terça-feira, 9 de setembro de 2014

23º Semana Comum - Terça- feira -09 de Setembro- Liturgia Diária

Invoquemos a presença do Espírito Santo para ler e refletir a liturgia de hoje:

Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra. 

Oremos:

Deus que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre da sua consolação. Por Cristo, Senhor nosso. Amém.



Oração
Pai, transforma-me em apóstolo de teu Filho Jesus para que, movido pelo Espírito, eu possa ser sinal da presença dele neste mundo tão carente de salvação.
Primeira leitura: 1Cor 6,1-11
Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios
Irmãos, 1quando um de vós tem uma questão com um outro, como se atreve a entrar na justiça perante os injustos, em vez de recorrer aos santos? 2Será que ignorais que os santos julgarão o mundo? Ora, se o mundo está sujeito a vosso julgamento, seríeis acaso indignos de deliberar e julgar sobre questões tão insignificantes?
3Ignorais que julgaremos os anjos? Quanto mais, coisas desta vida! 4No entanto, se tendes dessas questões a resolver, recorrereis a juízes que a Igreja não pode recomendar. 5Digo isso, para confusão vossa! Será, então, que aí entre vós não se encontra ninguém sensato e prudente que possa ser juiz entre irmãos? 6Ao invés disso, irmão contra irmão vai a juízo, e isso perante infiéis! 7Aliás, já é uma grande falta haver processos entre vós.
8Por que não suportais, antes, a injustiça? Por que não tolerais, antes, ser prejudicados? Pelo contrário, vós é que cometeis injustiças e fraudes, e isso contra irmãos! 9Porventura ignorais que pessoas injustas não terão parte no reino de Deus? Não vos iludais: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem efemina­dos, nem pederastas, 10nem ladrões, nem avarentos, nem beberrões, nem insolentes, nem salteadores terão parte no reino de Deus.
11E vós, isto é, alguns de vós, éreis isso! Mas fostes lavados, fostes santificados, fostes justificados pelo nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus. 
. - Palavra do Senhor.
- Graças a Deus.
Salmos: Sl 149
          — O Senhor ama seu povo de verdade.
— O Senhor ama seu povo de verdade.

— Cantai ao Senhor Deus um canto novo, e o seu louvor na assembléia dos fiéis! Alegre-se Israel em quem o fez, e Sião se rejubile no seu Rei!

— Com danças glorifiquem o seu nome, toquem harpa e tambor em sua honra! Porque, de fato, o Senhor ama seu povo e coroa com vitória os seus humildes.

— Exultem os infiéis por sua glória, e cantando se levantem de seus leitos, com louvores do Senhor em sua boca. Eis a glória para todos os seus santos
 
 
Evangelho: Lc 6,12-19
         - O Senhor esteja convosco.
          - Ele está no meio de nós.
          - Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo São Lucas.
          - Glória a vós, Senhor.

        12Naqueles dias, Jesus foi à montanha para rezar. E passou a noite toda em oração a Deus. 13Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de apóstolos:14Simão, a quem impôs o nome de Pedro, e seu irmão André; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; 15Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelota; 16Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, aquele que se tornou traidor.
17Jesus desceu da montanha com eles e parou num lugar plano. Ali estavam muitos dos seus discípulos e grande multidão de gente de toda a Judéia e de Jerusalém, do litoral de Tiro e Sidônia. 18Vieram para ouvir Jesus e ser curados de suas doenças. E aqueles que estavam atormentados por espíritos maus também foram curados. 19A multidão toda procurava tocar em Jesus, porque uma força saía dele, e curava a todos.


- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
 
Comentário do Evangelho
Fruto da eleição divina.
É o terceiro relato do chamado dos discípulos. O primeiro relato de vocação dos discípulos se dá junto ao Mar da Galileia (5,1-11); o segundo é o chamado de Levi, o publicano (5,27-28). Isso mostra que o grupo dos Doze, como o círculo maior dos discípulos, foi se constituindo aos poucos e não de uma única vez. A montanha é o lugar da revelação de Deus e de seus desígnios. A informação de que Jesus passou a noite em oração sobre a montanha e, depois, escolheu dentre os discípulos Doze, revela que eles são fruto da eleição divina. Na lista com o nome dos Doze, ao de Judas é acrescentada a observação de que ele se tornou o traidor. Observe-se que, não obstante o querer de Deus, a liberdade do ser humano e a sua ambição podem levá-lo a agir contra a vontade de Deus e o seu plano de amor. O nosso relato distingue entre o grupo dos discípulos e os Doze. Que sejam doze os apóstolos escolhidos por Jesus significa que eles são símbolo de todo o Israel (cf. Lc 22,28-30). O auditório amplo presente, judeus e pagãos, sinaliza para a universalidade da missão da Igreja.
 
Leitura Orante

Oração Inicial

Preparo-me para a Leitura, rezando:
Jesus Mestre, que dissestes:
"Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome,
eu aí estarei no meio deles",
ficai conosco,
aqui reunidos (pela grande rede da internet),
para melhor meditar
e comungar com a vossa Palavra.
Sois o Mestre e a Verdade:
iluminai-nos, para que melhor compreendamos
as Sagradas Escrituras.
Sois o Guia e o Caminho:
fazei-nos dóceis ao vosso seguimento.
Sois a Vida:
transformai nosso coração em terra boa,
onde a Palavra de Deus produza frutos
abundantes de santidade e missão.
(Bv. Alberione)

1- Leitura (Verdade)

O que diz o texto do dia?
Leio atentamente, na minha Bíblia, o texto: Lc 6,12-19 e observo pessoas e as atitudes de Jesus.
Lucas registra a oração de Jesus durante toda a noite. Afasta-se da multidão e dos opositores hostis, subindo à montanha para a oração. De manhã, chama seus discípulos escolhendo entre eles doze a quem chamou apóstolos. Jesus não chamou para seu grupo os mais preparados do seu tempo, mas, os mais disponíveis. Chamou simples pescadores – Pedro, André, Tiago, João. Chamou o cobrador de impostos. Chamou gente simples. Não significa que discriminou. Apenas, significa que o coração mais simples está livre de muitas preocupações e têm espaço para acolher. E os chamados receberam a missão de enviados – “apóstolos” - para anunciar o Reino, expulsar os espíritos maus e curar todas as doenças, uma missão de libertar as pessoas de todos os males.

2- Meditação (Caminho)

O que o texto diz para mim, hoje?
O meu Projeto de vida é o do Mestre Jesus Cristo? Pelo Batismo recebi a missão de discípulo e de missionário de Jesus. Os bispos da América Latina disseram em Aparecida: “Para não cair na armadilha de nos fechar em nós mesmos, devemos nos formar como discípulos missionários sem fronteiras, dispostos a ir “à outra margem”, àquela na qual Cristo não é ainda reconhecido como Deus e Senhor, e a Igreja não está presente”. (DAp 376). Cristo me chama também pelo nome. Como é a minha disponibilidade?

3- Oração (Vida)

O que o texto me leva a dizer a Deus?
Jesus Mestre, disseste que a vida eterna consiste
em conhecer a ti e ao Pai.
Derrama sobre nós, a abundância
do Espírito Santo!
Que ele nos ilumine, guie e nos fortaleça no teu seguimento,
porque és o único caminho para o Pai.
Faze-nos crescer no teu amor,
para que sejamos, como o apóstolo Paulo
testemunhas vivas do teu Evangelho.
Com Maria,
Mãe Mestra e Rainha dos Apóstolos,
guardaremos tua Palavra,
meditando-a no coração.
Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, tem piedade de nós.
(Bem-aventurado Alberione)

4- Contemplação (Vida e Missão)

Qual meu novo olhar a partir da Palavra?
Vou olhar o mundo e a vida com os olhos de Deus. Vou demonstrar pela vida que caminho com Jesus Mestre para anunciar onde vivo, trabalho, estudo; por onde passo deixo os sinais da proposta de Jesus Cristo.

