sábado, 10 de janeiro de 2015

Deus guarde o Papa Francisco!

geovane200
Padre Geovane Saraiva*

Com a chegada do Salvador da história da humanidade, o cansaço e o desânimo deveriam desaparecer. O Filho de Deus apareceu como luz misteriosa a envolver os povos da terra numa só fé. Agora é necessário que se perceba que ele fala nos acontecimentos e na vida das pessoas; mais importante é o convencimento de sua proposta e que através dela temos projeto de amor, de mudança de rumo, como dom e tarefa ofertados às pessoas de boa vontade. É o mistério do Filho de Deus encarnado a dominar a nossa história, ocupando o primeiro lugar no plano salvífico e redentor, sempre muito claro na manifestação da vontade do nosso bom Deus, a nos assegurar que sua aliança alcançou a plenitude.
Na mensagem para o dia de Natal de 2014, o Papa Francisco disse assim: “São as pessoas humildes, cheias de esperança na bondade de Deus, que acolhem Jesus e O reconhecem. Assim o Espírito Santo iluminou os pastores de Belém, que correram à gruta e adoraram o Menino”. Em uma linguagem profundamente carregada de ternura e solidariedade também disse: “Jesus Menino penso em todas as crianças assassinadas e maltratadas hoje, seja naquelas que o são antes de ver a luz, privadas do amor generoso dos seus pais e sepultadas no egoísmo duma cultura que não ama a vida; seja nas crianças desalojadas devido às guerras e perseguições, abusadas e exploradas sob os nossos olhos e o nosso silêncio cúmplice; seja ainda nas crianças massacradas nos bombardeamentos, inclusive onde o Filho de Deus nasceu. Ainda hoje o seu silêncio impotente grita sob a espada de tantos Herodes. Sobre o seu sangue, estende-se hoje a sombra dos Herodes do nosso tempo. Verdadeiramente há tantas lágrimas neste Natal que se juntam às lágrimas de Jesus Menino!”.
Já na sua palavra para o último dia do ano de 2014, o Sumo Pontífice na sua incomensurável ternura conclamou os cristãos a terem coragem de proclamar na cidade “que é necessário defender os pobres e não defender-se dos pobres, que é necessário servir os mais fracos, e não servir-se dos mais fracos”. Falou também durante o Te Deum que temos que “agradecer ao Senhor por tudo o que recebemos e pudemos realizar e, ao mesmo tempo, repensar as nossas faltas e pedir perdão”, tudo a partir do Filho de Deus, no seu plano inaudito de salvação e libertação do gênero humano, fazendo-nos  compreender que temos que render graças a Deus por sua manifestação, a qual trouxe a salvação a todos os povos da terra.
Falou em um linguajar voltado em primeiro lugar para ele próprio, na condição de Bispo de Roma: “Sendo também Bispo de Roma, gostaria de deter-me sobre o nosso viver em Roma, que representa um grande dom, porque significa habitar na cidade eterna, significa para um cristão sobretudo fazer parte da Igreja fundada no testemunho e no martírio dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo. E portanto também por isto agradecemos ao Senhor. Mas ao mesmo tempo representa uma grande responsabilidade. E Jesus disse: “A quem muito foi dado, muito será pedido” (cf. Lc 12, 48). Assim perguntemo-nos: nesta cidade, nesta Comunidade eclesial, somos livres ou somos escravos, somos sal e luz? Somos fermento? Ou somos apagados, insípidos, hostis, desconfiados, irrelevantes, cansados?”
Veja estimado leitor, quão profunda, foi sua reflexão: “Quando pediram a São Lourenço para levar e mostrar os tesouros da Igreja levou simplesmente alguns pobres. Quando numa cidade os pobres e os fracos são cuidados, socorridos e promovidos na sociedade, eles se revelam o tesouro da Igreja e um tesouro na sociedade. Ao contrário, quando uma sociedade ignora os pobres, os persegue, os criminaliza, os obriga a “mafiarem-se”, esta sociedade se empobrece até a miséria, perde a liberdade e prefere “o alho e as cebolas” da escravidão, da escravidão do seu egoísmo, da escravidão da sua cobardia e esta sociedade cessa de ser cristã” (31.12.2014).
Nosso querido Papa Francisco nos convence sempre mais do poder e da ação salvífica de Deus, que no seu poder e força se encontram no serviço e na doação, no amor e na entrega desinteressada, que gera belos sinais de vida; restando-nos, com todo o universo, contemplar e imitar seus gestos grandiosos: “A imprensa internacional, citando fontes da Guarda Suíça e testemunhos de outras pessoas, incluindo o arcebispo polaco Konrad Krajewski, trouxe agora ao conhecimento público aquele que era o mais bem guardado segredo no Vaticano, embora fossem já muitos os comentários que corriam na Cidade Eterna: o Papa Francisco, vestido como simples padre, tem saído às escondidas durante a noite para visitar e confortar os sem abrigo de Roma, ajudando as equipes de auxílio da Santa Sé na distribuição de comida, roupas e fundos de apoio”. Deus guarde o Papa Francisco!
 *Escritor, blogueiro, colunista e pároco de Santo Afonso – Parquelândia – Fortaleza – CE-Pároco de Santo Afonso



