Deus quis fazer-nos participantes da Sua santidade
Somente
Deus é santo! A Ele toda a glória e adoração! É isso que dizemos em
cada celebração eucarística: Santo, Santo, Santo! Desta maneira, nós
celebramos a transcendência do Senhor que está acima de tudo e do qual
tudo depende. Diante do Deus Santo e, neste sentido, do Totalmente
Outro, a nossa proclamação acaba por emudecer-se, pois diante d'Ele
cessam as palavras humanas: “à medida que nos aproximamos do cimo, as
nossas palavras diminuirão e, no final da subida a essa montanha, nós
estaremos totalmente mudos e plenamente unidos ao Inefável”
(Pseudo-Dionísio Areopagita, Teologia Mística, c.3).
Não obstante, Deus quis fazer-nos participantes da Sua santidade. Por
Seu desígnio salvador, nós fomos consagrados no momento do nosso
batismo e nos aproximamos da montanha da santidade. A partir daquele
momento, a santidade para nós pode ser descrita como um processo no qual
confluem a graça de Deus e a generosa correspondência humana. Neste
processo tem lugar uma luta constante na qual um filho de Deus vai se
parecendo, cada vez mais, com o seu Pai-Deus à espera de que um dia se
manifeste a plena semelhança com a divindade no próprio ser da criatura.
A santidade é acessível a todos, porque Deus quer que todos os homens
e mulheres sejam santos, isto é, participem da Sua vida e de Seu amor. O
Pai deseja que, por meio da ação do Espírito Santo em nós, nos
pareçamos cada vez mais com Seu Filho Jesus Cristo. Em resumo, a
santidade é o desenvolvimento da nossa filiação divina: “desde agora
somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser.
Sabemos que quando isto se manifestar, seremos semelhantes a Deus,
porquanto O veremos como Ele é” (1 Jo 3,2).
Como se pode observar, a serpente astuta que aparece no livro do
Gênesis, enganando os nossos primeiros pais, não estava tão equivocada:
podemos ser como deuses, ou seja, podemos ser divinizados pela graça de
Deus e nos parecermos com Ele já aqui nesta terra, e depois, eternamente
no céu. O erro da serpente não estava nesta afirmação – sereis como
deuses –, mas no método para alcançar esse objetivo. A serpente
demoníaca propôs o orgulho e a desobediência para alcançar a
divinização. Nada mais contraditório! O caminho é justamente outro: a
humildade e a obediência acompanhadas da mais nobre de todas as
virtudes: a caridade.
“Deus é amor” (1 Jo 4,8.16) e nós podemos amar, “mas amamos, porque
Deus nos amou primeiro” (1Jo 4,19). A santidade se mede pelo amor: quem
mais ama é mais santo; quem menos ama é menos santo; quem não ama nada,
não é santo. De tudo isso é fácil concluir que a santidade não é algo
exterior, caricaturesca, rígida, sombria ou até mesmo triste. Não! O
santo é uma pessoa com uma profunda vida interior, com uma grande
unidade de vida, uma pessoa coerente, flexível, cheia de luz e de
alegria. Uma pessoa santa é um ser humano bem normal no seu dia a dia,
mas os outros intuem que leva dentro de si algo diferente: o amor de
Deus atuante e atualizador. Se o Senhor, o Totalmente Outro, quis
fazer-se um de nós, quanto mais nós, sendo o que somos, devemos ser nós
mesmos! Que sejamos cada vez mais simples, amemos de verdade, façamo-nos
próximos aos outros seres humanos. Nós estamos, efetivamente, inseridos
na grande massa humana, nós somos como os outros. E, no entanto, Deus
nos conhece pelo nome, nos fez Seus filhos e quer ver-nos um dia com Ele
no céu.
Santidade! Esse é o segredo que o cristão deve ter para aproximar
muitas pessoas de Deus. Mas, por favor, não vamos mostrar a santidade
como uma coisa esquisita, rara, estranha. Vamos ser bem normaizinhos:
comemos, bebemos, trabalhamos, saímos com os amigos e… até tomamos uma
cervejinha (com moderação!). Na verdade, nós somos as pessoas
verdadeiramente normais, porque a vivência das virtudes humanas
(prudência, justiça, fortaleza, temperança etc.) e sobrenaturais (fé,
esperança e caridade) vai não somente nos divinizar, mas também nos
humanizar cada vez mais. Quem quer ser uma pessoa humana verdadeiramente
realizada tem mais que olhar para aquele que é Perfeito Homem, Jesus
Cristo, e unir-se a Ele para ser divinizado por Ele, que é Perfeito
Deus.
Quem são os santos? Uns bem-aventurados, os felizes desta terra. Quem
pode ser santo? Todos. Como ser santo? Basta se unir a Deus pelos
sacramentos da oração e duma luta contínua para dar gosto ao Pai, ao
Filho e ao Espírito Santo. Qual é a finalidade de uma pessoa santa?
Unir-se ao Santo dos santos e arrastar livremente muitas outras pessoas
que lutaram para alcançar a santidade, a felicidade, a plenitude da
vida.
Fonte: bethania
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