domingo, 7 de dezembro de 2014

2º Domingo do Advento - Ano B

Por: Padre Wagner Augusto Portugal


"Povo de Sião, o Senhor vem para salvar as nações! E, na alegria do vosso coração, soará majestosa a sua voz!" (Is 30,19.30) 
Irmãos e irmãs,

Caminhamos, na meditação da Sagrada Liturgia, em busca da contemplação, na esperança da salvação.

A partir deste segundo domingo do Advento, a perspectiva escatológica de nossa existência é iluminada desde a sua “fonte”, ou seja, a primeira vinda de Cristo.

Enquanto no primeiro domingo meditávamos acerca da segunda vinda de Cristo, após um esboço apresentado pelo escritor sagrado de uma visão escatológica do dia de hoje à luz da segunda vinda, nas demais semanas do Advento recordamos e contemplamos o acontecimento definitivo da primeira vinda. Na primeira vinda do Cristo está arraigado o sentido definitivo de nosso existir: é o momento fundador. Jesus Cristo é o início e o fim de toda a existência humana. Jesus Cristo é o alfa e o ômega (Ap 22,13).

A chegada deste momento fundador é a grande notícia da História, a boa-nova por excelência. O Evangelho Marcos, cognominado o querigmático, vê como início desta boa-nova o apelo à conversão, lançado por João no Evangelho, realizando plenamente o que Isaías prefigurou quando, pelo fim do exílio babilônico (ano de 535 a.C.), conclamou o povo para preparar um caminho para Deus, que reconduziria os cativos.
Era, pois, um apelo à conversão, pois deviam preparar a volta, “voltando” (= convertendo-se) para Deus, quando determinara o fim do castigo (Is 40,2), como ouvimos na primeira leitura.

Deus reconduz os cativos. Ele mesmo vai com eles. Como um imperador na entrada gloriosa (parusia), ele se faz preceder pelos frutos de suas conquistas: o povo resgatado (40,10). Como um pastor, reúne suas ovelhas. E, com que ternura, Leva os cordeirinhos nos braços e conduz devagarzinho as ovelhas que amamentam! (40,11)
Meus irmãos,

São Marcos inicia o seu Evangelho(cf. Mc 1,1-8) com a figura da pregação de João Batista, o precursor. Marcos é o único Evangelista que começa a sua pregação já com o tema que se tornará central na pregação de Jesus e dos Apóstolos: a conversão. E uma conversão que está ligada a “Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1,1). Tudo se inicia, se desenvolve e tem um fim em Jesus Cristo, o Alfa e o Ômega, o início e o fim de toda a humanidade.

São Marcos, em duas palavras, anuncia a origem do Messias: é da terra e tem um nome, Jesus; e é o enviado, o escolhido do Senhor (Cristo) e é mais do que alguém que fala em nome de Deus (=profeta): é o próprio Filho de Deus. Pouco mais à frente, ainda no primeiro capítulo (Mc 1,15), São Marcos diz o porquê devemos nos converter. Devemos nos converter porque é chegado o Reino de Deus, o novo modo de viver, que abrange a criatura humana em toda a sua plenitude e Deus na pessoa de Jesus de Nazaré.

Lembramos que Marcos é o primeiro evangelista, é de sua autoria o texto mais antigo acerca da vida, da obra e do mandato de Cristo. O seu Evangelho foi escrito, provavelmente, entre os anos de 65 a 70 da era cristã. Portanto, as mais remotas aspirações do cristianismo nele podemos absorver: a conversão, a caridade, a confiança na Palavra de Deus.
Queridos irmãos,

A mesma palavra que abre o Evangelho de João é a mesma palavra que abre o Livro de Gênesis: o princípio, o alfa, ou seja, a criação. Nos primeiros versículos do Gênesis, o escritor inspirado relata a criação do mundo; nos primeiros versículos do Evangelho de São Marcos, Jesus Cristo, aquele que veio resgatar a humanidade decaída, desde o Gênesis, é apresentado como a fonte da criação. E ao longo do livro, o querigmático anuncia que Jesus não só está no princípio, mas é também o centro da nova Família de Deus e permanecerá para sempre com ela. Mesmo depois da Ascensão, ele se conservará no meio da comunidade, vivo e atuante. Três vezes o Apocalipse põe na boca de Jesus: “Eu sou o primeiro e o último, sou o princípio e o fim” (cf. 1, 8; 21,6; 22,13).

São Marcos nos dá a finalidade da obra de Jesus: Evangelho - palavra que significa a boa-nova, a boa notícia. Jesus - nome hebraico que significa “Deus salva”. Cristo - outra palavra grega, que significa “ungido para ser rei”. Portanto, Filho de Deus é a verdade central do Evangelho, que é, assim digamos, a boa-nova que Jesus trouxe à humanidade e as boas-novas sobre a pessoa e os ensinamentos do Filho de Deus, Salvador e Rei.
São Marcos nos ensina que é Deus quem toma a iniciativa da salvação. É Deus quem manda o seu filho Jesus a este mundo. Deus quem manda o mensageiro para anunciar a chegada do Messias.

Por isso, Deus quer nos mandar um recado especial neste advento: devemos voltar o nosso coração e a nossa mente para Ele, isto é, converter-nos, fazer coincidir os caminhos de Deus com os nossos caminhos; fazer coincidir o coração de Deus com o nosso coração. Que nós tenhamos os nossos sentimentos voltados aos sentimentos da Trindade Santíssima.
Caríssimos irmãos,

João Batista nos é apresentado hoje como deve ser cada um dos batizados. João Batista está atento aos acontecimentos, abrindo caminhos, endireitando estradas, falando de penitência e conversão, purificando o povo. João Batista é o Símbolo do homem vigilante, é o exemplo de pessoa pronta para receber a boa-nova do Messias. No último profeta encontramos as qualidades de quem está preparado para abraçar os novos tempos, a nova realidade dentro da história da salvação.