Juventude receberá capacitação para Centenário da Arquidiocese de Fortaleza

missao-jubileu_1
A Arquidiocese de Fortaleza vive um tempo de júbilo por ocasião de seu ano centenário. Criada em 1915, a Arquidiocese de Fortaleza congrega atualmente 139 paróquias que, em outubro próximo, serão enviadas para a Missão do Jubileu.
Com parceria entre o Conselho Missionário Diocesano (COMIDI) e o Setor Juventude da Arquidiocese de Fortaleza, os missionários enviados pelas paróquias serão capacitados nos meses de janeiro, fevereiro e março:
Bloco 1: 31/1/2015, em Caucaia, na Casa das Irmãs Cordimarianas, das 8h às 16h (Região Nossa Senhora da Assunção, Região Nossa Senhora dos Prazeres, Região São José)
Bloco 2: 7/2/2015, na Paróquia de Baturité, das 9h às 15h (Região Nossa Senhora da Palma, Região São Francisco)
Bloco 3: 7/3/2015, na Paróquia do Mondubim, das 8h às 16h (Região Sagrada Família, Região Bom Jesus dos Aflitos, Região Nossa Senhora da Conceição)
Bloco 4: 22/3/2015, na Paróquia de Pacajus, das 8h às 16h (Região São Pedro e São Paulo)
A Missão do Jubileu será preparada por uma comissão específica. Como ela, há outras comissões de serviço: Histórica, Missionária, Litúrgica, Comunicação, Acolhida e Hospedagem, Teológica e Eventos.
A programação do Ano Centenário está disponível no site www.arquidiocesedefortaleza.org.br/centenario. Eventuais dúvidas sobre a capacitação para a Missão do Jubileu poderão ser esclarecidas pelo Padre Luciano Gonzaga, coordenador do COMIDI, no telefone (85) 8855-0072. Para outras informações o Secretariado de Pastoral da Arquidiocese atende no telefone (85) 3388-8701.

por Guilherme Azevedo, da JMV Fortaleza

Arquidiocese de Fortaleza lança site para Ano Centenário

centenario_1
Com iniciativa da Comissão de Comunicação do Ano Centenário da Arquidiocese de Fortaleza, o Setor de Informática da Arquidiocese lançou no dia 1º de janeiro de 2015, solenidade de Maria, Mãe de Deus, um site exclusivo para divulgação de informações e notícias a cerca das atividades dos 100 anos da Igreja de Fortaleza.
A grande novidade do novo site é a página exclusiva para depoimentos. Nas muitas atividades do jubileu, um grupo de jornalistas da Comissão de Comunicação estará coletando pequenas falas de leigos, religiosas e padres que terão lugar neste espaço.
Conheça, divulgue e compartilhe: www.arquidiocesedefortaleza.org.br/centenario.