Bênção

- Deus nos abençoe e nos guarde. Amém.
- Ele nos mostre a sua face e se compadeça de nós. Amém.
- Volte para nós o seu olhar e nos dê a sua paz. Amém.
- Abençoe-nos Deus misericordioso, Pai e Filho e Espírito Santo. Amém.
Fonte: Catequese Católica

Com apoio de instituições de mais de vinte países foi criada a Federação Europeia em Defesa da Vida e da Dignidade Humana

MADRI, 09 Set. 14 / 11:07 am (ACI/EWTN Noticias).- Cidadãos de 28 países da União Europeia, integrantes de 25 organizações defensoras da vida e da dignidade humana, constituíram a Federação Europeia em Defesa da Vida e da Dignidade Humana “One of Us”.
Entre as instituições que somam esforços pela recém-nascida Federação, figuram a espanhola Derecho a vivir e a plataforma internacional CitizenGO.
Segundo um comunicado publicado no site oficial da coalizão no dia 6 de setembro, este é um “passo adiante” que pôde ser dado “graças ao caminho que percorreram juntos cidadãos dos 28 países da União Europeia que levaram adiante a iniciativa popular Europeia mais bem-sucedida de todas as apresentadas perante este organismo e que duplicou o número de assinaturas exigidas pela Comissão Europeia”.
Essa iniciativa legislativa popular, chamada também “One of Us”, “pedia o respeito à vida humana em todos os âmbitos nos quais à União Europeia tem competências e que não se empregasse recursos públicos para atividades que a destruíssem ou atacassem sua dignidade”.
“O titânico esforço não serve só para tirar adiante o laborioso processo, mas foi o ponto de partida para uma Federação que quer assumir os urgentes desafios que a Europa possui no âmbito da defesa da vida humana e de sua dignidade”.
A Federação não tem afiliação política ou confessional, precisaram os seus idealizadores, assinalando ainda que seus objetivos, sem fins de lucro, incluem “o reconhecimento incondicional da dignidade inerente e inalienável de todo ser humano como fonte de todas as liberdades e direitos humanos”.
Seu segundo objetivo, assinalaram, é o de procurar “o desenvolvimento de uma Cultura da Vida na Europa, através da promoção do apoio a atividades que impliquem a proteção da vida humana, particularmente em seus estágios mais vulneráveis de desenvolvimento (concepção e gestação, infância, maternidade, enfermidade, velhice e a etapa final da vida)”.
Fonte: Acidigital

Revista católica italiana nega ter qualificado o conflito no Iraque como uma guerra religiosa

