quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Tome a sua cruz e me siga!

Dom Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião (RJ)
Jesus está a caminho de Jerusalém. É o que nós ouviremos no Evangelho deste XXIV Domingo do Tempo Comum.  Enquanto caminhava, perguntou, em tom familiar, aos discípulos que O acompanhavam: “Quem dizem os homens que eu sou?” (Mc 8,27-35). E eles, com simplicidade, contaram-lhe o que lhes chegava aos ouvidos: “Alguns dizem que tu és João Batista; outros que és Elias…” Então Ele voltou a interrogá-los: “E vós, quem dizeis que eu sou”? Eis a grande pergunta que ainda hoje ressoa não só em nossos ouvidos, mas pelo mundo! As discussões nas revistas, jornais e mídias sociais continuam repercutindo essa mesma pergunta com o desejo de encontrar o caminho da resposta. Mas hoje queremos nos deter em um outro aspecto.
Jesus, porém, explicava aos discípulos que a sua Missão messiânica passa pela Cruz. Pedro reage e tenta afastar Jesus do Plano do Pai. Jesus lhe responde: “Vai para longe de mim, satanás”! Porém, antes Pedro dissera: “Tu és o Messias”.
Os Apóstolos, a Igreja, pela boca de Pedro, deram a Jesus a resposta certa depois de dois anos de convivência e trato. Nós, como eles, “temos de percorrer um caminho de escuta atenta, diligente. Temos de ir à escola dos primeiros discípulos, que são as suas testemunhas e os nossos mestres, e, ao mesmo tempo, temos de receber a experiência e o testemunho de nada menos que vinte séculos de história sulcados pela pergunta do Mestre e enriquecidos pelo imenso coro das respostas dos fiéis de todos os tempos e lugares” (São João Paulo II).
Também nós que estamos seguindo o Mestre devemos examinar hoje, na intimidade do nosso coração, o que Cristo significa para nós. Digamos como São Paulo: “As coisas que eram lucro para mim, considerei-as prejuízo por causa de Cristo. Mais que isso, julgo que tudo é prejuízo diante deste bem supremo que é o conhecimento do Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele, perdi tudo e considero tudo como lixo, a fim de ganhar Cristo e ser encontrado unido a Ele”. (Fl 3,7-9).
A primeira preocupação do cristão deve, pois, consistir em viver a vida de Cristo, em incorporar-se a Ele, como os ramos à videira. É esse, aliás, o lema do Mês da Bíblia: “Permanecei no Meu amor para produzir muitos frutos”. (Cf. Jo, 15, 0-16). O ramo depende da união com a videira, que lhe envia a seiva vivificante; separado dela, seca e é lançado ao fogo. Diz Jesus: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”. 
Quando Jesus disse “se alguém quer vir após Mim…”, tinha presente que o cumprimento da Sua missão O levaria à morte de cruz; por isso fala claramente da Sua Paixão. Mas também a vida cristã, vivida como se deve viver, com todas as suas exigências, é uma cruz que se deve levar em seguimento de Cristo.
A exigência do Senhor inclui renunciar à própria vontade para identificá-la com a de Deus, não aconteça que, como comenta São João da Cruz, tenhamos a sorte de muitos “que queriam que Deus quisesse o que eles querem, e entristecem-se de querer o que Deus quer, e têm repugnância em acomodar a sua vontade à de Deus. Disto vem que muitas vezes, no que não acham a sua vontade e gosto, pensam não ser da vontade de Deus e, pelo contrário, quando se satisfazem, creem que Deus Se satisfaz, medindo também a Deus por si, e não a si mesmos por Deus”. (Noite Escura, liv. I, Cap. 7, nº. 3).
O fim do homem não é ganhar os bens temporais deste mundo, que são apenas meios ou instrumentos; o fim último do homem é o próprio Deus, que é possuído como antecipação aqui na Terra pela Graça, e plenamente e para sempre na Glória. Jesus indica qual é o caminho para conseguir esse fim: negar-se a si mesmo (isto é, tudo o que é comodidade, egoísmo, apego aos bens temporais) e levar a cruz. Porque nenhum bem terreno, que é caduco, é comparável à salvação eterna da alma. Diz São Tomás: “O menor bem da Graça é superior a todo o bem do universo”. (Suma Teológica, I-II, q.113, a. 9).
“Cristo repete-o a cada um de nós, ao ouvido, intimamente: a Cruz de cada dia. Não só, escreve São Jerônimo (estamos no mês de sua festa!), em tempo de perseguição ou quando se apresente a possibilidade do martírio, mas em todas as situações, em todas as atividades, em todos os pensamentos, em todas as palavras, neguemos aquilo que antes éramos e confessemos o que agora somos, visto que renascemos em Cristo. Vedes? A cruz de cada dia. Nenhum dia sem Cruz: nenhum dia que não carreguemos com a Cruz do Senhor, em que não aceitemos o Seu jugo. É muito certo que aquele que ama os prazeres, que busca as suas comodidades, que foge das ocasiões de sofrer, que se inquieta, que murmura, que repreende e se impacienta porque a coisa mais insignificante não corre segundo a sua vontade e o seu desejo, tal pessoa, de cristão só tem o nome; somente serve para desonrar a sua religião, pois Jesus Cristo disse: aquele que queira vir após Mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias da vida, e siga-Me”.
Jesus quer ser levantado ao alto, aí: no ruído das fábricas e das oficinas, no silêncio das bibliotecas, no fragor das ruas, na quietude dos campos, na intimidade das famílias, nas assembleias, nos estádios… Onde quer que um cristão gaste a sua vida honradamente, aí deve colocar, com o seu amor, a Cruz de Cristo, que atrai a Si todas as coisas”. (Via Sacra, XI).
A Cruz é o sinal do cristão! Está presente em toda parte, com muitos nomes. Que o Senhor nos conceda a graça de também segui-Lo na Cruz; de perder a vida por causa de Cristo para salvá-la.
Fonte: CNBB

