Aqui no Brasil há tempo uma parcela
da população está perdendo o sentido de Deus. Muitos negam sua
existência. Os meios de comunicação social noticiam crimes, assaltos,
estupros, abusos sexuais, sequestros, assassinatos etc. numa escala sem
precedentes. Acredito que muitos dos que se entregam à vida de crimes e
violências são movidos pela injusta distribuição dos bens que provocam
fome e miséria, pela disseminação do narcotráfico etc. Obviamente há
também quadros patológicos motivadores de crimes brutais e hediondos.
Todavia, não se pode deixar de mencionar um fator, ainda mais profundo
ou decisivo para explicar a onda de crimes e violências aqui no Brasil e
no mundo.
É o filósofo francês Jean-Paul Sartre
quem aponta tal fator mediante o seguinte raciocínio exposto em
“L’Existentialisme est um humanisme?” ( O Existencialismo é um
humanismo?) em 1948. Os pensadores positivistas, no século passado,
declararam a não existência de Deus. Não obstante, estimularam a ética
rigorosa do respeito ao semelhante, da prática da honestidade, da
sinceridade, da veracidade etc. Observa Sarte: “tal posição é
insustentável; porque se Deus não existe, não há autoridade habilitada a
me impor tal ou tal comportamento. Com efeito, em nome de quem um
homem, igual a mim, pode impor-me normas às quais eu devo obedecer
reverentemente?”. Sarte cita então o pensador russo Dostoievski, que
dizia: “Se Deus não existe tudo é permitido”. Sarte julga que a posição
de Dostoievski é mais lógica do que a dos positivistas, e adota-a como
sua. Querer defender uma ética normativa sem Deus, ou seja, baseada
unicamente nos valores humanos, parece a Sarte artificial e
inconsistente. A escola estruturalista mais recente comprovou esta
conclusão; na verdade a “morte de Deus” acarretou a “morte do homem”.
Com efeito, como salvaguardar o que há de respeitável, de intocável ou
de sagrado no homem, se Deus não existe?
A grande pergunta que o homem
contemporâneo formula a si é sobre o sentido da vida. Não há quem não
procure uma justificativa para o trabalho, para a luta e para todo
sofrimento que afeta nossas vidas. É exatamente a existência de Deus que
fundamenta o valor do ser humano, (feito “à imagem e semelhança de
Deus”) e explica os objetivos e a finalidade da vida. Houve quem
considerasse Deus como, rival do homem ou um produto imaginário da mente
do homem ignorante e amedrontado. Tais pensadores realmente nunca
descobriram Deus, e escreveram tão somente na base de caricaturas e
deformações dos conceitos de Deus e de religião. A existência de Deus é
que leva cada um a respeitar o seu semelhante, ainda que isto lhe custe
autodisciplina ou até grande renúncia. Somos todos filhos e filhas do
mesmo Pai. Negar a existência de Deus, como muitos fazem hoje em dia, é
obrigar o homem a criar novos ídolos e novas místicas. O dinheiro e o
“ter” são alguns dos novos ídolos e nosso tempo. O esoterismo e as
inúmeras seitas que aparecem diariamente são exemplos das novas
místicas. Ensinar novamente a “Lei de Cristo”, que é uma lei de amor, de
perdão, de respeito mútuo, de compreensão, de solidariedade e de
diálogo, talvez produzisse melhores resultados contra o mal em nossos
dias. Deus existe e está presente e atuante no mundo, só nos falta
aplicar seu mandamento maior: “Amai-vos uns aos outros como eu vos tenho
amado”.
Pe. Dr. Brendan Coleman Mc Donald, padre Redentorista e assessor da CNBB Regional NE1
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