Comemoramos
50 anos do Concílio Vaticano II. Um dos dois primeiros documentos publicados por
ele foi justamente sobre as comunicações: “Inter Mirifica”. Um decreto curto,
mas que abriu o caminho para muitos outros documentos importantes sobre o tema
na Igreja e, principalmente, colocou a comunicação como um assunto importante
para a evangelização. Foi esse documento que criou o Dia Mundial das
Comunicações, que começou a ser celebrado há 47 anos com o Papa Paulo VI.
Neste domingo da Ascensão do Senhor no Brasil,
quando escutamos o mandato missionário para sermos testemunhas do Ressuscitado
até os confins do mundo conduzidos pelo Espírito Santo, sentimos como é
importante o tema da comunicação entre nós, especialmente quando estamos há
pouco mais de dois meses da realização da Jornada Mundial da Juventude aqui no
Rio de Janeiro, que tem justamente por tema o “fazer discípulos entre todos os
povos”, com o mesmo mandamento do “Ide”.
O tema deste ano, o 47º Dia Mundial das
Comunicações Sociais, é “Redes sociais: portais de verdade e de fé; novos
espaços de evangelização”. Foi anunciado na festa dos arcanjos Miguel, Rafael e
Gabriel, em 29 de setembro passado. Sua mensagem foi publicada no Dia do
Jornalista, em 24 de janeiro deste ano,memória de São Francisco de Sales, pelo
Papa Bento XVI.
O texto recorda que as redes sociais são
importantes portais de verdade e de fé. Isso nos faz lembrar que em sua mensagem
para a Jornada Mundial da Juventude o Santo Padre também recordou a importância
do jovem saber utilizar bem as redes sociais como espaços de evangelização.
Nestes dias, em que estamos na alegre expectativa
da Jornada Mundial da Juventude Rio2013, e alguns dias após a publicação da
agenda oficial do Papa Francisco aqui no Brasil, poder meditar e aprofundar a
importância da comunicação é fundamental.
Hoje é impossível não perceber o valor e a
centralidade que os meios de comunicação social conquistaram em nossa sociedade,
sobretudo quando associados à globalização. A Igreja tem acompanhado com uma boa
proximidade o desenvolvimento da mídia em nosso tempo, especialmente com a
publicação de belos e importantes documentos.
Para a Igreja, que neste Ano da Fé esforça-se no
objetivo de enfatizar a importância da fé como dom sobrenatural, por meio do
qual nos comunicamos de maneira interpessoal com Deus, é imprescindível uma
justa reflexão acerca de dois pontos fundamentais, por meio dos quais a vivência
da fé é destacada em nossa sociedade: a juventude e os meios de comunicação. Daí
vem o tema escolhido pelo Papa, que vê nas redes sociais oportunidade de ser
portal da fé, da verdade e espaço de evangelização.
A juventude possui uma devida centralidade pelo
fato de nela concentrarem-se as esperanças da Igreja em um mundo melhor, onde os
valores cristãos sejam fundamental e espontaneamente vivenciados e haja uma
cultura sempre baseada na revelação do amor de Deus, que enviou o Seu Filho
Jesus Cristo para salvar a humanidade. Os nossos jovens, por isso, são o retrato
da nossa sociedade que se constrói para o amanhã novo, e essa certeza faz com
que confiemos a eles a missão de serem discípulos e missionários da nova
evangelização que queremos realizar.
Os meios de comunicação social, conectando
milhões de pessoas nos quatros cantos da face da Terra, são capazes de promover
e levar a cabo a mensagem cristã, de maneira a alcançar um sempre crescente
número de pessoas a quem tal mensagem toque, sensibilize e permita a Cristo
chegar ao interior dos seus corações.
Por isso, o interesse da Igreja pelos meios de
comunicação social sempre possuiu um particular relevo, seja quando ilumina com
as orientações éticas, seja quando os utiliza para anunciar a vida em Cristo.
Por meio dessas maravilhosas invenções técnicas pode-se contribuir para a
comunicação global e para que diversas necessidades humanas sejam sanadas, e
pode-se, sobretudo, contribuir para a necessidade do homem de ir ao encontro com
Deus.
Desta forma, como pastores da Igreja, temos
diante de nossos olhos a necessidade de aproximar a juventude cristã e os meios
de comunicação social, fazendo deles os instrumentos mais eficazes possíveis na
missão de alavancar a propagação da fé, na perspectiva de uma autêntica e nova
evangelização, como bem recorda o tema do próximo Dia Mundial das
Comunicações.
Porém, o grande segredo para que os meios de
comunicação sejam bem utilizados e sirvam para anunciar a vida, a verdade e a fé
supõe que a pessoa que o utiliza seja alguém bem formado e orientado como
cristão, com suas convicções claras.
