quinta-feira, 9 de abril de 2015

Eu vos dou a minha paz!

Dom Francisco Biasin
Bispo de Barra do Piraí-Volta Redonda (RJ)

O símbolo cristão da Páscoa, talvez o mais antigo, pois se encontra já nas catacumbas romanas, é a pomba com um ramo de oliveira! É também o símbolo universal da paz!
Ao se mostrar aos apóstolos na noite da Páscoa, Jesus os saudou com as Palavras: “A paz esteja convosco!” (Jo 20,19) Nós cristãos consideramos a paz fruto da sua entrega ao Pai por nós de forma plena e incondicional. Contra toda a lógica de poder, de vingança e de ódio, Jesus trouxe a paz porque preferiu deixar-se esmagar pelas forças do mal do que conceder uma brecha, por menor que fosse, ao espírito do mundo de seu tempo, alicerçado na dominação violenta do Império Romano e na exploração dos seres humanos mais fracos, até torná-los escravos. Por isso ele diz: “Eu vos dou a minha paz, não é à maneira do mundo que eu a dou!” (Jo 14,27)
Os impérios se sucederam na história, a humanidade superou a vergonha da escravidão, chegamos até a promulgar a Declaração universal dos direitos humanos, contudo a paz ainda está longe de reinar no mundo em que hoje vivemos! Novas formas de exploração e de escravidão se infiltraram nas sociedades modernas e pós-modernas (baste pensar no tráfico humano!) e a violência desgraça a vida de tantas pessoas e famílias.
No Brasil os fatos são alarmantes e as estatísticas estarrecedoras: no nosso país morrem mais pessoas atingidas por armas de fogo do que numa guerra no oriente médio. Há quem chegue a afirmar que aqui estamos vivendo uma velada ou disfarçada guerra civil.
"A violência apresenta-se das mais variadas formas: física, psicológica, institucional, sexual, de gênero, doméstica, simbólica, entre outras. Superar as várias faces da violência é uma tarefa de todos. Exige o compromisso de cada cristão e cristã no enfrentamento das múltiplas formas de ofensa à dignidade humana que se naturalizam escandalosamente na nossa sociedade.” (nota emitida na 86a Reunião Ordinária do Conselho Permanente Brasília - DF, 10 a 12 de março de 2015).
Por isso nós bispos do Brasil, convocamos todos os fiéis para um Ano da Paz! Com esta proposta, a Igreja no Brasil quer ajudar na superação da violência e despertar para a convivência mais respeitosa e fraterna entre as pessoas, pois a consciência de muitos está narcotizada ou paralisada, tornando-os incapazes de reagir, enquanto outros, entrando na lógica da violência, se defendem comprando e usando armas, acrescentando violência à violência. Por absurdo poderíamos dizer que para apagar o fogo, usam tanques de gasolina!
Não há momento melhor do que o tempo pascal para construir e vivenciar relações de paz. Gostaria então de apontar algumas atitudes a serem tomadas para que o propósito de viver a paz passe das boas intenções para atos concretos:
  • comece em casa: com gestos de compreensão, acolhimento e perdão, superando a rotina e vendo as pessoas que vivem com você com um olhar renovado e purificado: elas são um dom de Deus para você!
  • comece na sua comunidade eclesial: tenha atitudes de perdão, acolhimento e fraternidade. Acabe com atitudes de superioridade em relação aos outros, deixe espaço para outros assumirem os trabalhos junto com você. Afinal quem é membro da sua comunidade é seu irmão e sua irmã em Cristo Jesus.
  • comece na sua vizinhança: cumprimente e conheça os vizinhos, participe de encontros no seu condomínio ou no seu bairro e se torne presente em festinhas de confraternização. Não se deixe dominar por preconceitos, fique desarmado diante de quem você encontra e não julgue ninguém! Cada pessoa é vocacionada à paz!
  • não caia na lógica perversa da violência, evitando de usar palavras duras e ofensivas, de revidar às ofensas com ofensas ou de pagar com a mesma moeda, mas "vença o mal pelo bem!”(Rom 12,21)
  • use as armas da paz: a oração, o perdão, o sorriso aberto, a saudação fraterna, o aperto de mão, o abraço, a proximidade e a sensibilidade com quem sofre.
Assim podemos todos transmitir aquela paz que Cristo nos conquistou a caro preço, melhor ainda a transmitir a quem encontramos, sem rótulo, nem símbolos exteriores, o próprio Cristo que é a nossa paz! (cfr. Ef 2.14)
Feliz e Santa Páscoa!       
Fonte: CNBB                                                                                                

Dom Helder e a CNBB

Dom Luiz Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)

Nas proximidades de mais uma assembleia da CNBB, foi divulgada nestes dias uma notícia que promete muitos desdobramentos. Trata-se do processo de beatificação de Dom Helder. Ele abre caminho para invocar Dom Helder como santo brasileiro, a quem poderemos confiar tantas causas importantes de nosso país, pelas quais ele lutou em sua vida.