Antes de tudo, o desprendimento, manifestado na sobriedade do comer e do vestir (Mc 1,6). Em segundo lugar, a humildade diante da pessoa e do mistério de Jesus, manifestada na afirmação de não ser digno de ser seu escravo (Mc 1,7). Desprendimento que é transformado em oferta humilde de entusiasmo pela causa de Jesus (Mt 1,4-5). Assim, o verdadeiro profeta é alguém cheio de Deus e que fala de Deus. João Batista é o último profeta do Antigo Testamento, o primeiro a anunciar a plenitude dos tempos (Gl 4,4) com a chegada do Messias.

Ora, João Batista se vestia com pele de camelo, como Elias se vestira (2Rs 1,7). João Batista andava com um cinto de couro à cintura, para demonstrar a sua sobriedade, pureza, sempre aberto à voz do Senhor, pronto para aonde Deus quisesse (Lc 12,35). João comia gafanhotos e mel do campo para significar que se alimentava de alimentos fortes, obtendo saúde necessária para ser o arauto do Salvador.

João anunciou: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas estradas” (Mc 1,3).  Revestido de autoridade, ou seja, agindo em nome de Deus, o Batista anuncia a derrota do mal e do pecado. O mel, encontrável em abundância no deserto, é o símbolo reluzente da palavra de Deus (Sl 19,11). Ao alimentar-se, portanto, da palavra de Deus, com a força deste alimento, transmite-se ao povo a chegada daquele que é a Palavra de Deus encarnada, a Palavra Eterna, o Cristo.
Queridos irmãos,

Para aderir, para seguir, para ser discípulo, para ser arauto de Cristo é preciso, primeiro, a confissão dos pecados, a conversão do coração e da vida (Mc 1,4).  Conversão significa mudar por inteiro de direção, mudar o modo de pensar, voltar-se para Deus. A criatura humana saiu pura do sopro de Deus e somente pura pode voltar a ele. Precisamos, com grande entusiasmo, ter coragem e ardor para mudar o comportamento, mudar o modo de pensar e de agir, para dar testemunho do modo de pensar, de comportar-se e de agir de Jesus. Devemos dar uma guinada em nossa vida para que a sua meta seja Jesus Cristo.

O batismo para João foi de água, mas ele anunciava que “um batizará com o Espírito Santo” (Mc 1,8). Ele acenava para Jesus, para quem o Espírito Santo, descido em forma visível e perene no dia de Pentecostes, anunciou sua divindade. É o Espírito Santo quem dá a vida sobrenatural a seus fiéis. O batismo, conforme nos ensina o Direito da Igreja, “porta dos sacramentos, em realidade ou ao menos em desejo necessário para a salvação, pelo qual os homens se libertam dos pecados, são de novo gerados como filhos de Deus e incorporados à Igreja, configurados com Cristo por caráter indelével, só se administra validamente pela ablução com água verdadeira, juntamente com a devida forma verbal” (Cânon 849 do Codex Iuris Canonici).

O “estilo de vida” de São João Batista constitui uma interpelação pelo menos tão forte como as suas palavras. É o testemunho vivo de um homem que está consciente das prioridades e não dá importância aos aspectos secundários da vida – como sejam a roupa “de marca” ou a alimentação cuidada.

A nossa vida também está marcada por valores, nos quais apostamos e à volta dos quais construímos toda a nossa existência… Quais são os valores fundamentais para mim, os valores que marcam as minhas decisões e opções? São valores importantes, decisivos, eternos, capazes de me dar vida e felicidade, ou são valores efémeros, particulares, egoístas e geradores de dependência e escravidão? Como nos situamos frente a valores e a um estilo de vida que contradiz, claramente, os valores do Evangelho?

Ao acentuar o caráter decisivo e determinante do apelo de João, Marcos convida-nos a uma resposta objetiva, franca, clara e decidida. Não podem existir meias tintas ou tentativas de protelar a decisão… Estamos ou não dispostos a dizer “sim” aos apelos de Deus? Estamos ou não dispostos a aceitar a sua proposta de “metanoia”? Não chega dizer “talvez” ou “sim, mas…”. Deus espera uma resposta total, radical, decidida, inequívoca à oferta de salvação que Ele faz. Isso significa uma renúncia decidida ao nosso comodismo, à nossa preguiça, ao nosso egoísmo, à nossa auto-suficiência e um embarcar decidido na aventura do Reino que Jesus, há mais de dois mil anos, veio propor aos homens…
Caros irmãos,

A segunda leitura de hoje(2Pd 3,8-14) nos anuncia que os cristãos da primeira geração esperavam uma segunda vinda de cristo para breve. Entretanto, o atraso tornava-se sempre mais notável e o escárnio do mundo sempre mais agressivo. Diante da impaciência e, quem sabe, do desespero e da desistência, que isso gerava, Pedro responde: “Deus tem tempo – ele quer que todos se convertam, para que todos possam participar”. Mas, mesmo assim, ele não desiste de seu projeto, pois ele deseja que tudo esteja em harmonia consigo. Só que ele não quer expurgar os “elementos nocivos” da criação, antes que todos tenham a oportunidade de se converter, isto é, de se tornar participantes da vida em Deus. Mas ele realizará, sem que saibamos o dia e a hora, seu “novo céu e nova terra” (2Pd 3,13) e, então, será bom estarmos de acordo com a nova realidade, pois Deus se volta para nós.

Por conseguinte, na esperança da salvação, contribuindo com o projeto de evangelização neste mundo, salvando almas para Nosso Senhor, voltemos para Ele!
Fonte: Catequese Católica

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