 113). Porque o nosso Deus nos respeita mesmo nas nossas baixezas e no nosso pecado”, explicou Francisco.
Leia, abaixo, a íntegra da homilia.

VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
 AO EQUADOR, BOLÍVIA E PARAGUAI 
(5-13 DE JULHO DE 2015)

SANTA MISSA PELA EVANGELIZAÇÃO DOS POVOS NO PARQUE DO BICENTENÁRIO
HOMILIA DO SANTO PADRE
Quito, Equador
Terça-feira, 7 de julho de 2015


A palavra de Deus convida-nos a viver a unidade, para que o mundo acredite.
Imagino aquele sussurro de Jesus na Última Ceia como um grito nesta Missa que celebramos no «Parque Bicentenário». Imaginemos juntos: o Bicentenário daquele Grito de Independência da Hispano-América. Foi um grito, nascido da consciência da falta de liberdade, de estar a ser espremidos, saqueados, «sujeitos às conveniências dos poderosos de turno» (EG 213).
Queria que hoje os dois gritos... queria que hoje os dois gritos coincidissem sob o belo desafio da evangelização. Não a partir de palavras altissonantes, nem com termos complicados, mas que nasça da «alegria do Evangelho», que «enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento», da consciência isolada (EG 1). Nós todos juntos, aqui reunidos à volta da mesa com Jesus, somos um grito, um clamor nascido da convicção de que a sua presença nos impele para a unidade, «indica um horizonte estupendo, oferece um banquete apetecível» (EG 14).
«Pai, que sejam um, para que o mundo creia»: assim o almejou, levantando os olhos ao céu. A Jesus brota-Lhe este pedido num contexto de envio: Como Tu me enviaste ao mundo, Eu também os enviei ao mundo. Naquele momento, o Senhor está a experimentar na sua própria carne o pior deste mundo que Ele, apesar de tudo, ama loucamente: intrigas, desconfianças, traição, mas não esconde a cabeça, não se lamenta. Também nós constatamos no dia-a-dia que vivemos num mundo dilacerado pelas guerras e a violência. Seria superficial pensar que a divisão e o ódio afetam apenas as tensões entre os países ou os grupos sociais. Na realidade, são manifestação daquele «generalizado individualismo» que nos separa e coloca uns contra os outros (cf.Evangelii gaudium, 99), são manifestação da ferida do pecado no coração das pessoas, cujas consequências fazem sofrer também a sociedade e a criação inteira. É precisamente a este mundo desafiador, com os seus egoísmos, que Jesus nos envia, e a nossa resposta não é fazer-nos de distraídos, argumentar que não temos meios ou que a realidade nos supera. A nossa resposta repete o clamor de Jesus e aceita a graça e a tarefa da unidade.
Àquele grito de liberdade, que prorrompeu há pouco mais de 200 anos, não lhe faltou nem convicção nem força, mas a história conta-nos que só se tornou contundente quando deixou de lado os personalismos, o afã de lideranças únicas, a falta de compreensão de outros processos libertadores com características diferentes, mas não por isso antagônicas.
Poderá a evangelização ser veículo de unidade de aspirações, sensibilidades, esperanças e até de certas utopias? É claro que sim; isso mesmo acreditamos e gritamos. «Enquanto no mundo, especialmente em alguns países, se reacendem várias formas de guerras e conflitos, nós, cristãos, queremos insistir na proposta de reconhecer o outro, de curar as feridas, de construir pontes, de estreitar laços e de nos ajudarmos a carregar as cargas uns dos outros» (EG 67). O anseio de unidade supõe a doce e reconfortante alegria de evangelizar, a convicção de que temos um bem imenso para comunicar e de que, comunicando-o, ganha raízes; e qualquer pessoa que tenha vivido esta experiência adquire maior sensibilidade face às necessidades dos outros (cf. EG9). Daí a necessidade de lutar pela inclusão em todos os níveis – lutar pela inclusão em todos os níveis! – evitando egoísmos, promovendo a comunicação e o diálogo, encorajando a colaboração. É preciso confiar o coração ao companheiro de estrada, sem medo nem difidência. «O abrir-se ao outro é algo de artesanal, porque a paz é artesanal» (EG 244); é impensável que brilhe a unidade, se a mundanidade espiritual nos faz estar em guerra entre nós, numa busca estéril de poder, prestígio, prazer ou segurança econômica. E isso à custa dos mais pobres, dos mais excluídos, dos mais indefesos, daqueles que não perdem a sua dignidade, mesmo tendo-a golpeada a cada dia.