Roma, 08 Set. 14 / 04:54 pm (ACI/EWTN Noticias).- O Pe. Antonio Spadaro, diretor da revista Civiltá Cattolica, rechaçou que o enfrentamento contra o Estado Islâmico (ISIS) no Iraque e Síria seja uma “guerra religiosa”, tal como assinalou o vaticanista Sandro Magister em seu blog “Settimo Cielo” no dia 4 de setembro aludindo ao último editorial da revista católica italiana.
O artigo do Magister se intitula “É guerra de religião. Assim o diz a ‘Civiltà Cattolica’”. Entretanto, no dia seguinte a revista rechaçou através de sua conta do Twitter que se tratasse de uma guerra de religião. “O analista entende mal e tomou ao reverso nossa nota. Negamos que para nós isto seja uma guerra de religião. Sim o é na visão do ISIS”, assinalou.
“Em nossa opinião é o contrário: Não é guerra de religião!”, rebateu a Civiltà.
Em 5 de setembro, em declarações ao grupo ACI, o Pe. Spadaro disse: “Acredito que não preciso escrever outras declarações. Eu já o fiz. As declarações são o próprio artigo, que diz que o ISIS pensa que está em uma ‘guerra de religião’, mas devemos estar alertas contra essa maneira de pensar”.
Do mesmo modo, a conta do Twitter da Civiltá Cattolica publicou um link para um artigo do site Barbadillo.it, intitulado “A Polêmica. Guerra de religião no Iraque? Civiltá Cattolica: ‘Não cair na tentação de fazê-la”, indicando que a revista não assume que o conflito seja de fundo religioso.
Barbadillo cita parte do editorial onde se afirma que “os analistas militares dão fé que a atual solução armada não é eficaz. Limitar-se a este meio pode permitir (ao ISIS), que siga ganhando território e cometendo maiores atrocidades”.
“É crucial estudar e compreender por que e como é a guerra do ISIS. A sua é uma guerra de religião e de aniquilação…Instrumentaliza o poder da religião e não vice-versa”. Nesse sentido, acrescenta o site, o califado islâmico é um projeto político, embora com bases teocráticas”.
Por sua parte, Sandro Magister disse ao grupo ACI que “os eufemismos não ajudam a esclarecer as coisas. De fato, neste caso eles as afastam da realidade. Para que uma guerra seja definida ‘religiosa´, basta que um dos opositores a considere como tal e a combata desde esta perspectiva”.
“É o que faz a Civiltà Cattolica a propósito da guerra liderada pelo ISIS. Justamente a revista cita, mostrando seu acordo com o editorial de Ernesto Galli della Loggia no ‘Corriere della Sera’ que começa assim: ‘Primeira pergunta: Como se pode fazer a guerra contra um agressor que invoca constantemente a Deus e sua afiliação religiosa sem indevidamente dar um caráter igualmente religioso a qualquer resposta militar? Em outras palavras, é realmente necessário, com tal de falar de uma guerra religiosa que ambos os adversários a proclamem assim ou será que basta que um só deles o faça? Se alguém me matar porque sou xiita, cristão, hebreu ou um ‘infiel’ e busco me defender devolvendo o golpe, o que é isto se não uma guerra religiosa?”, assinalou Magister.
Fonte: Acidigital

A Exegese Patrística até o século IV

Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)
Introdução
Uma análise da exegese nos padres da Igreja até o século IV faz-se necessária para os tempos modernos uma vez que essa não dispunha dos métodos que hoje a leitura dos textos coloca, pois a visão total da Sagrada Escritura nem sempre estava presente aos olhos dos autores cristãos. Nesses primeiros séculos a posse de uma inteira Bíblia como nos tempos atuais era possível para pouquíssimas pessoas. Os exegetas recorriam nas bibliotecas à ajuda da memória e o uso das testemunhas as quais faziam coletas de passos da Sagrada Escritura, reagrupados por categorias temáticas.
No século II delineavam-se alguns problemas para os padres, exegetas pastores entre os quais este: Que coisa serve o AT, do momento que a lei foi suprimida? Entre as soluções extremistas desta pergunta encontramos aquela dos gnósticos (o AT é obra do Deus criador), de Marcião (o AT é obra do Deus justo), dos maniqueus (o AT é um livro mau). Diversos padres da Igreja apresentaram soluções diante dos grupos acima citados: por exemplo, Justino apostou muito sobre o esquema promessa-cumprimento no sentido de que Cristo cumpriu as promessas do AT. Dessa forma o Verbo, que criou o mundo, falou de si mesmo no AT. Tertuliano, Orígenes e Ireneu de Lião colocarão a necessidade da leitura do AT sempre em referência ao NT. Para esses autores, com o termo Sagradas Escrituras se entendia somente o AT, do qual se tirava toda a instrução, submetendo o texto a interpretações alegóricas, literais e tipológicas numa leitura sempre em ligação ao Novo Testamento também considerado Sagrada Escritura.
1. Justino
Foi um dos primeiros a dar normas de interpretação bíblica. Na obra: Diálogo com Trifão, Justino apresenta um debate entre um cristão e um hebreu. Os seus métodos de leitura do AT são completamente diversos; o êxito do Diálogo é de igualdade pois, cada um permanece sobre as próprias posições.
Justino afirma uma nova lei que vem da pessoa de Jesus Cristo, o Verbo encarnado. Toda a profecia compreende um sinal(fatos, palavras) e um sentido que é sempre Jesus Cristo. O profeta por excelência é o Verbo de Deus, predizendo aquilo que aconteceria com a sua encarnação, com a qual a Palavra tornou-se sinal completo.

