Repensar nosso modo de fazer missão significa avaliar que metodologia estamos utilizando, como este processo se torna educativo.
Logo no início do Documento de
Aparecida, há uma afirmação contundente que desafia nossa compreensão e
consequentemente nosso modo de desenvolver nosso processo de
evangelização. O documento afirma no n. 11 “A Igreja é chamada a
repensar profundamente e a relançar com fidelidade e audácia sua missão
nas novas circunstâncias latino americanas e mundiais”.
Dois verbos dão ênfase à frase em apreço
– repensar e relançar. Repensar nosso modo de fazer missão significa
avaliar que metodologia estamos utilizando, como este processo se torna
educativo, se vai amadurecendo o modo de compreender qual o papel da
Igreja, sobretudo quando se volta para si mesma para tomar consciência
de que é servidora do mundo, se todos os que estão envolvidos no
processo são considerados como interlocutores e não destinatários, numa
relação simétrica, dialógica e não autoritária, se leva em consideração a
articulação entre os três eixos fundamentais do significado da missão
no referido documento = discipulado-missão-vida, dando uma compreensão
total dos elementos constitutivos da missão.
Repensar e relançar a missão numa
sociedade em profundas e rápidas mudanças significa não repetir fórmulas
que podem ser consideradas caducas que foram válidas para determinado
momento da história mas que hoje não ajudam na transmissão da fé. Neste
sentido, vale a pena avaliar toda a nossa pastoral, seja ela de
preparação para a recepção dos sacramentos ou outras mediações, que
precisam ser pastorais conteúdos missionários.
Repensar e relançar a missão significa
aproximar-se de duas práticas que têm um peso popular muito grande, que
são as missões populares e visitas missionárias. No que diz respeito às
missões populares, geram a impressão de que podem tornar nossas
paróquias mais missionárias. Elas podem ser consideradas como um momento
de animação missionária de valor, mas não transformam nossas paróquias,
porquanto, terminado o processo das mesmas, as paróquias continuam com a
mesma estrutura, a catequese de iniciação à vida cristã (batismo, 1a.
Eucaristia e Crisma) continuam com a fórmula anterior, não conduzem para
aquilo que está destacado acima, para o discipulado (seguimento de
Jesus) e não toca na vida das pessoas especialmente aquelas mais
machucadas que precisam da nossa solidariedade, não encara os desafios
do meio ambiente.
Por outro lado, tem-se desenvolvido
muito hoje em dia em nossas atividades as visitas domiciliares.
Considero-as importantíssimas porque se trata de uma atividade que põe
as pessoas em contato mútuo, numa perspectiva de relacionamento, desde
que se constituam em um ministério da visitação, como atividade
permanente, com os missionários sendo preparados para exercerem tal
ministério, evitando assim improvisações que podem causar embaraços.
Muitas experiências negativas têm acontecido neste campo, quando estas
visitas são utilizadas para se saber quem não é casado, batizado, ainda
não fez primeira eucaristia… ora, afinal de contas o agente externo, o
visitador, está “invadindo” um ambiente que não é seu. Estas visitas
podem também se revestir de uma eficácia enorme, quando o missionário
faz discretas anotações daquilo que percebeu e a paróquia institui um
momento de partilha e socialização da experiência, não apenas para uma
avaliação da iniciativa em si, mas também das percepções de fatos da
vida das pessoas que exigem a solidariedade e a presença da comunidade
eclesial como resposta, como testemunho.
Uma igreja (paróquia) em estado
permanente de missão irradia o anúncio do evangelho em todo o seu
território. Descentralizando este território em setores ou áreas, dá
vida aos mesmos e no processo de evangelização gesta proximidade entre
as pessoas e visibilidade da comunidade eclesial. Não basta
descentralizar, é importante que estes setores se movimentem, tenham
vida eclesial.
O Documento de Aparecida já tem cinco anos de existência. Que provocações ele despertou em sua paróquia?
*Almir Magalhães é padre da Arquidiocese
de Fortaleza, diretor Geral da Faculdade Católica de Fortaleza e mestre
em Missiologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Fonte: Arquidiocese de Fortaleza
Nenhum comentário:
Postar um comentário