Esta unidade já é uma ação missionária «para que o mundo creia». A evangelização não consiste em fazer proselitismo – o proselitismo é uma caricatura da evangelização -, mas evangelizar consiste em atrair os afastados com o nosso testemunho, em aproximar-se humildemente daqueles que se sentem longe de Deus na Igreja, aproximar-se daqueles que se sentem julgados e condenados a priori por aqueles que se sentem perfeitos e puros. Aproximar-nos daqueles que têm medo ou dos indiferentes, para lhes dizer: «O Senhor também te chama para seres parte do seu povo, e fá-lo com grande respeito e amor» (EG 113). Porque o nosso Deus nos respeita mesmo nas nossas baixezas e no nosso pecado. Com quanta humildade e com quanto respeito o texto do Apocalipse descreve esta chamada do Senhor: «Eis que estou à porta, e bato» Queres abrir? Jesus não força, não faz saltar a fechadura, simplesmente “toca a campainha”, bate suavemente e espera. Este é o nosso Deus!
A missão da Igreja, enquanto sacramento da salvação, condiz com a sua identidade de povo em caminho, com a vocação de incorporar na sua marcha todas as nações da terra. Quanto mais intensa for a comunhão entre nós, tanto mais sairá favorecida a missão (cf. João Paulo II, Pastores gregis, 22). Colocar a Igreja em estado de missão pede-nos para recriarmos a comunhão, pois já não se trata de uma ação voltada só para fora; fazemos missão também para dentro e missão para fora, manifestando-nos como se manifesta uma «mãe que vai ao encontro», como se manifesta «uma casa acolhedora, uma escola permanente de comunhão missionária» (Aparecida 370).
Este sonho de Jesus é possível, porque nos consagrou: «Totalmente Me consagro - diz - para que também eles sejam consagrados por meio da Verdade». A vida espiritual do evangelizador nasce desta verdade tão profunda, que não se confunde com uns poucos momentos religiosos que proporcionam algum alívio; uma espiritualidade talvez superficial. Jesus consagra-nos, para suscitar um encontro com Ele, de pessoa a pessoa, um encontro que alimenta o encontro com os outros, o compromisso no mundo e a paixão evangelizadora (cf. EG 78).
A intimidade de Deus, incompreensível para nós, é-nos revelada através de imagens que nos falam de comunhão, comunicação, doação, amor. Por isso a união, que Jesus pede, não é uniformidade, mas a «multiforme harmonia que atrai» (EG 117). A imensa riqueza da variedade, da multiplicidade que alcança a unidade todas as vezes que fazemos memória daquela Quinta-feira Santa, afasta-nos de tentações de propostas unionistas mais próximas de ditaduras, de ideologias ou de sectarismos. A proposta de Jesus é concreta, não é de ideia. É concreta: “- vai e faz o mesmo”, disse Jesus para aquele homem que lhe perguntara: - Quem é o teu próximo? Depois de ter contado a parábola do bom samaritano, Jesus disse: “- vai e faz o mesmo”.
A proposta de Jesus também não é um arranjo feito à nossa medida, no qual ditamos as condições, escolhemos alguns membros e excluímos os outros. Esta religiosidade de elite… Jesus reza para que façamos parte de uma grande família, na qual Deus é nosso Pai, todos nós somos irmãos. Ninguém é excluído e isto não se fundamenta no fato de ter os mesmos gostos, as mesmas preocupações, os mesmos talentos. Somos irmãos, porque Deus nos criou por amor e, por pura iniciativa d’Ele, nos destinou para sermos seus filhos (cf. Ef 1, 5). Somos irmãos, porque «Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: “Abbà! – Pai!”» (Gl 4, 6). Somos irmãos, porque, justificados pelo sangue de Cristo Jesus (cf. Rm 5, 9), passamos da morte à vida, fazendo-nos «co-herdeiros» da promessa (cf. Gl 3, 26-29; Rm 8, 17). Esta é a salvação que Deus realiza e a Igreja alegremente anuncia: fazer parte dum «nós» que chega até o «nós» divino.
O nosso grito, neste lugar que lembra aquele primeiro da liberdade, atualiza o grito de São Paulo: «Ai de mim, se eu não evangelizar!» (1 Cor 9, 16). É tão urgente e premente como o daqueles desejos de independência. Possui fascínio semelhante, possui o mesmo fogo que atrai. Irmãos, tende os mesmos sentimentos de Jesus: Sede um testemunho de comunhão fraterna que se torne resplandecente!
E que belo seria se todos pudessem admirar como nos preocupamos uns pelos outros; como mutuamente nos animamos e fazemos companhia. É o dom de si que estabelece a relação interpessoal; esta não se gera dando «coisas», mas dando-se a si mesmo. Em qualquer doação, é a própria pessoa que se oferece. «Dar-se» significa deixar atuar em si mesmo toda a força do amor que é o Espírito de Deus e, assim, dar lugar à sua força criadora. E dar-se mesmo nos momentos mais difíceis, como naquela Quinta-feira Santa de Jesus, quando Ele sabia como se teciam as traições e as intrigas, mas deu-se, deu-se a nós com o seu projeto de salvação. Dando-se, o homem volta a encontrar-se a si mesmo com a verdadeira identidade de filho de Deus, semelhante ao Pai e, como Ele, doador de vida, irmão de Jesus, de Quem dá testemunho. Isto é evangelizar, esta é a nossa revolução – porque a nossa fé é sempre revolucionária – este é o nosso grito mais profundo e constante.