Antes que ninguém, a CNBB poderá se habilitar a ter Dom Helder como seu padroeiro. Sua figura já se encontra no salão de reuniões na sede da CNBB em Brasília.  Ninguém mais que Dom Helder soube encarnar as causas da CNBB.
A história se encarrega de comprovar a estreita ligação que existiu entre Dom Helder e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Foi ele que teve a iniciativa, e levou em frente a ideia de constituir uma entidade que congregasse, oficialmente, os Bispos da Igreja Católica no Brasil.
Era no começo dos anos 50. Dom Helder tinha a viva experiência de como era importante a articulação dos leigos do Brasil, através da Ação Católica. A partir desta constatação, projetou sua hipótese, que ele passou a sonhar com crescente determinação. Se os leigos podiam se articular, muito mais os bispos poderiam multiplicar sua atuação, se contassem com uma entidade que lhes desse respaldo jurídico e permitisse uma estratégia de ação.
Quando ainda não era Bispo, Dom Helder foi a Roma, onde esperava confiar sua utopia para alguém que ajudasse a fazê-la acontecer.
Providencialmente, encontrou a pessoa certa. Conheceu o Monsenhor Montini, o futuro Papa Paulo VI. Ambos foram falar com Pio XII, e de imediato perceberam o incentivo que o Papa lhes dava.
Daí nasceu a decisão de se criar a CNBB. Com desenvoltura e lucidez, elaboraram o estatuto provisório, que foi dando forma à nova entidade, que passou cedo a ser reconhecida pelo povo, através de sua sigla, que logo foi adquirindo notoriedade.
De tal modo que, já em 1952, dez anos antes do início do Concílio, os Bispos do Brasil já tinham sua entidade representativa, que permitia agirem de modo mais eficaz e articulado. 
A CNBB mostrou sua validade, especialmente durante o Concílio, quando sua experiência de articulação ajudou muito o desenrolar do próprio Concílio. Ela guardará sempre a marca de Dom Helder. Foi ele que a imaginou, e foi ele que a conduziu durante muitos anos como Secretário Geral.
Agora, a abertura do processo de beatificação vem ratificar a importância da CNBB, que vai aprimorando sua atuação, assimilando a experiência dos anos.
Vincular Dom Helder com a CNBB é cultivar nossa consciência histórica, sempre tão importante para discernir os novos apelos que a realidade nos apresenta.
Junto com Dom Helder poderíamos colocar uma plêiade de outros Bispos, beneméritos por sua atuação e seu testemunho de vida. Um deles devemos citar quando falamos de Dom Helder. É Dom Luciano. Ele também já está em vias de ser beatificado, sendo sua causa assumida pela Arquidiocese de Mariana. Entre os dois, a Providência colocou caprichosamente suas pegadas. Tanto Dom Helder, como Dom Luciano, morreram no dia 27 de agosto. Dom Helder em 1999. Dom Luciano em 2006.
Para concluir hoje esta breve evocação de Dom Helder, convém lembrar outro grande bispo latino americano, que finalmente será beatificado no próximo mês de maio. É Dom Oscar Romero, bispo de El Salvador. Ele foi morto quando celebrava a eucaristia, no dia 24 de março de 1980.
Bem vindas as beatificações que nos permitem recuperar a memória de nossa caminhada.  É uma honra e um compromisso, incluir em nossa história a lembrança de pessoas tão marcadas pela graça de Deus.          
Dom Romero, Dom Helder, Dom Luciano, e tantos outros, rogai por nós!
Fonte: CNBB

Misericórdia Divina

Dom Canísio Klaus
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

No segundo domingo da Páscoa, conhecido também como “Domingo Branco”, muitas pessoas recordam o dia da sua Primeira Comunhão, ou da sua Comunhão Solene. Isso porque, em anos idos, era neste dia que se celebrava, preferencialmente, a primeira comunhão das crianças. Era uma bonita forma ligar a Eucaristia à Páscoa, completando, desta forma a alegria pela ressurreição de Jesus.

