quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Nova Casa

Dom José Alberto Moura, CSS
Arcebispo de Montes Claros (MG)

O ser humano surge com a vida oferecida pela natureza. Esta possui limites e fragilidades. Desde o berço os primeiros humanos se fragilizaram, perdendo a oportunidade de contar com a força divina para construir a própria história. Sem Deus ninguém é capaz de superar os limites de suas fraquezas. A inteligência com todas as suas descobertas científicas e a ação construtora do progresso econômico e tecnológico não é capaz, por si só, de ir além de seu potencial. A pessoa humana tem desejo de ir além de si, até chegar o que é próprio do divino. Podemos comparar esse intento como a de alguém desejoso de que seu carro seja como um avião, correndo além de suas possibilidades.

Não fosse o amor ilimitado de Deus, ficaríamos no chão de nossa caminhada terrestre, e até no chão bastante danificado com a agressão humana à natureza e à sua convivência com o semelhante. O Criador se faz presente na nossa história, vindo assumir nossa natureza, mas dando a todos o potencial que perdemos, desde o começo, com nosso veículo existencial impedido de ir até o infinito do Divino. Podemos, assim, chegar até ele de modo plenamente realizador. O Filho de Deus vem restaurar o divino no humano com seu amor, para quem se deixa renovar por Ele.
A nova casa existencial humana é possível. Maria torna-se a sede fundamental da mesma. O anjo lhe diz: “Alegra-te cheia de graça, o Senhor está contigo!” (Lucas 1,28). A esperança renasce para todos, mesmo se multidões desconheçam o fato. O filho de Maria vem à nova casa humana para chamar cada um dos humanos a habitar nela. A Igreja não é a finalidade de tudo. Mas o instrumento querido e necessário do Filho de Deus para indicar a todos que a vida terrestre dos filhos de Deus pode e deve ser a realidade onde todos se tratam como irmãos e irmãos. Fazem, deste modo, uma convivência no amor humano e divino de quem trata o semelhante com desvelo, justiça e solidariedade. A habitação terrestre é importante, mas provisória. É base para o lançamento da vida em direção ao eterno, no encontro definitivo com o Criador.
O rei Davi quis construir uma casa para Deus morar no meio do povo. Mas teve que esperar e preparar a construção para seu filho Salomão executar esse empreendimento (Cf. 2 Samuel 7,1-16). Mais do que uma habitação em sede de alvenaria, Deus, de fato, veio habitar na sede do coração humano. Quem se tornar a casa feita na sustentação do amor divino, torna-se habitação do Senhor. Quando o ser humano se coloca em abertura para aceitar as coordenadas divinas, então vem a ser moradia divina. Suas atitudes são motivadas pelo amor que não tem limites. Torna-se pessoa de promoção do bem na família e na sociedade. Constrói ponte de ligação na harmonia da convivência fraterna e base de promoção da vida digna para todos. Como Maria diz com generosidade: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lucas 1,38). Ela nos ensina a ser a nova casa de Deus.
Fonte: CNBB

Nenhum comentário:

Postar um comentário