Palavras improvisadas ao final da missa no Parque Bicentenário:
Queridos irmãos,
Agradeço-vos por esta concelebração, por ter-nos reunidos junto do Altar do Senhor, que nos pede que sejamos um, que sejamos verdadeiramente irmão, que a Igreja seja uma casa de irmãos. Que Deus vos abençoe e peço-vos que não vos esqueçais de rezar por mim.
Fonte: CNBB

Para uma sociedade mais justa, Francisco pede que todos sejam acolhidos e não haja exclusões

O papa Francisco visitou nesta terça-feira, 7, a Pontifícia Universidade Católica do Equador, de propriedade da arquidiocese de Quito e confiada aos Jesuítas desde sua criação, em 1946.
Francisco foi recebido no espaço para 5 mil pessoas com muitos buquês e pétalas de flores. Na ocasião, abençoou crianças e enfermos. O papa foi acolhido pelo reitor do Ateneu e saudado pelo bispo de Loja e presidente da Comissão para a Educação e Cultura da Conferência local, dom José Espinoza Mateus.
A oração de São Miguel Febres Cordero, educador equatoriano falecido em 1854, foi rezada após a entrega de dons. Em seguida, houve os testemunhos de uma estudante,  uma professora e do reitor da Universidade de Cuenca. Logo depois, Francisco proferiu seu quinto pronunciamento desta primeira etapa da viagem à América-latina.
Em seu discurso, o papa usou inúmeras citações de sua recente encíclica, Laudato si’. Segundo ele, as palavras “cultivar e cuidar andam de mãos dadas”.  “Somos convidados não somente a participar da obra criadora, cultivando-a, fazendo-a crescer, desenvolvendo-a, mas também a cuidá-la, protegê-la e guardá-la”, disse.
Para Francisco, a relação entre a vida humana e a vida da terra é uma relação que encerra uma possibilidade, tanto de abertura, transformação e vida, como de destruição de morte. “Não podemos nos desinteressar-nos de nossa realidade, dos nossos irmãos e da mãe terra. Não é lícito ignorar o que está acontecendo ao nosso redor, como se determinadas situações não existissem ou não estivessem ligadas à nossa realidade”, alertou.
A educação para a vida
O contexto universitário, segundo ele, é um bom lugar para interrogar a educação a respeito da terra. “Nossos centros educativos são uma sementeira, uma possibilidade, terra fértil que devemos cuidar, estimular e proteger”, indicou.
Francisco também questionou os educadores a respeito do desenvolvimento do espírito crítico dos alunos, para que sejam livres e cuidem do mundo. Além disso, ele perguntou como ajudar os jovens a não olhar um diploma universitário como uma posição, prestígio e dinheiro. “Não são sinônimos”, disse ele, sugerindo que os jovens sejam auxiliados a ver esta preparação como sinal de maior responsabilidade perante os problemas atuais, o cuidado com o mais pobre e o meio ambiente.
O papel fundamental e essencial das comunidades educativas na construção da cidadania e da cultura foi outro ponto destacado pelo papa. “Não basta realizar análises, descrições da realidade, é preciso gerar espaços verdadeiros de pesquisa, debates que sugiram alternativas para as problemáticas de hoje”, pontuou.
Diante da globalização do paradigma que tende a crer que toda aquisição de poder seja simplesmente progresso, aumento de segurança e utilidade, o pontífice citou a encíclica Laudato si’. “Nos é pedido, com urgência, que nos animemos a pensar, a debater sobre a nossa situação atual, sobre o tipo de cultura que queremos ou pretendemos não só para nós, mas também para os nossos filhos, para os nossos netos. Esta terra, recebemo-la como herança, como um dom, como um presente. Nos fará bem interrogarmo-nos: Como queremos deixá-la? Qual é a orientação, o sentido que queremos dar à existência? Com que finalidade passamos por este mundo? Para que lutamos e trabalhamos?”, indagou.
O papa lembrou que as iniciativas individuais são boas e fundamentais, mas é preciso "olhar a realidade organicamente e não de forma fragmentada,  fazer perguntas que envolvam a todos, uma vez que tudo está interligado”. 
Encontro com sociedade civil
Da Universidade, Francisco seguiu para um encontro com a sociedade civil na Igreja São Francisco, e lá recebeu das mãos do prefeito de Quito as chaves da cidade. Estiveram no encontro representantes da sociedade equatoriana nos campos da cultura, economia, esporte, empreendimento industrial e rural, além de representantes das populações indígenas amazônicas.
O arcebispo de Cuenza e presidente da Comissão para os Leigos da Conferência Episcopal do Equador, dom Cabrera Herrera, saudou e acolheu o papa, que falou sobre a chave da convivência cívica: a não exclusão. “Nas famílias, todos contribuem para o projeto comum, trabalham para o bem comum, mas sem anular o indivíduo. As alegrias e as penas de cada um são assumidas por todos. Isto é ser familiar. Oh se pudéssemos ver o adversário político, o vizinho de casa com os mesmos olhos com que vemos os filhos, esposas ou maridos, pais ou mães!”, exclamou.
Ao indicar que o amor tende sempre à comunicação e nunca ao isolamento, Francisco observou que a partir deste afeto, surgirão gestos simples que fortalecem os vínculos pessoais, que irão se traduzir em valores sociais fundamentais como a gratuidade, a solidariedade e a subsidiariedade. “A gratuidade não é complementar, mas requisito necessário da justiça. O que somos e temos foi-nos confiado para o colocarmos ao serviço dos outros; a nossa tarefa é fazer com que frutifique em boas obras. Os bens estão destinados a todos e, embora uma pessoa ostente o seu título de propriedade, sobre eles pesa uma hipoteca social”, explicou.
Continuando sua lição sobre a convivência e a busca de uma sociedade mais fraterna, o papa ressaltou que a fraternidade vivida na família dá origem à solidariedade na sociedade, que não consiste em apenas dar ao necessitado, mas se responsabilizar uns pelos outros. “Se virmos no outro um irmão, ninguém poderá ficar excluído. O respeito pelo outro que se aprende na família traduz-se na esfera social, em subsidiariedade. Assumir que a nossa opção não é necessariamente a única legítima é um sadio exercício de humildade”, revelou.
Segundo ele, a Igreja quer colaborar na busca do bem comum, com suas atividades sociais e educativas, promovendo os valores éticos e espirituais, levando raio de luz e esperança a todos, especialmente aos mais necessitados.
Com informações do News.va