Fé e cultivo das tradições

Dom Canísio Klaus

Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

No domingo, dia 13 de setembro, a Diocese de Santa Cruz do Sul realizou a 14ª Romaria da Santa Cruz. Foi um bonito momento de manifestação da fé e testemunho de unidade do povo diocesano para celebrar a Festa da Exaltação da Santa Cruz e fazer memória de Nossa Senhora das Dores. Oriundos de 41 municípios, os romeiros manifestaram o seu anseio por paz, ao mesmo tempo em que afirmaram o seu propósito em serem instrumentos desta paz. Em muitos cartazes estava retratada a afirmação: “Nós somos da Paz”. Várias vezes os participantes se uniram em coro para proclamar aos quatro ventos que são “felizes os que promovem a paz”.
Aproveito o espaço para agradecer a todos quantos trabalharam para que a Romaria pudesse se realizar. Estou ciente de que sem o abnegado trabalho das dezenas de pessoas que se responsabilizaram pelos variados serviços, teria sido impossível realizar a Romaria. Fiquei feliz em escutar, ao final da Romaria, muitos colaboradores afirmando que “no ano que vem estaremos aqui de novo”.  É um incentivo a que levemos em frente a programação, fazendo que no próximo ano a Romaria seja ainda melhor do que foi a Romaria de 2015.
No dia da Romaria também aconteceu, em vários lugares, a abertura da Semana Farroupilha. Muitos dos valores apregoados pela Igreja encontram um espaço propício para o seu desabrochar nas comemorações da Semana Farroupilha. Lembro, especialmente, o ideal de paz e fraternidade expresso nos desfiles e o cultivo da fé externado pelas muitas celebrações e missas crioulas que acontecem durante a semana. Igualmente destaco o valor que a Semana Farroupilha devota à família, unida nas tradições e nos acampamentos. 
Sabemos que a fé cristã tem suas bases firmadas na tradição dos apóstolos. É ela que ajuda a Igreja a permanecer fiel à missão recebida do Mestre Jesus de Nazaré. Sem esta referência, a Igreja correria o risco de perder a sua identidade, se desviar da missão e perder a razão de sua existência.  Na mesma lógica, a Igreja incentiva as manifestações que fazem parte da tradição dos povos, buscando incutir nelas as sementes do Evangelho. Todas as manifestações que fazem parte da tradição de um povo são válidas, desde que expressas com respeito e de forma pacífica. E é por isso que nós gaúchos valorizamos e apoiamos as comemorações da Semana Farroupilha.
Que Deus, por intermédio de Maria Santíssima (a primeira Prenda do Céu), abençoe as pessoas que participaram da 14ª Romaria da Santa Cruz. Que recompense aquelas que trabalharam na Romaria. E que derrame copiosas bênçãos sobre as milhares de pessoas que durante esta semana se reúnem nos CTGs e nos acampamentos ou saem em desfile pelas ruas para manifestar o seu amor ao Rio Grande.  Deus a todos abençoe!
Fonte: CNBB

