“A questão central é a distribuição dos benefícios em todos os níveis da vida que essa sociedade pode produzir “
Já faz meses, e se vai intensificando cada vez mais, que um grande
mutirão de debates percorre o País. Trata-se da 5ª Semana Social
brasileira promovida pela Comissão Episcopal Pastoral para o serviço da
Caridade, da Justiça e da Paz da CNBB. O objetivo é provocar uma
reflexão crítica sobre a história que vivemos na perspectiva de abrir
horizontes para a construção de uma sociedade que possa superar as
diferentes formas de dominação e opressão sobre a maioria da população.
Por isso é questão muito importante aqui não se restringir à análise
crítica das situações negadoras do humano, mas tematizar o horizonte que
exige um reordenamento institucional em nossas sociedades na direção de
pôr o ser humano e a natureza em que somos inseridos como referências
normativas de nosso engajamento no mundo.
Isso de certo modo se contrapõe ao que se faz normalmente entre nós,
pois o costume é não ter projeto explícito e a ação política muito
frequentemente se limita ao curto prazo, voltada basicamente à
efetivação dos interesses de grupos detentores do poder econômico.
O horizonte normativo que move esses debates se exprime enquanto
projeto de uma sociedade em que todos os direitos sejam reconhecidos,
promovidos e garantidos para todas as pessoas. Vivemos num mundo em que
as diferentes revoluções tecnológicas dos últimos séculos abriram
enormes oportunidades potenciais para a vida humana, mas também geraram
grandes desigualdades na riqueza e assimetrias espantosas no poder e nas
diversas oportunidades políticas, econômicas e sociais.
A questão central aqui é a da distribuição dos benefícios em todos os
níveis da vida que essa sociedade pode produzir. A sociedade que
construimos está muito mais preocupada em expandir o mercado com o
fascínio de lucros fabulosos do que, por exemplo, em garantir educação
de qualidade, em fomentar e promover mecanismos econômicos, políticos e
sociais que sejam condições para que os direitos possam atingir a todos.
O grande objetivo da discussão é responder à questão premente de como
fazer uso do gigantesco poderio tecnológico para atender de forma
adequada os interesses em primeiro lugar dos sem direitos e
desfavorecidos da sociedade o que certamente não é possível sem um
reordenamento profundo das instituições que regem a vida social.
O grande economista A. Sen insiste nesse tipo de debate que é
fundamental examinar de que concepção do ser humano se parte e
consequentemente de que concepção do desenvolvimento. Se se parte da
concepção de ser humano como uma realidade complexa, uma configuração de
diferentes dimensões em que não só necessidades físico-biológicas, mas
também valores são fundamentais, então, que deve fazer o
desenvolvimento? Criar oportunidades sociais que contribuam diretamente
para a expansão das capacidades humanas e da qualidade da vida. Daí sua
tese básica: os poderes dos mecanismos de mercado têm que ser
suplementados com a criação de oportunidades sociais básicas para a
equidade e a justiça social.
Por Manfredo Oliveira, filósofo - manfredo.oliveira@uol.com.brArtigo publicado em O POVO 19 agosto 2012: http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2012/08/18/noticiasjornalopiniao,2902102/rumo-a-uma-nova-sociedade.shtml
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