Saudação a dom José Luiz Gomes de Vasconcelos

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulga mensagem de saudação a dom José Luiz Gomes de Vasconcelos, nomeado nesta quarta-feira, 8, pelo papa Francisco, como bispo da diocese de Sobral (CE). O texto é assinado pelo bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, que expressa gratidão pela dedicação de dom José Luiz à arquidiocese de Fortaleza, onde foi bispo auxiliar.  Leia, abaixo, a íntegra da mensagem:

 Saudação a dom José Luiz Gomes de Vasconcelos
 A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB saúda, nesta quarta-feira, 8 de julho, dom José Luiz Gomes de Vasconcelos, nomeado pelo papa Francisco como bispo da vacante diocese de Sobral – CE.
 A dom José Luiz expressamos nossa gratidão por sua dedicação à arquidiocese de Fortaleza, onde atuou como bispo auxiliar desde 2012. Ao mesmo tempo, desejamos que colha bons frutos na Igreja Particular de Sobral e que sua alegria consista em anunciar incansavelmente o Evangelho da Misericórdia do Senhor.
Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Sobral, alcance junto a Jesus as bênçãos necessárias para a diocese de Sobral e para seu novo bispo.
Fraternalmente,

  Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário-Geral da CNBB

Vovô e Vovó!

Dom Canísio Klaus
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

Entre outras datas importantes, o mês de julho nos reserva o Dia dos Avós. A data é comemorada em 26 de julho, quando a Igreja celebra São Joaquim e Santa Ana, os avós maternos de Jesus Cristo.

Para muitos de nós, homens e mulheres com mais de 40 anos de idade, as figuras do vovô e da vovó ficaram guardadas como símbolos de afeto e de ternura. Enquanto os pais se preocupavam em nos impor os justos limites, os avós nos mimaram com singelos regalos. Poucas vezes ouvimos deles palavras mais duras de repreensão ou desaprovação, apesar de não concordarem com muitas das coisas que nós fizemos.
As gerações mais novas já estão tendo outra relação com os avós. Muitas das crianças e jovens de hoje estão sendo educados pelos avós. Enquanto os pais trabalham ou se ocupam com outras coisas, os filhos ficam aos cuidados do vovô e da vovó. Isto é mais visível ainda quando as crianças são filhas ou filhos de mães solteiras ou pais separados. Neste caso, muitas vezes, cabe aos avós suprirem o papel da mamãe e do papai. E aí a relação dos netos com os avós se torna, praticamente, uma relação filial.
A relação entre filhos e pais ou netos e avós, costuma ser bastante tranqüila enquanto os avós (idosos) são auto-suficientes. As complicações costumam aparecer no momento em que eles necessitam de ajuda ordinária ou se tornam dependentes. Neste momento, os avós deixam de ser serviçais e se tornam “peso” para filhos e netos. E é aí que se mede, verdadeiramente, o amor filial ou o amor aos avós.
Em muitos casos, os filhos e netos se unem e passam a cuidar os idosos com carinho e afeto. Fazem isso de forma gratuita, ou na consciência de que “chegou a hora de retribuir aos pais e avós o muito que eles fizeram por nós”. Mas, existem também casos, e estes infelizmente, sempre mais numerosos, em que os idosos passam a ser relegados a um canto separado da casa ou abandonados em asilos. Enquanto os filhos e netos vivem despreocupadamente, os “velhos”, assim chamados, sofrem a solidão e o abandono. E, pior ainda, em alguns casos os filhos se apropriam dos proventos da aposentadoria dos pais para suprirem outros gastos.
Ciente destas situações, Francisco, desde o momento da sua eleição para Papa, vem alertando a sociedade sobre a importância de cuidar dos idosos. Ao desembarcar no aeroporto de Quito no domingo passado, afirmou mais uma vez o seu desejo de “levar a ternura e o carinho de Deus especialmente aos seus filhos mais abandonados”. Entre estes citou, em primeiro lugar, os idosos “que são vítimas da cultura do descarte”.
Façamos das comemorações do Dia dos Avós um tempo de graça para nos convertermos ao cuidado amoroso e filial dos tantos idosos que convivem conosco! Que o Bom Deus abençoe nossos vovôs e nossas vovós!
Fonte: CNBB

Respeito à Constituição

Dom Luiz Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)