Casamentos nulos

Dom Odilo Pedro Scherer

Arcebispo de São Paulo (SP)

No dia 08 de setembro passado, foi publicada a Carta Apostólica Mitis Iudex, Dominus Iesus (O Senhor Jesus, Juiz clemente), do Papa Francisco, sobre o processo para a declaração de nulidade matrimonial. Trata-se de uma reforma do Direito Canônico, no que diz respeito a esses processos.
A medida responde a numerosos pedidos, feitos em tal sentido durante a assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos, em 2014; mas também a indicações dadas pelos cardeais no Consistório de fevereiro de 2014. Era claro e forte o desejo de tornar mais ágeis e acessíveis aos fiéis os processos para a nulidade matrimonial.
É bastante compartilhada entre teólogos e canonistas a convicção de que muitos casamentos realizados na Igreja são, de fato, nulos, porque tiveram alguma falha grave no consentimento ou na forma; seriam, portanto, nulos desde o princípio. Quando, por exemplo, falta a liberdade na decisão de casar, esse ato é nulo; da mesma forma, quando a pressão de circunstâncias externas impede de tomar uma decisão autônoma. Os argumentos de nulidade matrimonial são numerosos.
Os casamentos nulos, geralmente, entram em crise bem depressa. Muitos casais poderiam ter reconhecida a nulidade do seu casamento fracassado para, em seguida, realizar um casamento verdadeiro. Outros, talvez, poderiam regularizar a nova relação, caso o vínculo anterior rompido fosse reconhecido nulo.
A Igreja leva a sério o casamento; por isso, após ter sido apresentado a ela um pedido de reconhecimento da nulidade matrimonial, faz instaurar um processo para a verificação cuidadosa dos fatos. O que interessa, acima de tudo, é a verdade sobre o casamento rompido; para tanto, é necessário reunir documentos, ouvir testemunhas e efetuar um julgamento sobre as circunstâncias e as alegações apresentadas no processo.
O Papa Francisco faz questão de esclarecer que não se trata de aprovar o divórcio e de “anular” casamentos verdadeiros. Nada muda na doutrina da Igreja a respeito da indissolubilidade do Matrimônio”. A Igreja não anulará casamentos verdadeiros e legítimos. Também não se trata de alargar os argumentos de nulidade, que permanecem os mesmos e já são bem conhecidos dos canonistas. Continua valendo o que Jesus ensinou: “o que Deus uniu, o homem não separe”. Em certos casos, porém, é preciso verificar se Deus uniu mesmo!
O Papa estabeleceu que os processos não precisarão mais passar por dois tribunais, nem receber duas sentenças de tribunais diversos. Por outro lado, dispôs também que em certos casos, quando a nulidade aparece claramente, o próprio bispo pode ser o juiz, ou quem for delegado por ele para isso. A responsabilidade pessoal do bispo diocesano aumentou muito com esta decisão do Papa.
A caridade pastoral da Igreja e a salvação das almas deve ser a motivação maior para todo o agir da Igreja. A reforma dos processos de nulidade matrimonial também traz essa mesma motivação: “salus animarum, suprema lex” (a salvação das almas é a lei suprema da Igreja). É preciso fazer todo o possível para ajudar as pessoas angustiadas alcançarem o bem espiritual e a salvação eterna. Por isso, sem faltar para com a verdade e a justiça, a Igreja quer tornar acessíveis os serviço dos tribunais eclesiásticos a todos os que deles necessitam. Além de tribunais acessíveis e próximos, o Papa também estabelece que os processos devem ser ágeis, sem demorar muito: “justiça demorada é justiça negada”.
As modificações introduzidas no Direito Canônico pelo Papa Francisco entrarão em vigor no próximo dia 8 de dezembro, mesmo dia da abertura do Ano Santo extraordinário da Misericórdia de Deus. Não é sem motivo: a Igreja é testemunha e mensageira da misericórdia de Deus e, ao mesmo tempo, está ao serviço dos sinais da misericórdia de Deus para com os homens. As questões de nulidade matrimonial também devem ser tratadas à luz da misericórdia de Deus.
Publicado em O São Paulo
Fonte: CNBB