Certamente, os novos e sofisticados meios de
comunicação social que temos hoje são de pleno domínio da nossa juventude. A
Geração Z, dizem, já nasce com o dedo no teclado. A internet revolucionou a
comunicação e contribuiu largamente para estreitar as fronteiras entre nações e
continentes, e instaurou a consciência de globalização. Ela, com seus sites de
relacionamento social, é capaz de transmitir mensagens, pensamentos, ideias,
imagens e tipos de conteúdos os mais variados possíveis sobre diversos assuntos,
e com isso fazê-los chegar a um número incomensurável de pessoas. Que o digam
também os modernos recursos de comunicação presentes nos smartphones, em que é
possível sempre armazenar tanto conteúdos audiovisuais, quanto escritos de fácil
acesso e divulgação, por meio dos quais seria muito importante levar adiante a
mensagem do Evangelho. Antigamente as pessoas usufruíam do computador para
utilizar a internet. Hoje a pessoa leva consigo o computador e toda uma
convergência de mídias em suas mãos.
Diante dessa constatação, cabe a nossa juventude,
sempre tão conectada e imersa na interatividade que a internet lhe proporciona,
levar ainda mais a mensagem cristã ao mundo e com isso “conectar” o mundo a
Cristo. É muito interessante ver como as redes sociais levam ideias e mensagem
cristãs.
É claro que o meio eletrônico não substitui o
presencial, pois necessitamos de uma vida em comunidade. Mas, ao “compartilhar”
Cristo com todos aqueles a quem podemos atingir por meio de nossos “cliques”,
devemos levá-los a uma participação presencial em nossas comunidades e ao
entusiasmo pelo Cristo como Salvador.
A juventude de hoje, que é digitalmente nativa,
deve ter a alegria da fé e anunciar o Evangelho, à sua maneira, para os seus
coetâneos. Constata-se hoje que a internet está contribuindo para promover
transformações revolucionárias no comércio, na educação, na política, no
jornalismo, nas relações transacionais e interculturais, e que essas mudanças
manifestam não só uma transformação no modo de os indivíduos se comunicarem
entre si, mas na forma de as pessoas compreenderem a sua própria vida. Formou-se
uma nova cultura!
É importante, também, destacarmos que os meios de
comunicação social mais antigos, como o jornal, a revista, a rádio e a
televisão, de modo algum tornaram-se obsoletos, pois estão presentes nessa
convergência de mídias que hoje existe e, por isso, permanecem a exercer papel
importantíssimo na informação e formação cultural de nossa sociedade. Nessa
perspectiva, à juventude, com suas inovações e dinamicidade, fica o desafio que
a nova evangelização objetiva, ou seja, promover o uso de tais meios como forma
autêntica de propagação da fé, enfatizando sempre seu caráter vivificante e
transformador, ao passo que sempre sublinhando seu fundamento: o encontro
pessoal com o Senhor.
‘’Ide e fazei discípulos entre os povos’’ (Mt
28,19), eis o lema da Jornada Mundial da Juventude Rio2013, que estamos nos
preparando para celebrar dentro do contexto deste Ano de Fé que ora vivenciamos.
Reunir milhões de jovens das várias partes do mundo é vivenciar em grandes
proporções aquilo que já é vivenciado no dia a dia da Igreja: o encontro pessoal
com Jesus Cristo, caminho, verdade e vida (cf. Jo 14,6).
Precisamente aqui está o desafio fundamental que
afrontamos: encontrar meios para promover e formar discípulos e missionários que
respondam à vocação recebida e comuniquem por toda parte, transbordando de
gratidão e alegria, o dom do encontro com Jesus Cristo.
Ora, faz parte da vivência da fé cristã o
testemunho do que ela representa e do que é, pois o cristianismo, como já nos
enfatizara o Santo Padre, não nasce de uma bela ideia ou de um programa ético
simplesmente, mas de um acontecimento, ou seja, de um encontro com uma pessoa:
Jesus de Nazaré. A fé cristã, portanto, baseia-se no “encontro pessoal” com
Aquele em quem está a felicidade plena e a resposta para as nossas mais
profundas interrogações e buscas acerca do sentido último da vida. É preciso,
portanto, que O demos cada vez mais a conhecer a todos, para que, por meio desse
encontro pessoal com Ele, encontrem também a verdadeira felicidade. É nossa
missão fazê-lo.
Por isso, para corresponder à vivacidade e à
beleza que este encontro pessoal com Cristo realiza na vida de todo aquele que
crê e que por isso leva-o a confessar Cristo e não se envergonhar d’Ele,
conclamo aos jovens para que façam das redes sociais, dos meios de comunicação
social, verdadeiros instrumentos de testemunho da fé cristã, a fim de que em
tudo seja Deus glorificado por Jesus Cristo e para que correspondamos ao mandato
do Senhor de ir ao mundo, pregando o Evangelho a toda criatura.
Que a JMJ faça de cada jovem o evangelizador do
novo milênio que a Igreja tanto necessita: sinta em seu interior o ardor
missionário que impulsionou os primeiros cristãos a proclamar, sem temor e em
toda parte, a Boa Nova de Cristo, e, agindo como eles, realizem a obra da nova
evangelização à qual a Igreja propõe no mundo atual.
Por Orani João Tempesta, Arcebispo de São Sebastião
do Rio de Janeiro (RJ).
Fonte: CNBB
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