2. Tertuliano
Tertuliano formulou uma a exegese bíblica cumpridora de um valor essencial no âmbito do cristianismo ocidental. Ele coloca alguns critérios de interpretação:
- A Escritura com a Escritura: esse era um critério típico das obras gramaticais da antigüidade do qual era também válido para Tertuliano; - Qualquer trecho bíblico deve estar em sintonia com os outros trechos.
A interpretação exegética de Tertuliano é literária(De Resurrectione Carnis), um tratado no qual o autor africano polemiza as interpretações alegóricas dos gnósticos a respeito da ressurreição da carne porque estes a negavam. Tertuliano vê a ressurreição como uma verdade fé, que consistirá na reconstituição da carne humana, transformada conforme a nova realidade, espiritual, sobrenatural. Para Tertuliano Adão é figura de Cristo(cf. 1Cor 15,45).
3. Ireneu de Lião
Este autor também deu normas para a interpretação da Sagrada Escritura. No Livro: Contra os Gnósticos, Ireneu demonstra que tem um só Deus, autor seja do AT que do NT, isto é o Verbo de Deus. "Estas são as verdades fundamentais anunciadas pelo Evangelho: um só Deus criador deste universo, que foi anunciado pelos profetas que deu a economia da lei por meio de Moisés, que é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, fora do qual não conhece outro Deus ou outro Pai" (III, 11,7).
Ireneu determina também como Tertuliano, algumas regras para interpretação bíblica: - Uma frase se interpreta no seu contexto; - ela deve ser interpretada no sentido da regula fidei, a regra da fé, transmitida pela tradição. O centro da sua teologia bíblica é a recapitulação de tudo em Cristo sendo que a interpretação da Sagrada Escritura não é exercício acadêmico, antes ela é uma preparação ao martírio.
4. As duas escolas exegéticas: a Alexandrina e a Antioquena
A nossa análise patrística levam em conta as exegeses praticadas em duas escolas as quais determinaram o pensamento exegético nos séculos posteriores.
Em primeiro lugar analisemos a exegese alexandrina. Nós encontramos como autor importante Orígenes. Ele fez da hermenêutica bíblica uma verdadeira ciência e condicionou toda a exegese sucessiva bem como os seus adversários. Ele é o mestre da alegoria. Ele não se limita a considerar a Escritura como livro divinamente inspirado do Espírito Santo, mas enquanto palavra divina a identifica com Cristo, isto é o Logos. A Sagrada Escritura é a permanente encarnação do Verbo de Deus.
A Sagrada Escritura além do sentido literal dá um sentido espiritual mais profundo que não se consegue captar. Cristo é a chave para interpretar as Escrituras(cf. Contra Celso, 7,11), cuja presença no texto sagrado é o mais das vezes escondida debaixo do véu da leitura. O sentido espiritual das Escrituras identifica-se com o sentido cristológico. Cristo iluminou a Lei e tirou o véu que a cobria(cf. 2Cor 3,14), revelando os seus esplendores.
Ele propôs três visões dos sentidos da Escritura em ligação profunda com a concepção paulina do homem, em Espírito, alma e corpo(cf. 1Ts 5,9). - Os simples, através da leitura; - Os progressivos, pelo sentido moral; - Os perfeitos pelo sentido espiritual.
Nesta escola temos também Clemente de Alexandria. Ele considera a Sagrada Escritura como a voz mesma do Logos divino. Sobre as bases de Filão, diz que toda a palavra escrita tem um fim preciso e que este pode ser escondido sobre o princípio da distinção entre cristãos simples e perfeitos(gnósticos). Clemente valoriza a tipologia tradicional, para se confrontar ao gnosticismo, ao afirmar a unidade dos dois Testamentos e propõe o conceito de revelação progressiva, segundo o qual a vinda do Salvador ocorreu com a origem do mundo, preparado depois pela Lei, pelos profetas e em fim pela presença do Precursor, João Batista.
Em segundo lugar nós temos a exegese antioquena. Esta primou pelo sentido literal da Sagrada Escritura, isto é pela explicação do Antigo Testamento pelo próprio texto, o Antigo Testamento. Ela surgiu em contraposição à escola alexandrina, que valorizava o sentido alegórico.
Os antioquenos formaram outra escola com o fim de contestar os alexandrinos porque havia o perigo de reduzir toda a Bíblia a uma profecia, ou textos proféticos que não o eram no seu sentido histórico original. O caráter desta exegese foi a contraposição de um decisivo literalísmo ao alegorísmo alexandrino. Se os autores alexandrinos interpretavam alegoricamente o AT para encontrar ali a antecipação profética e simbólica de Cristo e da Igreja, os literais antioquenos com o seu literalísmo renunciavam a esta finalidade. Nós encontramos autores nesta escola como Teófilo de Antioquia, Deodoro de Tarso, Teodoro de Mopsuéstia e João Crisóstomo. Esses autores procuraram somente dizer o que é desejado pelo autor inspirado.
Ainda que as duas escolas tivessem pontos de vista exegéticos diferentes no fundo elas queriam interpretar o mistério de Cristo presente no AT e revelado no NT a fim de que as pessoas e as comunidades cristãs vivenciassem a Palavra de Deus na sua integridade diante da realidade familiar, social, política e econômica do Império Romano.