A Igreja cinco anos depois do terremoto: projetos realizados, 70 em execução e outros 200 em programa


Porto Príncipe (Agência Fides) – Uma delegação de 12 pessoas partiu do Haiti ontem, 7 de janeiro, para Roma, onde participará do encontro que se realizará no Vaticano no sábado, 10 de janeiro, no quinto aniversário do terremoto que devastou a nação em 12 de janeiro de 2010. Foi o que anunciou o Presidente da Conferência Episcopal do Haiti (CEH), Card. Chibly Langlois, Bispo de Les Cayes, que guia a delegação.
“A comunhão da Igreja: Memória e esperança para o Haiti, cinco anos depois do terremoto” é o tema sobre o qual refletirão cerca de 200 pessoas: além da delegação do Haiti, de fato, foram convidados os representantes dos Dicastérios vaticanos, de algumas Conferências Episcopais, de organizações de ajuda e cooperação, os superiores gerais de congregações religiosas e os embaixadores junto à Santa Sé. A iniciativa, segundo a nota enviada a Fides pelo Haiti, fortemente encorajada pelo Papa Francisco, é organizada pelo Pontifício Conselho "Cor Unum" e pela Pontifícia Comissão para a América Latina. "Será – segundo as palavras do Cardeal – a oportunidade de recordar o desastre que causou mais de 230.000 mortos, 300.000 feridos e 1,2 milhões de desabrigados".
O Card. Chibly Langlois recorda na circunstância que um número de projetos pós-terremoto já foi completado, e que atualmente a Igreja Católica tem ainda cerca de 200 projetos a realizar. Os que estão em andamento dizem respeito a 70 igrejas, capelas ou escolas reconstruídas, e outros edifícios que abrigam atividades de serviço administradas pela Igreja Católica. Esses 70 projetos em execução exigiram um custo de 58 milhões de dólares, dos quais somente 32 eram precedentemente disponíveis, segundo o que afirma Stephan Destin, o engenheiro responsável pela Unidade operativa para a reconstrução. O Estado haitiano até agora não reconstruiu nenhum dos edifícios públicos destruídos pelo terremoto. A Igreja, a propósito, aguarda ainda a ajuda estatal para a reconstrução efetuada ou iniciada dos edifícios que oferecem um serviço público, como escolas e centros de saúde.
"Esperamos reforçar a comunhão eclesial com a Igrejas-irmãs”, conclui o Card. Chibly Langlois, que auspicia também a nomeação, em cada diocese haitiana, de uma pessoa competente e qualificada, encarregada de acompanhar a reconstrução e a gestão das ajudas. (CE) (Agência Fides, 08/01/2015)

Festa do Batismo do Senhor

JohnBaptist01Cardeal Orani João TempestaArcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)

