Estamos em cima da montanha.
Jesus escolhe os seus apóstolos e lhes apresenta o seu programa de ação,
anunciando ao povo o Seu conteúdo: “Felizes são vocês, os pobres,
pois o Reino de Deus é de vocês. Felizes são vocês que agora têm fome,
pois vão ter fartura. Felizes são vocês que agora choram, pois vão rir…”
Estas palavras foram vida e missão para os apóstolos. São e o serão
para todos os cristãos de hoje e de amanhã. É nossa missão tornar a
sociedade antiga justa e digna, arrancando de seu meio – pela força do
Evangelho – a miséria, a injustiça, a fome.
O cristão deve sentir e encontrar alegria
nas perseguições pelo amor à verdade e à justiça do Reino, pois será
grande, no céu, a sua recompensa. A promessa é do próprio Jesus: “Felizes
são vocês quando os odiarem, rejeitarem, insultarem e disserem que
vocês são maus por serem seguidores do Filho do Homem. Fiquem felizes e
muito alegres quando isso acontecer, pois uma grande recompensa está
guardada no céu para vocês”.
Jesus se dirige, com frequência, à
multidão para advertir sobre o que está por vir. No texto deste
Evangelho, reflete-se este tipo de comunicação com nitidez. Como Mateus,
Lucas nos apresenta uma nova versão das bem-aventuranças: “Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus!”
Digo “nova versão” por causa de algumas
ligeiras diferenças quanto à ordem das colocações. Se Mateus faz da
proclamação das bem-aventuranças um bloco homogêneo de oito declarações
positivas, Lucas nos apresenta dois blocos: um de quatro
bem-aventuranças e outro bloco com outras tantas declarações de
infelicidade, imprecações: “Mas ai de vocês que agora são ricos, pois já tiveram a sua vida boa”.
Podemos dizer que se trata de blocos
opostos: aos pobres opõem-se aos ricos; aos que têm fome contrapõem-se
aos que estão fartos. Além disso, o texto dá grande relevo à anáfora e
ao paralelismo.
O paradoxo é bastante comum em Lucas e
indica uma orientação importante do terceiro Evangelho: o radicalismo da
força transformadora da sua mensagem. Há muita coisa desconcertante,
inesperada neste Evangelho.
“Felizes vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados!” Saciados
por quem? Saciado por Jesus, a verdadeira comida e bebida. Aquele que
nos abre para os novos tempos e, por isso, nos faz firmes e fortes nesta
espera. Quem espera no Senhor – e não vacila nos momentos de amargura –
torna-se um bem-aventurado.
Padre Bantu Mendonça- Canção Nova
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