5. A formação do Cânon da Sagrada Escritura do AT e do NT
A nossa análise a respeito da exegese patrística dos primeiros quatro séculos tem presentes também a formação do Cânon, a lista dos livros sagrados seja do AT, seja do NT. Uma teoria clássica até os tempos modernos dizia que no primeiro século os hebreus tinham dois cânones; um proveniente da Palestina(mais breve) e outro alexandrino (mais longo, o qual compreendia os livros deuterocanônicos). Na realidade, hoje sabemos que não existiam dois cânones hebraicos, porque no primeiro século os hebreus não tinham fechado o cânon e existiam muitos livros candidatos para entrar na lista dos livros inspirados. Isto deveria realizar-se sem dificuldades se não fosse o desencontro dos cristãos com os gnósticos que levou os judeus a fixar a sua lista de livros sagrados. Naquilo que se refere aos Padres da Igreja, notamos que estes usaram sem problemas os deuterocanônicos até o momento em que estes foram em uso também pelos hebreus(ainda que não oficialmente). Quando estes últimos, no segundo século, os rejeitaram completamente, os Padres foram obrigados a usá-los, na polêmica contra o judaísmo, só os livros condivididos também pelos hebreus. Por isto a aceitação dos deuterocanônicos pela comunidade cristã não se fundamentou sobre a autoridade da sinagoga, antes sobre aquela litúrgica da Igreja.
No segundo século circulavam muitos livros entre as comunidades dizendo-se inspirados ou levavam o nome de algum apóstolo; só alguns destes(27) foram incluídos no cânon do NT, vindo a assumir a mesma autoridade do AT. A seguir são colocados os critérios de escolha que a Igreja levou em consideração para afirmar se um determinado livro era ou não inspirado: apostolicidade, leitura pública litúrgica, leitura pública litúrgica universal e ortodoxia.
Conclusão
A exegese nos Padres da Igreja possibilitou a leitura do mistério teológico em função do cristológico tendo presente o AT e o NT na sua unidade. O Antigo Testamento era lido em comunhão com o Novo Testamento porque era Sagrada Escritura. Para os Padres da Igreja, Cristo Jesus é a realização das promessas feitas no AT. Esta exegese iluminou a vida do povo através das homílias de seus pastores na formação do povo cristão, católico, mas sobretudo, na liturgia eucarística. O mês bíblico nos ajude a ler a Sagrada Escritura como a Palavra de Deus Uno e Trino que guia os nossos passos para sermos discípulos, discípulas, missionários, missionárias de Jesus Cristo no mundo de hoje e em nossas comunidades, paróquias e dioceses.
Bibliografia geral: 
Simonetti, M. Lettera e/o allegoria. SEA, 23, Roma, 1988.
Dicionário Patrístico e de Antigüidades Cristãs, Vozes, Petrópolis, 2002.
Fonte: CNBB