A Festa do Batismo do Senhor, celebrada no domingo depois da Epifania, encerra o ciclo natalino e completa as Festas das Manifestações do Senhor. Comemoramos o Batismo de Jesus por São João Batista nas águas do rio Jordão. Sem ter mancha alguma que purificar, Jesus quis submeter-se a esse rito tal como se submetera às demais observâncias legais, que também não O obrigavam.
O Senhor desejou ser batizado, diz Santo Agostinho, “para proclamar com a sua humildade o que para nós era uma necessidade”. Com o batismo de Jesus, ficou preparado o Batismo cristão, diretamente instituído por Jesus Cristo e imposto por Ele como lei universal no dia da sua Ascensão: Todo poder me foi dado no céu e na terra, dirá o Senhor; ide, pois, ensinai a todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo (Mt 28, 18-19).
No Batismo do seu Filho, o Pai apresenta, manifesta a Israel o Salvador que ele nos deu, o Menino que nasceu para nós: “Tu és o meu Filho amado; em ti ponho o meu bem-querer”, ou, segundo a versão de Mateus: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”! (3,17)
Estas palavras contêm um significado muito profundo: o Pai apresenta Jesus usando as palavras do profeta Isaías, que ouvimos na primeira leitura da missa. Mas, note-se: Jesus não é somente o Servo; ele é o Filho, o Filho amado! O Servo que o Antigo Testamento anunciava é também o Filho amado eternamente! No entanto, é Filho que sofrerá como o Servo, que deverá exercer sua missão de modo humilde e doloroso!
Às margens do Jordão, Jesus foi ungido com o Espírito Santo como o Messias, o Cristo, aquele que as Escrituras prometiam e Israel esperava. Agora, ele começa publicamente a missão de anunciar e inaugurar o Reino de Deus. Esta missão, ele começou desde que se fez homem por nós; agora, no entanto, vai manifestar-se publicamente, primeiro a Israel e depois a toda a humanidade. É na força do Espírito Santo que ele pregará, fará seus milagres, expulsará Satanás e inaugurará o Reino; é na força do Espírito que ele viverá uma vida de total e amorosa obediência ao Pai e doação aos irmãos até a morte e morte de cruz.
Jesus já começa cumprindo sua missão na humildade: ele entra na fila dos pecadores para ser batizado por João. Ele, que não tinha pecado, assume os nossos pecados, faz-se solidário conosco; ele, o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo! “João tentava dissuadi-lo, dizendo: ‘Eu é que tenho necessidade de ser batizado por ti e tu vens a mim’? Jesus, porém, respondeu-lhe: ‘Deixa estar, pois assim nos convém cumprir toda a justiça’” (Mt 3,14s). Assim convinha, no plano do Pai, que Jesus se humilhasse, se fizesse Servo e assumisse os nossos pecados! Ele veio não na glória, mas na humildade, não na força, mas na fraqueza, não para impor, mas para propor, não para ser servido, mas para servir. Eis o caminho que o Pai indica a Jesus, eis o caminho que Jesus escolhe livremente em obediência ao Pai, eis o caminho dos cristãos.
João diz: “Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo”. O batismo de João não é o sacramento do Batismo: era somente um sinal exterior de que alguém se reconhecia pecador e queria preparar-se para receber o Messias. Ao ser batizado no Jordão, Jesus é anunciado como o Filho amado, ungido pelo Espírito Santo para iniciar publicamente sua missão. Esta unção será plena na ressurreição, quando o Pai derramará sobre ele o Espírito como vida da sua vida. Então, pleno do Espírito Santo que o ressuscitou, derramará este Espírito, que será também seu Espírito, sobre nós, dando-nos uma nova vida! Para os cristãos, o batismo é no Espírito, simbolizado pela água (Jo 3,5; 7,37-39). Ao sermos batizados, recebemos o Espírito Santo e, por isso, somos participantes da missão de Jesus para viver, testemunhar e anunciar o Reino de Deus, a Vida eterna, a Vida no amor a Deus e aos irmãos, que Jesus veio anunciar ao se fazer homem igual a nós!
Assim, o dia em que fomos batizados foi o mais importante da nossa vida, pois nele recebemos a fé e a graça. Desde cedo a Igreja pediu aos pais que batizassem os seus filhos quanto antes. É uma demonstração prática de fé. Não é um atentado contra a liberdade da criança, da mesma forma que não foi uma ofensa dar-lhe a vida natural, nem alimentá-la, limpá-la, curá-la, quando ela própria não podia pedir esses bens. Pelo contrário, a criança tem direito a receber essa graça. Desde os inícios, a Igreja, quando a família se convertia, batizada toda a família, incluindo as crianças. No Batismo está em jogo um bem infinitamente maior do que qualquer outro: a graça e a fé; talvez a salvação eterna. Só por ignorância e por uma fé adormecida se pode explicar que muitas crianças sejam privadas pelos seus próprios pais, já cristãos, do maior dom da sua vida.
Em virtude do Batismo somos chamados a ser discípulos e missionários de Jesus Cristo. Como diz o Doc. de Aparecida nº 209: “Os fiéis leigos são os cristãos que estão incorporados a Cristo pelo batismo, que formam o povo de Deus e participam das funções de Cristo: sacerdote, profeta e rei. Realizam, segundo a sua condição, a missão de todo o povo cristão na Igreja e no mundo. São homens da Igreja no coração do mundo e homens do mundo no coração da Igreja”.
Fonte: CNBB