O Estado de São Paulo dedica o dia 09 de julho, à memória da Revolução Constitucionalista de 1932. Sem dúvida, a data é importante. Em primeiro lugar para o Estado de São Paulo, que assim vincula sua história à Constituição, e consolida sua identidade pelo apreço à Lei Magna, que deve servir de referência indispensável para todos os cidadãos, e servir de baluarte do ordenamento jurídico da nação.
Sem Constituição não se forja uma nação. Nos momentos de crise se revela a importância do respeito irrestrito às normas constitucionais. Caso contrário se instaura a insegurança e se abre caminho para os ditames da irresponsabilidade. 
Não há dúvida que estamos vivendo um momento de crise. É então que a tentação de burlar a Constituição se infiltra sorrateiramente, assume aparências de zelo democrático, e veste a carapuça da legalidade para perpetrar seus intentos golpistas. É urgente denunciar a trama que está se orquestrando. Por revanchismo eleitoral, ou por motivos de vinganças pessoais, alega-se a necessidade de destituir a Presidente Dilma, eleita democraticamente nas últimas eleições.
Junto com a destituição da Presidente, salta aos olhos que o intento dos promotores desta manobra é eliminar uma proposta política, boicotando pela raiz sua implementação, desacreditando os que a propõem. Ora, se querem apresentar outra proposta política, que tomem o caminho da democracia, e busquem a adesão dos cidadãos nas próximas eleições, e não fiquem buscando atalhos golpistas.
E se querem se habilitar a receber a adesão eleitoral, que demonstrem responsabilidade diante da situação de crise que agora o país está vivendo, e se mostrem capazes de colaborar com sugestões que sejam pertinentes. Pois o que importa não é conquistar o poder, mas colocá-lo a serviço do bem comum, sejam quais forem os detentores atuais do poder.
Por outro lado, vale reiterar a advertência ao Poder Judiciário: é temerário divulgar depoimentos conseguidos por delação premiada, sem que tenham sido confrontados com as provas e com o legítimo direito de defesa, que deve ser garantido para todos os cidadãos. Pois divulgar o conteúdo da delação premiada sem antes passar pela necessária averiguação, é constituir os delatores em acusadores arbitrários, e os acusados em réus confessos e desprovidos dos meios de defesa.
O momento é grave, e exige responsabilidade de todos. O critério para a ação de cada um, não é certamente a disputa pelo poder, ou o uso do poder para conseguir vantagens pessoais. Mas sim o bem comum, que é balizado pela Constituição, que precisa ser respeitada por todos.
Fonte: CNBB

Encíclica: O homem tem parte na crise ecológica

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)

Durante algum tempo, os fenômenos que desencadeiam a crise ambiental foram vistos como naturais: tempestades magnéticas no sol, influências cósmicas ainda pouco identificadas, além da fumaça de vulcões e dos movimentos cíclicos do clima, que já produziram períodos de aquecimento e resfriamento do clima na história do nosso planeta Terra; já houve, antes de nós, longos períodos de glaciação e aquecimento, sem que o homem interferisse nisso.

A atual crise ambiental poderia ser atribuída igualmente a fenômenos fora do controle humano, ou sem a participação do homem? O maior conhecimento dos fenômenos da crise ecológica atual leva a uma conclusão incômoda: o homem ajudou a desencadear essa crise. E o papa Francisco, na encíclica – Laudato sì. Sobre o cuidado da casa comum – não tem medo de colocar o dedo na ferida e faz refletir.
O paradigma tecnocrático que domina a economia e o estilo de vida é causa importante dessa crise. A tecnologia representa um avanço impressionante do domínio do homem sobre a natureza e lhe permite realizar intervenções nunca imaginadas na natureza, para colocar tudo a seu próprio dispor e utilidade. E assim, o homem consegue melhorar a qualidade de sua vida de uma forma extraordinária. Nada mal, se tudo fosse feito na justa medida.
Mas a justa medida e os fins visados no emprego da tecnologia são, justamente o lado humano que pode interferir no equilíbrio da natureza. A tecnologia produziu máquinas de todo tipo, que demandam energia para funcionar e prestar o serviço desejado pelo homem; este passou a utilizar em demasia os recursos energéticos fósseis, como o carvão e o petróleo, que enchem a atmosfera de gazes de efeito estufa, com suas consequências conhecidas. A agricultura e a pecuária demandam grandes extensões de solos cultiváveis, para responder à demanda do mercado e a certa cultura alimentar, que poderia ser modificada. A destruição das florestas e a degradação ambiental são as consequências indesejadas, mas...
Seria hora de colocar um freio naquilo que vai sufocando e matando a natureza, o homem incluído. Mas quem vai fazê-lo? As máquinas, cada vez mais numerosas, não podem parar, pois trazem comodidades e lucros, aos quais o homem não quer renunciar. E tudo segue em frente, como se nada estivesse acontecendo de errado. O domínio da técnica vai aumentando; parece inevitável que tudo o que é possível tecnicamente, também seja realizado e seja considerado bom. Onde está o limite?
O desenvolvimento tecnológico é ambíguo: pode ser orientado para o bem e para o mal. E isso se verifica mais e mais em relação à natureza, onde ceras interferências humanas, possíveis pela técnica, acabam trazendo consequências funestas. Talvez, a humanidade ainda não se dá conta, de maneira suficiente, que faz mau uso do poder que alcançou com a técnica. Pior ainda, quando isso é claramente acompanhado por uma falsa ética utilitarista, que considera bom tudo o que for útil para o homem. Com essa lógica, o homem pode assemelhar-se às formigas, que cortam todos as folhas da planta que as nutre, até matar a própria planta, deixando-as sem alimento...
A crise ecológica traz à evidência uma outra crise, que envolve o próprio homem, com sua maneira de entender a vida os modelos de vida e de ação neste mundo. O antropocentrismo moderno acabou colocando a razão técnica acima da própria natureza. Nela, o homem já não reconhece mais uma norma referencial a ser respeitada, mas apenas um objeto e espaço de aplicação de seus próprios poderes e desejos. O homem se comporta como dono do mundo e déspota sobre a natureza.
Essa mentalidade e cultura tecnocrática e utilitarista precisa ser revista pois, a continuar assim, a vítima será o próprio homem. Não se agride a natureza, sem consequências. O papa Francisco trata dessa questão no capítulo III da sua encíclica. Parece-me a parte mais questionadora do Documento, que precisa ser lido e conhecido em profundidade.
Publicado em O Estado de São Paulo
Fonte: CNBB

Iniciação e perseverança

Dom José Gislon
Bispo Diocesano de Erexim (RS)

Estimados Diocesanos! A missão primeira da Igreja é evangelizar, levar a todos o Evangelho de Jesus Cristo, apresentando o senhor Jesus como o Messias anunciado, esperado e enviado pelo Pai na plenitude dos tempos.

