Jesus termina a última das mal-aventuranças em que previne seus
discípulos contra os falsos aplausos por parte dos judeus, por terem
agido da mesma forma que seus antepassados – recebendo os vaticínios dos
falsos profetas.
E de imediato, Jesus introduz uma nova seção com uma preposição de
contraste, começando uma nova parte de seu discurso. Lucas, como bom
evangelista, reúne as várias sentenças num único texto, exortando-nos ao
desapego e à mansidão, predominando o amor aos inimigos.
Esta atitude deve ser a nossa resposta como cristãos, diante dos
perseguidores que são os verdadeiros inimigos. Resposta que consiste no
novo mandato do amor verdadeiro: “Amem os seus inimigos e façam o
bem para os que odeiam vocês. Desejem o bem para aqueles que os
amaldiçoam e orem em favor daqueles que maltratam vocês. Se alguém lhe
der um tapa na cara, vire o outro lado para ele bater também”. Por isso, esta introdução é solene e reiterativa: “a vós que me escutais eu vos digo”, proclamará Jesus em tom solene e ritual.
Jesus enumera três formas de amor aos nossos inimigos. Inimigos que
podem ser além de perseguidores do nome “cristão”, ser inimigos pessoais
por outras causas evidentemente injustas por parte dos opositores. As
três formas são: fazer o bem a eles, falar bem deles, orar por eles.
Estas três formas correspondem aos três degraus em que o ódio se
manifesta: a separação, a maledicência e a difamação. Se eles o fazem
contra o Nome de Cristo, “vocês devem fazê-lo em meu nome, porque Eu vos ordeno”.
Geralmente, estas palavras de Jesus são tomadas em termos gerais para
todo inimigo pessoal, mas como temos visto mais parecem ser dirigidas
aos discípulos perseguidos pelo fato de serem seguidores de Jesus.
Jesus, dirigindo-se aos seus conterrâneos e discípulos, fala também
para mim e para você. No dia de hoje temos necessidade de bons exegetas
que nos indiquem qual é o alcance das palavras históricas que foram
escritas com diversas intenções.
O conjunto inicia-se com uma profecia de perseguição, para terminar
com uma linha geral de conduta pautada pelo modo de proceder divino,
modelo de todo discípulo de Cristo – como o Pai é o modelo de Seu Filho.
Essa conduta é rica em misericórdia. E queira Deus seja a nossa.
A Misericórdia Divina explica a existência do mal no mundo sem
recorrer a um “deus do mal” como seria o dos gnósticos ou a um “diabo
super-poderoso”. Deus espera a conversão do pecador e, se isso não se
dá, Ele segue os passos que Jesus mostra no trecho de hoje: faz o bem
também ao pecador, ou como diz Mateus: “faz sair o sol para maus e bons e derrama a chuva sobre justos e injustos”.
O “politicamente correto” não é sempre o eticamente permitido. Por
isso, a Igreja será sempre condenada e perseguida quando ambas asserções
não coincidirem.
O ponto fundamental nesse texto é que o discípulo deve ter Deus como
modelo. Pois Deus é pura gratuidade, dá sem exigir nada de volta, não
julga, nem condena, e é bondoso e misericordioso para com todos. No que
se refere às reações humanas – na comunidade e na sociedade – Jesus nos
ensina: “Sejam misericordiosos, como também o Pai de vocês é misericordioso”.
Terminamos dizendo que neste Evangelho de hoje Lucas nos apresenta um
Deus que é gratuidade, que se manifesta na misericórdia. Assim, seguir
Jesus como discípulo, ontem como hoje, exige um enorme esforço para que
essa relação de misericórdia seja característica das nossas vidas
cristãs, tanto no nível pessoal como comunitário.
Padre Bantu Mendonça- Canção Nova
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