Solidariedade

Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)

Quem tem ao menos um pingo de humanismo abre a mão a quem é fragilizado e necessita de ajuda, compreensão e amor. O Filho de Deus é um mar de solidariedade para com todo ser humano. Aliás, Deus, tão grandioso, não teria necessidade de nada nem de ninguém. Tudo o que fez, dando existência a cada criatura e possibilidade de ter convívio feliz com Ele aqui na terra e na eternidade, mostra seu rebaixamento ao assumir nossa natureza humana. Dessa forma, podemos compreender bem seu exemplo, de modo humano, para nos dar condição e facilitar nossa aprendizagem e seguir seu testemunho.

No batismo de João, de que Ele não precisava, quis mostrar sua solidariedade total para conosco. Precisamos de nos converter e purificar de toda maldade. Aliás, quem mostrou, já nesse batismo no rio Jordão, sua natureza também divina, foram o Pai e o Espírito Santo. O próprio João falou sobre Jesus para seus discípulos: “Eu vos batizei com água, mas ele vos batizará com o Espírito Santo” (Marcos 1,8). De fato, o Messias instituiu mais tarde o batismo com a ação da terceira pessoa divina, marcando a pessoa batizada com o selo divino indelével do seu amor. Dessa forma, a pessoa humana é salva pela solidariedade divina, que nos eleva à condição filial adotiva.
O ser humano batizado é convocado e recebe a missão de também ensinar a prática da solidariedade, que conserta as relações humanas, promovendo a justiça, a inclusão social, a construção da família com os critérios de Jesus, a boa política e tudo o que humaniza e diviniza o convívio social. Quem é batizado não se fixa na relação com o transcendente, sem também conviver amorosamente com seus pares, à semelhança do Filho de Deus. Ele não se fixa nem se fecha só na relação com as pessoas divinas . Torna-se um de nós para que nos realizemos plenamente na terra e façamos dela um verdadeiro trampolim para o lançamento certeiro e plenamente feliz na eternidade. Por isso, só realizamos nossa construção de vida, com resultado feliz e duradouro, na construção da solidariedade humana, como a cruz de Cristo. Ela indica a haste vertical de ligação com o divino, mas está intimamente ligada com a haste horizontal, na relação de amor com o humano. Só a haste vertical ou só a horizontal não é plenamente humana ou divina. O entrecruzamento de ambas, na solidariedade do divino com o humano e na força dela para a convivência de amor com o humano, nos dá a segurança de caminharmos com a cabeça ligada a todo o corpo e vice-versa.
Nosso olhar humano em relação ao próximo, se pleno da imitação do olhar ou do que fez Jesus para conosco, torna-nos pessoas que vêem e valorizam os outros, como lembra S. Pedro: “Deus não faz distinção entre as pessoas. Pela contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença” (Atos 10, 34.35). Como é importante valorizar os outros em casa, na comunidade e na sociedade!
Jesus é o protótipo de quem só faz o bem, que o profeta já falava como se aplicasse diretamente a Ele: “Não esmorecerá nem se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra... Eu, o Senhor, te chamei... te constituí como o centro de aliança do povo... para abrires os olhos dos cegos, tirar o cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas” (Isaías 42, 4.5.6.7). No seguimento do Mestre, assumindo nosso batismo, transformamos a convivência na terra, a ponto de conseguirmos justiça, promoção da dignidade humana e a verdadeira paz.
Fonte: CNBB