Como discípulos e missionários do Senhor Jesus, não podemos nos acomodar, achando que tê-lo conhecido é o suficiente para alimentar a nossa vida de fé. Em cada tempo e em cada lugar, devemos ter a ousadia de viver a dimensão missionária da nossa fé anunciando Jesus Cristo às pessoas. O encontro com o mestre Jesus proporciona ao discípulo não só admiração, mas uma resposta, uma adesão a uma caminhada de fé que se alimenta do pão da Palavra e do pão da Eucaristia em comunidade.
A família e a comunidade foram os lugares que favoreceram ao longo da história o processo de iniciação à vida cristã e de transmissão de valores. Nos últimos anos, a família passou por um grande processo de transformação, perdendo em algumas realidades sua capacidade de ser o lugar ideal e privilegiado da iniciação cristã das crianças e dos jovens, onde o testemunho de fé dos pais contagiava os corações dos filhos.
A comunidade, lugar de celebração da fé, passou e continua passando por um grande processo de transformação social e religioso. No entanto, para manter sua identidade de comunidade cristã, as pessoas que dela fazem parte, devem continuamente colocar-se na escuta de Deus como discípulas, para poderem anunciar Jesus como missionárias pelo testemunho e pela palavra.
Temos muitos pais que se preocupam e procuram acompanhar todo o processo de iniciação cristã dos filhos, isto é bastante positivo, pois revela também um cuidado com a vida espiritual da própria família. Mas como Igreja, comunidade povo de Deus, não podemos nos acomodar, ficando apenas no processo de iniciação à vida cristã. É necessário desenvolvermos um processo de iniciação na vida cristã que conduza as crianças, adolescentes e jovens ao encontro pessoal com Jesus Cristo, não tendo presente só os sacramentos de iniciação, mas o cultivo permanente da amizade com Ele pela oração, pela participação na celebração litúrgica, na experiência comunitária e no compromisso apostólico.
Tende todos um bom domingo.
 Fonte: CNBB

Quem é o bispo? Qual sua função na Igreja?

Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo eleito de Santo André (SP)

Tendo sido eleito Bispo de Santo André-SP, em minhas orações e reflexões pensei sobre o ministério episcopal, colocando por escrito esta reflexão que está sendo oferecida ao povo da Diocese, (na forma popular de pergunta e resposta), neste período preparatório para a posse canônica, que se dará dia 26 de julho às 16h00 na Catedral Nossa Senhora do Carmo. Compartilho aqui este texto que talvez possa servir aos irmãos e irmãs que o lerem.

