Por Jaime C. Patias
19 / Nov / 2013 09:06
Com olhos e ouvidos atentos, os participantes do 9º Encontro Nacional Fé e Política abriram o coração para saborear as sábias reflexões do teólogo e biblista do povo, frei Carlos Mesters. A conferência encerrou o evento que reuniu quase três mil lideranças no feriado da República, dias 15 a 17 de novembro na Universidade Católica de Brasília (UCB), campus de Taguatinga Sul (DF), e teve como tema “Cultura do Bem Viver: Partilha e Poder”.
Carlos Mesters repassou textos bíblicos e contando histórias destacou a centralidade da palavra de Deus para a leitura da realidade. Comparou os vários cativeiros enfrentados pelo Povo bíblico com o cativeiro de hoje representado pelo capitalismo neoliberal que mata a vida. “Ouvimos que lá no Mato Grosso do Sul mataram índios só para se apropriarem de suas terras. Este é um cativeiro, mas mesmos assim nós temos esperança”, disse o teólogo e em seguida, enumerou sete passos da cultura do Bem Viver para a saída do cativeiro.
2. Redescobrir a força da palavra. “Os indígenas veneram muito a palavra. E Isaías diz: ‘tudo é capim, tudo passa. A única coisa que permanece é a palavra de Deus’, recordou o biblista. “No cativeiro, a única coisa que eles tinham era a memória. A pior coisa que pode acontecer a uma pessoa é perder a memória e pior ainda é um povo perder a memória”, completou. “E os meios de comunicação hoje, pela maneira de apresentar a história muitas vezes apagam em nós a memória”. Mesters recordou que 50 anos atrás, quase ninguém tinha a Bíblia em casa e hoje todos têm. “Estamos recuperando a palavra de Deus. A palavra é para conversar e quando estamos nos círculos bíblicos estamos nos confrontando com a palavra de Deus. Isso é conversão, uma conversa grande”. E jogou com as palavras: “conversa = conversão”.
4. Uma nova experiência de Deus, uma nova imagem de Deus. “No cativeiro sem terra, sem templo, nem sacerdote, a única coisa que sobrou foi a família, o pai, a mãe, uma família quebrada, fraquinha, mas é o único lugar onde podem falar com liberdade. Nesse pequeno espaço da família eles experimentam Deus. Experimentam o amor de Deus e inventam nomes novos para Deus. Isso aparece somente em Isaías por quem Deus é chamado de Mãe, Pai, Marido e nós somos sua esposa. Ele é também o Irmão maior. É um Deus de família. Nas experiências da vida formamos a imagem de Deus. Depois de tantos anos de caminhada no Movimento Fé e Política, a nossa ideia de Deus melhorou ou não?”, perguntou Mesters.
Ontem foram lembradas as manifestações de ruas do mês de junho. Qual é a palavra de Deus que está nesse movimento? Qual é o apelo de Deus? Conversando, lendo a Bíblia a gente vai descobrir e aí fazemos do mundo uma ‘teofania’(manifestação de Deus) e o mundo se torna de novo transparente para nos falar de Deus. Nesse ponto também podemos aprender muito dos povos indígenas”.
7. Descobrir uma nova pastoral, uma nova maneira de anunciar a Boa Nova. Carlos Mesters entende isso como “uma nova ação política, uma nova ação de convivência entre nós”. Ele destaca as seguintes palavras: ternura, diálogo, reunião, consciência crítica e alegria. “Ternura significa acolher as pessoas, respeitar. Para quem está sofrendo muito não adianta chegar com imposição, tem que acolher, cuidar da ferida do coração. Não se impor, mas conversar para produzir o conhecimento, ser aprendiz. Na Igreja temos uma Encíclica chamada Mater et Magistra (Mãe e Mestra). Falta-nos outra chamada ‘Aluna e Aprendiz’. Fazer encontros, honrar o Sábado, tirar um dia por semana para conversar. Com consciência crítica o povo tenta aumentar a fé por dentro e diminuir o peso do sistema opressor. Hoje a gente lê a Bíblia e os acontecimentos com consciência crítica para achar a saída. Volta o equilíbrio e o povo renasce. E por fim temos a alegria!”. A dimensão da festa.
No encerramento dos trabalhos, um momento de mística retomou os símbolos da abertura: fogo, água, terra e ar. Dessa vez, a simbologia ganhou maior significado e força com uma dança guarani onde os participantes formaram um círculo para, de cabeça erguida, braços entrelaçados e pisadas firmes cantar a resistência da cultura do Bem Viver.
O ipê, árvore típica do cerrado foi símbolo do Evento. Uma última ação recordou as nove edições do Encontro Fé e Política ao plantar nove mudas da árvore na entrada principal do Campus da Universidade. Cada participante no evento recebeu nove sementes de ipê para multiplicar a ação em sua cidade. Isso para repor o carbono gasto em média por cada pessoa e educar para o cuidado com a natureza.
Fonte: POM
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