Ano da Vida Consagrada

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora (MG)

De novembro de 2014 a fevereiro de 2016, a Igreja celebra o Ano da Vida Consagrada, com o tema “Vida Consagrada na Igreja hoje: Evangelho, Profecia e Esperança”.
Segundo o Santo Padre, o Papa Francisco, os consagrados “são homens e mulheres que podem acordar o mundo. A vida consagrada é uma profecia”. Profecia no sentido de transformar todas as realidades estéreis e áridas sob o olhar fecundo e terno de Deus. Anunciar o Reino de Deus e experimentá-lo; anunciar os valores do Reino, os valores futuros que esse Reino traz.

Os religiosos, com a riqueza de seus Carismas, edificam toda a vida espiritual e pastoral da Igreja. Basta pensar no enorme trabalho que eles desenvolvem nas diversas áreas de promoção humana: hospitais, asilos, casas de repouso, orfanatos, centros de recuperação de tóxicos dependentes e todo o campo socioeducativo, colaborando para que a Igreja desempenhe sua missão de Esposa fiel a Cristo e de comunidade de Salvação no mundo inteiro. O Papa Francisco também destacou o papel dos religiosos no âmbito da educação, tanto nas escolas como nas universidades, realçando a importância de se “transmitir conhecimento, transmitir formas de fazer e transmitir valores. Através destes pilares, se transmite a fé. O educador deve estar à altura das pessoas que educa, e interrogar-se sobre como anunciar Jesus Cristo a uma geração que está mudando”.
Para viver intensamente o Ano da Vida Consagrada, o Papa traçou três objetivos: “olhar para o passado com gratidão, viver o presente com paixão e abraçar o futuro com esperança”. Isso ajuda o consagrado a viver a confirmação de que Deus pode encher a vida de alegria e fermentar, ainda mais, a “espiritualidade da comunhão”.
O Santo Padre, na carta às pessoas consagradas, de 21 de novembro de 2014, não se esqueceu dos leigos que partilham com eles ideais, espírito e missão. O Sucessor de Pedro realça que, em torno de cada família religiosa, está presente a “família carismática”, que compreende cristãos leigos que participam desta mesma realidade, sem no entanto, negar sua condição laical. 
Em comunhão com o Sumo Pontífice e com a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, que tem como presidente o Cardeal Brasileiro, Dom João Braz de Aviz, a Arquidiocese de Juiz de Fora e os representantes da Conferência dos Religiosos da Brasil (CRB) que aqui vivem e trabalham, vão desenvolver atividades conjuntas com celebrações, encontros para estudos e confraternização. Nós estaremos, no decorrer deste 2015, visitando todas as casas religiosas presentes em nossa Arquidiocese, com celebração em cada uma delas.
Agradecemos a Deus pela presença de todos os consagrados em nossa Arquidiocese, e pedimos os fiéis que neste ano a eles dedicado dirijam a Deus uma prece especial a cada um deles.  

Fonte: CNBB 

Duelos entre opiniões

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)

Há uma palavra magistral de Jesus, no Templo de Jerusalém, dirigida aos Judeus que acreditaram nele, conforme narra São João no seu Evangelho: “Se permanecerdes em minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Essa palavra é a indispensável evocação de que existem princípios e valores inegociáveis que permitem à humanidade aproximar-se da verdade que liberta. Trata-se de um ensinamento que não impede a diversidade das opiniões, mas adverte a respeito da verdade como condição insubstituível para que haja autêntica liberdade. 