1. Como Deus manifesta seu amor por nós?
De dois modos Deus dá prova de seu amor: a) Criando e sustentando o mundo. b) Salvando o mundo através de seu Filho Jesus Cristo, que se encarnou, morreu na cruz e ressuscitou, e de junto do Pai enviou o Espírito Santo para formar a Igreja. Ela “é o Povo reunido na unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Vat. II - LG 4). Na Igreja as pessoas podem se encontrar com Cristo, e por meio dele tornarem-se irmãos e filhos do mesmo Pai. Na Igreja, pela fé batismal, se vive a comunhão libertadora do mal, do pecado e da morte.
2. Qual é a missão da Igreja?
A Igreja é missionária por natureza. Tem a missão de anunciar o Reino de Deus como fez Jesus que é a luz dos povos (Lc 2,32). Ele confiou à Igreja a missão, o poder e a obrigação de levar a luz do Evangelho a toda criatura (Mc 16,15). A Igreja cumpre sua missão através da pregação da Palavra, testemunho de fé, vivência da caridade e celebração dos santos mistérios (sacramentos). A Igreja não é uma sociedade qualquer, ela é humano-divina, brota do Mistério da Trindade. Por isso, não deve haver separação entre Cristo, Reino e Igreja. A Igreja é comunhão de vida na fé, esperança e amor fraterno. Advogada dos pobres e defensora da vida, porque defensora dos direitos de Deus criador: “A Igreja é coluna e sustentáculo da verdade” (1Tm 3,15).
3. Como podemos saber que Jesus Cristo é a cabeça do corpo que é a Igreja?
São Paulo deixou escrito sobre Jesus: “Ele é a cabeça do corpo que é a Igreja” (Col 1,18); “Deus colocou tudo debaixo dos pés de Cristo, e o constituiu acima de tudo como Cabeça da Igreja, que é seu corpo...” (Ef 1,22); Jesus ressuscitado envia de junto do Pai o Espírito Santo (cf. At 2,23) e “neste Espírito todos fomos batizados para formar um só corpo” (1Cor,12,13), por isso, “...embora muitos, somos um só corpo em Cristo” (1 Cor 12,12). Ninguém pode dizer que ama a cabeça (Cristo), sem amar o corpo (Igreja). “Cristo amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef 5,25).
4. Como está organizada a Igreja?
O Pai projeta a Igreja, Jesus a funda e é seu Senhor, o Espírito Santo a dirige. A Igreja Povo de Deus não é, porém, uma corrente de idéias, uma ONG, mas uma sociedade organizada a partir da fé. Organizada porque “Cristo é nossa paz!” (Ef 2,14), nosso Deus não é Deus de confusão. Na Igreja deve reinar a paz e o amor fraterno. Na Igreja existem vários carismas, ministérios, serviços, em vista do bem comum de todo o corpo da Igreja (1Cr 12, 4-11). Jesus instituiu os Apóstolos para governar a Igreja e lhes deu poder (cf. Mt 28,18). “Quem vos ouve a mim ouve, quem vos despreza, a mim despreza” (Lc 10,16). Os apóstolos, nos quais está fundada a Igreja, seguindo os passos de Cristo, pregaram a Palavra da Verdade e fundaram as comunidades, a Igreja. “É dever de seus sucessores perenizar esta obra” (Vat. II - AG 1).
5. O Bispo continua hoje a missão dos apóstolos?
O Concílio Vaticano II ensina que Jesus constituiu o governo de sua Igreja da seguinte maneira: os bispos como sucessores dos apóstolos, junto com o papa sucessor do apóstolo Pedro. Eles por mandato divino regem a Igreja que é a Casa de Deus. Jesus enviou os apóstolos assim como ele foi enviado (cf. Jo 20,21). Para que o episcopado fosse uno e indiviso, Jesus colocou S. Pedro como princípio da unidade de fé e comunhão na Igreja. O papa preside a Igreja na caridade e é cabeça do colégio dos bispos (cf. Mt 16,18). Os apóstolos portanto, deixaram sucessores e eles são os bispos. Na nossa Igreja Católica esta corrente é legítima e nunca se rompeu. A sucessão apostólica foi transmitida de forma contínua até nossos dias. Assim o principal ministério na Igreja é o dos bispos que conservam a semente do ministério apostólico (cf. CDC cân. 375). Desde o século II é doutrina admitida sem nenhuma dúvida que o bispo é legítimo sucessor dos apóstolos, princípio e fundamento visível da unidade em sua própria Igreja.
6. Qual o testemunho da Igreja dos primeiros tempos sobre o bispo?
A partir da Sagrada Escritura que fala do bispo (epíscopo em grego igual a supervisor – cf. 1Ti 1,7-9), Santo Irineu no ano 140 atesta que a fé dos apóstolos é guardada pelos bispos, instituídos pelos apóstolos e seus sucessores até nós (cf. Ad. Haer. III 2,2). São Cipriano de Cartago no ano 258, nos ensina: “A Igreja é povo unido e rebanho que adere a seu pastor. Em consequência, devemos compreender que o bispo está na Igreja e a Igreja está no bispo, e que se alguém não está com o bispo, não está com a Igreja” (Epistola 66,8.3). Vê-se assim que entre os fiéis dos primeiros séculos, a figura do bispo já tinha o destaque necessário que chegou até nossos dias. Nos bispos que recebem a plenitude do sacerdócio, nos presbíteros e diáconos, seus auxiliares, Jesus sinaliza que cumpre sua promessa de estar conosco, com a Igreja, até o fim dos tempos (cf. Mt 28,20).
7. Quais são os ofícios e tarefas dos bispos?
É o próprio Jesus Cristo que age na Igreja através de seus ministros. Para isso os bispos recebem a efusão dos dons do Espírito Santo, mediante a imposição das mãos (desde os tempos apostólicos) na ordenação episcopal (cf. At 1,8; Jo 20,22-23; 2Tm 1, 6-7). O bispo recebe a plenitude do sacramento da Ordem para ser ministro de Cristo e dispensador dos mistérios de Deus e garantia da unidade de sua Igreja (cf. 1Cor 4,1); dar testemunho do Evangelho pela pregação (cf. Rm 15,16), administrar a justiça e o Espírito (cf. 2Cor 3,8-9). A sagração episcopal confere ao bispo a tarefa de santificar, ensinar e governar a Igreja que lhe é confiada. O Concílio Vaticano II assim se expressa: “Os Bispos, pois com seus auxiliares, os presbíteros e diáconos, receberam o encargo de servir a comunidade, presidindo no lugar de Deus ao rebanho do qual são pastores, como mestres da doutrina, sacerdotes do culto sagrado e ministros do governo” (LG n. 20).