Papa Francisco conclui ciclo de catequeses sobre a família

As reflexões prepararam os fiéis para o Encontro Mundial das Famílias 
A praça de São Pedro recebeu mais de 30 mil fiéis e peregrinos para audiência geral com o papa Francisco, na quarta-feira, 16 de setembro. Na ocasião, o pontífice encerrou a série de catequeses sobre a família, em preparação ao Encontro Mundial das Famílias, com início no próximo dia 22, na Filadélfia. 
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil será representada, no evento, pelo bispo de Osasco (SP) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família, dom João Bosco Barbosa, e pelo padre Moacir Arantes, assessor da Comissão Nacional da Pastoral Familiar (CNPF). 
Em dezembro do ano passado, o papa Francisco propôs ciclo de reflexões sobre a vida e a família, também em preparação à 13ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, que acontecerá de 4 a 25 de outubro, no Vaticano. 
“Concluímos as reflexões sobre a família, hoje, nas vésperas do Encontro Mundial das famílias na Filadélfia e do Sínodo dos Bispos aqui em Roma, dois acontecimentos que darão nova luz à dimensão universal desta comunidade humana fundamental e insubstituível que é a família”, recordou Francisco.
Durante a reflexão, o papa alertou que diante da mentalidade materialista que impera sobre a humanidade, “é preciso promover uma nova aliança entre o homem e a mulher que possa orientar a política, a economia e a convivência civil”.

Família no mundo

Ao destacar o valor da família na vida em sociedade, o papa falou da missão do homem e da mulher no projeto divino. “Deus confiou à família o projeto de tornar ‘doméstico’ o mundo. Assim que tudo o que acontece entre o homem e a mulher deixa marcas na criação; em concreto, o pecado original – a rejeição à bênção de Deus, deixou o mundo doente. Mas, Deus nunca abandonou o homem; no livro do Gênesis, a promessa feita à mulher parece garantir a cada nova geração uma bênção especial para defender-se do maligno”, explicou o pontífice.
Ainda sobre a vocação dos casais, o papa disse ser preciso “ter certeza que cada família é uma bênção para o mundo, até ao final da história”.
Ao final da catequese, saudou os peregrinos de língua portuguesa presentes na audiência e as famílias. Dirigiu saudação particular aos membros da Fundação “Fé e Cooperação” de Portugal e aos grupos de brasileiros. “Deixa-vos guiar pela ternura divina, para que possais transformar o mundo com a vossa fé”, conclui Francisco, abençoando os fiéis. 
CNBB com informações e foto do News.va