Compreende-se que há um perene e exigente percurso na busca da aproximação da verdade. Ninguém dela é dono ou a possui na sua inesgotável inteireza. Afastar-se desse entendimento produz consequências sérias e abomináveis, como os fundamentalismos religiosos, políticos e outros, que muitas vezes são usados para justificar a perpetração de crimes, atentados e outros tipos de desrespeitos à dignidade humana. Especialmente na contemporaneidade, diante de tantos avanços e conquistas no âmbito de direitos e cidadania, não se pode encastelar a verdade nas estreitezas de parâmetros culturais, religiosos e políticos que cegam e tentam justificar ações inaceitáveis.
As muitas ameaças à liberdade e à cidadania que ocorrem pelo mundo, em razão de opiniões equivocadamente elaboradas - particularmente as que nascem de convicções religiosas e políticas - são motivo de grande preocupação. Não menos preocupantes são os cenários que se formam no interior de culturas e nações, quando mecanismos degradam o erário, a violência ceifa vidas, as disputas desumanas intermináveis destroem sonhos e possibilidades. Cada relato de violência, vandalismo, atentado e outras abominações deve levar a um exame de consciência e a uma postura mais cidadã que indiquem a necessidade permanente de se buscar a verdade para balizar opiniões.
Esse processo educativo e civilizado é uma urgência no contexto do mundo contemporâneo que, na contramão de seus avanços e conquistas, continua a alimentar barbáries e inseguranças. Uma triste realidade em que cada pessoa busca justificar suas ações apenas a partir do próprio ponto de vista. O distanciamento da verdade é o caminho mais curto para todo tipo de terrorismo, corrupção e atentados contra grupos, sociedades e culturas.
O exercício civilizatório que o contexto atual preocupante exige é desafiador, urgente e precisa ser considerado em todos os âmbitos. Não pode restringir-se às estratégias de estado em defesa de sua integridade, ou às instituições na preservação de suas identidades, nem mesmo à família, na sua indispensável condição de ordenar a sociedade. Inclui também, e de modo muito especial, a postura cidadã de cada um diante do outro, da realidade, dos projetos e das diversas situações. Não se pode viver da alimentação indiscriminada e facilitada pelos meios todos disponíveis de um duelo entre opiniões. Continuar nesse caminho é viver sob a ameaça constante de uma “bomba-relógio”, que pode explodir aqui ou em qualquer outro lugar, com danos de toda a natureza para povos, culturas, grupos e indivíduos, acabando drasticamente com projetos, sonhos e possibilidades.
É preciso averiguar e mapear fundamentalismos de todo tipo, lacunas sérias em processos educativos, para desenvolver programas e dinâmicas que garantam aos indivíduos, nas diferentes culturas e realidades, um sentido de apreço pela verdade. Somente assim será possível a convivência de opiniões que contribuam para as escolhas e para a adoção de novas posturas, pois prevalecerá a perspectiva de que o mais importante, e está acima de tudo, é o respeito a direitos e a dignidades. Oportuno é lembrar o que diz o Papa Francisco, na sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano: “A Boa Nova de Jesus Cristo - por meio de quem Deus renova todas as coisas - é capaz de redimir também as relações entre os homens, incluindo a relação entre um escravo e o seu Senhor, pondo em evidência aquilo que ambos têm em comum: a filiação adotiva e o vínculo de fraternidade em Cristo”.
Esta referência é um exemplo de princípio e valor que deve incidir sobre dinâmicas culturais e modificá-las na direção de uma incontestável qualificação. Trata-se de um ensinamento que promove a fraternidade, gera paz e sustenta o sentido de igualdade que convence sempre, mentes e corações, sobre a importância de se respeitar a integridade do outro, seus direitos e a riqueza de sua cidadania. É preciso investir permanentemente nas dinâmicas sociais, políticas, religiosas e culturais presididas por valores e princípios capazes de preservar a vida em sociedade. Assim, será possível trilhar o caminho da verdade, distante das tiranias que sempre serão fonte de prejuízos e dos inaceitáveis “duelos entre opiniões” que comprometem o bem, a justiça e a paz.
Fonte: Cnbb