Também no segundo domingo da Páscoa a Igreja celebra a Misericórdia Divina, convidando-nos a nos aproximarmos de Deus sem medo de sermos menosprezados ou rejeitados. É um ensino bastante diferente daquilo que muitos de nós aprendemos na infância, quando éramos alertados a ter medo de Deus porque Ele nos iria castigar pelos pecados cometidos. Aliás, ainda hoje é comum escutar a afirmação de que “Deus não mata, mas castiga”.
A motivação para colocar o segundo domingo da Páscoa como o Domingo da Divina Misericórdia, encontra amparo na consciência de que “foi na ressurreição que o Filho de Deus experimentou de modo radical a misericórdia do Pai, que é mais forte do que a morte” (João Paulo II, Carta Encíclica Dives in Misericordia). Depois de ter passado pela dor do abandono e pela morte na cruz, “Cristo revelou o Deus do amor misericordioso, precisamente porque aceitou a Cruz como caminho para a ressurreição”. A experiência que o próprio Cristo fez da misericórdia do Pai, levou-o a nos ensinar que Deus é Pai de Misericórdia, que vai ao encontro do filho que o havia abandonado cobrindo-o de beijos, conforme nos ensina a parábola do Pai de Misericórdia, também conhecida como Parábola do Filho Pródigo (Lc 15,11-32).
Enquanto nos debruçamos sobre a misericórdia divina, somos também desafiados a fazermos da misericórdia uma das nossas virtudes cotidianas.  João Paulo II dizia que “a mentalidade contemporânea tende a tirar do coração humano a idéia da misericórdia”. Em seu lugar, prefere a palavra “justiça”, que muitas vezes é usada como sinônimo de “vingança”. É o que se percebe em algumas manifestações populares onde a racionalidade cede lugar ao ódio.
João Paulo II prega que “o amor se transforma em misericórdia quando vai além da norma exata da justiça; norma precisa e, muitas vezes, por demais restrita”. É o que Jesus propõe ao dizer que são “felizes os misericordiosos” porque também eles “encontrarão misericórdia” (Mt 5,7).
Faço votos que nos abramos à misericórdia de Deus e acolhamos o dom da paz que nos é almejado pelo Ressuscitado. Ao mesmo tempo convido a nos empenharmos a também sermos misericordiosos e promotores da paz.
Fonte: CNBB

Domingo da Divina Misericórdia

Por: Dom Orani 

 João Tempesta

São João Paulo II, em 30 de abril do ano 2000, instituiu a Festa da Divina Misericórdia para toda a Igreja, decretando que a partir de então o segundo Domingo da Páscoa passasse a se chamar Domingo da Divina Misericórdia, tal como foi inspirado à Santa Faustina: “Eu desejo que haja a Festa da Misericórdia. Quero que essa Imagem, que pintarás com o pincel, seja benzida solenemente no primeiro domingo depois da Páscoa, e esse domingo deve ser a Festa da Misericórdia” (Diário, 49; cf. 88; 280; 299b; 458; 742; 1048; 1517).