8. Como o bispo deve exercer sua tarefa de presidir a Igreja?
A palavra chave para entender a missão do bispo é o serviço. Jesus veio para servir: “Eu estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,27). “Mediante a imposição das mãos e as palavras da consagração é concedida a graça do Espírito Santo e impresso o caráter sagrado de tal modo que os bispos, de maneira eminente e visível, fazem as vezes do próprio Cristo, Mestre, Pastor e Pontífice e agem em seu nome” (Vat. II – LG n. 21). Ensinar: são mestres, pregoeiros e guardiões da fé que deve ser crida e praticada; vigilantes, devem afastar os erros que ameaçam o rebanho (2Tm 4,1-4). Santificar: o bispo santifica seu povo rezando por ele, presidindo os sacramentos mormente a Eucaristia e edificando a todos com o exemplo de sua vida. Governar: o bispo tem autoridade para dirigir, organizar, legislar e administrar o que se fizer necessário para edificar e favorecer o rebanho. Para isso ele tem poder próprio, ordinário e imediato visando sempre a utilidade dos fiéis e o bem da Igreja. Na perspectiva do Reino de Deus o maior é o que serve (cf. Mc 10,43).
9. Como deve ser o relacionamento dos fiéis com o bispo?
Na Igreja todos tem verdadeira dignidade a partir do batismo. O bispo, pastor do rebanho, não vê os fiéis numa condição de inferioridade ou passividade, mas como colaboradores, discípulos e missionários como todos os batizados devem ser. Assim, o carisma episcopal que comporta um verdadeiro poder conferido por Cristo, é um poder-serviço ao Povo de Deus. Os fiéis devem ver no bispo um pai: “Da mesma forma, sabem que tratamos cada um de vocês como um pai trata seus filhos” (1Tes 2,11). O bispo deve apascentar com cuidado, “não pela força mas de livre vontade como Deus o quer” (1Pd 5,2). A atitude dos fiéis em relação a seu bispo deve partir da fé em Jesus Cristo, o Supremo Pastor, de quem o Bispo faz as vezes e representa. Deve ser uma atitude de respeito, acatando a seus ensinamentos e colaborando com ele em tudo, para que o bispo possa cumprir fielmente sua missão de amar e servir, em nome de Jesus, o rebanho que lhe foi confiado. Os fiéis devem levar em conta que misteriosamente, é Cristo que escolhe o bispo, assim como livremente escolheu os apóstolos: “Não fostes vós que me escolhestes mas eu que vos escolhi” (Jo 15,16; cf. Mc 3,13).
10. Quais são os símbolos episcopais e seu uso na liturgia?
Torna-se necessário dizer uma palavra, sobre alguns símbolos recebidos pelo bispo no dia de sua ordenação episcopal e que lhe são próprios e expressam seu ofício. Símbolos de uso comum dos bispos, cujo significado muitas vezes, é desconhecido da maioria dos fiéis (cf. Dic. Litúrgico, R. Berger, Loyola, 2005).
Báculo: Bastão ou cajado, símbolo do poder-serviço e da missão de pastor. Tem uma extremidade curva para puxar as ovelhas mais perto, impedindo que se dispersem, e a outra extremidade reta ou pontuda para defender dos lobos. É usado somente nas funções litúrgicas.
Mitra: símbolo da santidade e poder espiritual. Com suas duas pontas voltadas para o alto indica a pertença a Deus. Com suas duas partes separadas e duas ínfulas (fitas que caem para traz), é símbolo da Antiga e Nova Aliança. Simboliza também o capacete usado para defender a fé. É usada somente nas funções litúrgicas.
Anel: É sinal de união e fidelidade eternas. Sinaliza o dever do bispo, de ser guardião da aliança de amor entre Cristo esposo, e sua esposa a Igreja (Diocese a ele confiada), mantendo-a fiel na unidade e amor. É usado sempre pelo bispo.
Cruz peitoral: A cruz é símbolo universal da mediação e do mediador (Jesus) como duas ligações de pontos opostos. A partir da ressurreição, a cruz se torna sinal da vitória sobre a morte, e da vida nova em Cristo, a qual o bispo, sucessor dos apóstolos, deve anunciar. Usada sempre pelo bispo.
Solidéu: barrete em forma de calota de cor roxa que substitui a tonsura (corte de cabelo de forma redonda) a qual simboliza a total consagração da vida a Deus. É uma peça não só litúrgica litúrgica do vestuário episcopal, pode ser usada fora das celebrações.
Cátedra: Cadeira ou cátedra episcopal em lugar fixo e destacado no presbitério da igreja Catedral (que se chama assim porque tem a cátedra episcopal, por isso também é a igreja mãe da Diocese). A cátedra significa o ofício do bispo de presidir e governar sua Igreja, a Diocese.
Lema: Divisa, norma ou sentença curta que resume um ideal a ser atingido. Geralmente os bispos escolhem um versículo da Sagrada Escritura para iluminar todo o seu ministério. O lema de Dpm Pedro é: In nomine Iesu - Em nome de Jesus (Cl 3,17)
Brasão: Figura heráldica que compõem o distintivo de famílias, cidades, corporações ou indivíduos. Nela aparecem elementos, cores e ornatos como símbolos significativos, os quais no conjunto, compõem um programa de vida. É um logotipo ou logomarca.
 Fonte: CNBB

Papa nomeia bispo para Sobral

O papa Francisco nomeou nesta quarta-feira, 8 de julho, dom José Luiz Gomes de Vasconcelos como bispo da vacante diocese de Sobral (CE). Dom José Luiz foi transferido da sede titular de “Canapio” e do ofício de auxiliar da arquidiocese de Fortaleza.
Dom José Luiz é natural de Garanhuns (PE). Estudou Filosofia e Teologia na Faculdade Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo (SP). Como aluno do Pontifício Colégio Pio Brasileiro, em Roma, obteve diploma de mestrado em Teologia Patrística e História da Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
Foi ordenado presbítero em dezembro de 1989. e nomeado bispo em junho de 2012. Recebeu a ordenação episcopal em junho do mesmo ano.
Quando padre, foi reitor do Seminário Maior de Caruaru, em Pernambuco, e presidente do da Organização dos Seminários e Institutos Filosófico-Teológicos do Brasil (OSIB) do regional Nordeste 2.
Fonte: CNBB