Jesus abre mão dos direitos de “Filho do Dono” – até
mesmo do poder temporal e econômico. No Evangelho de hoje, estamos
diante de dois problemas.
O primeiro problema consiste em pagar o imposto do Templo que se vai
resumir na entrega de Jesus a Seu Pai. E, por isso, fala da morte pela
qual será necessário passar para poder ter vida eterna com o Seu Pai: “O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens, e eles vão matá-lo; mas três dias depois ele será ressuscitado”.
Todavia, os discípulos não entendem logo de primeira. E por isso ficam
tristes. A tristeza deles pode ser também a minha e a sua, quando nos
tornamos inimigos da Cruz de Cristo ao fugirmos do sofrimento e da
mortificação por amor ao Reino dos Céus.
O segundo problema é o imposto imperial. Partamos do princípio de que
“imposto” implica num domínio sobre os bens da pessoa. Por isso, Jesus
pergunta a Simão: “O que é que você acha? Quem paga impostos e taxas aos reis deste mundo? São os cidadãos do país ou são os estrangeiros?”
A resposta de Pedro foi clara e nos fez ouvir tudo o que deveríamos
ouvir sobre como os grandes tiranizam os estrangeiros, os pobres e
excluídos da sociedade.
Eles [os tiranos] fazem uso dos bens que, em princípio vindos de
Deus, deveriam ser bem geridos para o bem comum de todos os homens e
mulheres. Pois esses bens são pertenças de Deus assim como os homens são
filhos de Deus, antes de ser súditos de qualquer poder. E se eles
tivessem em mente que os bens são dos “filhos do Dono” – no caso “Dono”,
aqui, faz referência a Deus de quem tudo tem a sua origem e destino –
não teriam exigido das pessoas o pagamento de impostos. E, portanto,
eles não teriam a obrigação de pagar impostos.
O confronto e a ruptura entre Jesus e as instituições se dão no nível
mais profundo e decisivo, que supera a própria instituição do Estado e
do Templo. Senão vejamos: o pagamento do imposto ao Templo era
obrigatório para todo israelita, mesmo para os que habitavam fora da
Palestina. Os cobradores do imposto, ao interrogar Pedro sobre o costume
de Jesus a respeito desse imposto, julgavam que Ele se recusava a
pagá-lo, numa forma de ruptura com os esquemas sócio-religiosos da
época. O discípulo lhes respondeu: “Sim, paga!” E foi pedir a Jesus a soma suficiente para cumprir essa obrigação.
Este não põe dificuldade, mas reflete com Pedro a respeito do que
estão fazendo. De fato, por ser Filho do Dono de tudo, como disse
anteriormente, está isento desta obrigação geral. No entanto, está
disposto a abrir mão desse seu direito. A razão é simples: embora seja
livre e secundário pagá-lo, Ele o faz para evitar escândalo. Assim,
apesar de não fazer sentido, livremente paga. Contudo, nessa situação,
era mais importante não indispor os cobradores de impostos em relação à
fé.
A conduta do Mestre revela prudência, ou seja, evitar escandalizar
quem não estivesse preparado para defrontar-se com um gesto de
liberdade. Em última análise, Seu pensamento segue numa direção bem
diferente: Jesus mostra, uma vez mais, qual é a verdadeira missão do
Messias, ou seja, dar a própria vida e ressuscitar.
Quantas pessoas neste mundo não conseguem abrir mão de certos
direitos que possuem, mesmo quando está em jogo a vida, o casamento, o
relacionamento, o emprego só porque tal pessoa é “isso” ou “aquilo”?
Preferem jogar tudo fora. Inclusive a vida do irmão, da irmã, da esposa,
do esposo, do funcionário, colega… Enfim, para defender os seus
privilégios.
Peçamos ao Espírito de liberdade que nos torne capazes de abrir mão
de certos direitos, quando estiver em jogo os interesses do Reino dos
Céus na vida das pessoas.
Padre Bantu Mendonça- Canção Nova
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