Entre os anos 1931-1938, Santa Faustina foi inspirada para introduzir esta festa. Ela foi uma freira polonesa que recebeu a mensagem de misericórdia para toda a humanidade, introduzindo algumas novas formas devocionais que pretendem auxiliar e impulsionar o cristão a se aproximar, com confiança, mais e mais do mistério da Divina Misericórdia – o terço, a novena, a hora santa, a imagem da Divina Misericórdia, e uma nova celebração litúrgica: a Festa da Divina Misericórdia.
Neste ano, na véspera da Solenidade da Festa do Domingo da Misericórdia, o Papa Francisco vai divulgar a Bula de convocação para a Igreja celebrar o Ano Santo da Misericórdia, colocando as várias possibilidades possíveis para vivermos este tempo de graça.
O fundamento da mensagem da Divina Misericórdia é a confiança. Somos como vasos de misericórdia, e o quanto de misericórdia estes vasos irão armazenar e distribuir para os outros depende da nossa confiança. E a confiança requer conversão do nosso coração e de nossa alma para entendermos a Misericórdia de Deus, para sermos misericordiosos com os outros e para deixarmos Deus dirigir nossa vida.
Em Provérbios 3,5 está escrito: "Tem confiança no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes na tua prudência”. Confiar em Deus é fácil quando as coisas vão bem, contudo, em tempos de provação, sofrimento, dúvida, fraqueza e ansiedade começamos a imaginar "onde está Deus"? "Ele realmente existe?" Se rezamos e acreditamos que estamos fazendo a Sua vontade, então nós devemos pedir por força e firmeza na fé.
A confiança é a chave para se viver a mensagem da Divina Misericórdia. Quando nossa fé for testada em tempos de provação e sofrimento, reflitamos no que diz o Diário de Santa Faustina: "Quanto mais a alma confiar, tanto mais receberá" (Diário da Santa Faustina, 1577).
Em Mateus 11, 28-30 está preconizado: "Vinde a mim todos os que estais fatigados e carregados, e eu os aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas, porque o meu jugo é suave, e o meu peso é leve".
Estas provações na vida nos dão oportunidades de rever nossa fé e frequentemente nos forçam a questionar nossa relação com Deus. Santa Faustina escreveu: "Deus às vezes permite coisas estranhas, mas isso acontece sempre para que se manifeste na alma a virtude" (Diário, 166). O sofrimento tem sempre um propósito, assim como ensinou o Apóstolo São Paulo: “Porque o que presentemente é para nós uma tribulação momentânea e ligeira produz em nós um peso eterno de uma sublime e incomparável glória, não atendendo nós às coisas que se veem, mas sim às que se não veem" (2Cor 4, 17-18).
Neste Domingo da Divina Misericórdia somos chamados a renovar a nossa fé, como o apóstolo São Tomé. Esta fé, no entanto, não é uma fé genérica. Devemos crer na misericórdia que se manifesta no Mistério Pascal: paixão, morte e ressurreição. Santa Faustina escreve que os demônios sabem de outros atributos de Deus, mas a misericórdia é uma característica na qual eles não conseguem crer.
Dessa necessidade de atualizar o anúncio da misericórdia de Deus é que vem a instituição da festa da Divina Misericórdia. Nela, os pecadores devem se aproximar com confiança do Coração Misericordioso que nos lava de nossos pecados (raio de luz branca – água) e nos imerge no amor de Deus (raio de luz vermelha – sangue). Esses sinais nos recordam o lado aberto de Jesus que jorrou sangue e água quando perfurado pela lança no alto da cruz. E também é o anúncio do nascimento da Igreja e o símbolo dos sacramentoas do Batismo e da Eucaristia.
São João Paulo II, seguindo as inspirações de Santa Faustina, não somente instituiu a festa, mas concedeu indulgência plenária aos fiéis neste Domingo: “Concede-se a Indulgência Plenária nas habituais condições (Confissão sacramental, Comunhão Eucarística e orações segundo a intenção do Sumo Pontífice) ao fiel que no segundo Domingo de Páscoa, ou seja, da "Misericórdia Divina", em qualquer igreja ou oratório, com o espírito desapegado completamente da afeição a qualquer pecado, também venial, participe nas práticas de piedade em honra da Divina Misericórdia, ou pelo menos recite, na presença do Santíssimo Sacramento da Eucaristia, publicamente exposto ou guardado no Tabernáculo, o Pai-Nosso e o Credo, juntamente com uma invocação piedosa ao Senhor Jesus Misericordioso. (Por ex.: "Ó Jesus Misericordioso, confio em Ti")”. (Decreto da Penitenciaria Apostólica).
Que esta Festa nos ajude a nos prepararmos para a abertura do Ano Santo Extraordinário sobre a Misericórdia, a ser inaugurado em 08 de dezembro do corrente ano. O Papa Francisco chama sempre a atenção a vivermos a misericórdia divina. Não só em palavras, mas em ações concretas. O Jubileu da Misericórdia procura ressaltar ainda a importância e a continuidade do Concílio Vaticano II, concluído há exatos 50 anos. A misericórdia é um dos temas mais importantes no pontificado do Papa Francisco, que, já como bispo escolheu como lema próprio “miserando atque eligendo”, que pode traduzir-se como: “Olhou-o com misericórdia e o escolheu”, ou “Amando-o, Ele o escolheu”.
Fonte: CNBB