Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)
O corre-corrre da vida leva muitos a se ausentarem de um convívio importante no relacionamento das pessoas. Através do uso nem sempre adequado da mídia, muitos se fecham em si mesmos, apesar de terem o mundo diante de si. As relações pessoais na família, entre vizinhos e até entre amigos se arrefecem pela falta de convívio e interação com os outros. Perde-se a oportunidade de assumir a presença com os outros como valor maior do que o fechamento em si mesmo. Este leva a pessoa a se colocar solitária diante de um mundo ao redor, que pede sua presença e ajuda.
Temos a tendência ao egoísmo, que é um modo de proteger-nos e defender-nos de qualquer coisa externa que venha a disputar conosco nossos recursos. Quando bem focalizado, de fato nos ajuda. Porém, o egoísmo exacerbado nos coloca no verdadeiro centro e objetivo de tudo, fazendo-nos egocêntricos. Isso pode afetar nossa realização humana, pois, ninguém é uma ilha, a ponto de não precisar se relacionar e necessitar dos outros. Nossa primeira e fundamental relação é com quem nos deu a existência e as capacidades necessárias para nossa realização humana. Somente somos realizados como pessoas humanas quando usamos nossas capacidades para vivermos com todos os seres humanos, dentro da proposta do Criador, que nos fez sua imagem. Como Ele vive a relação em suas três pessoas, criou-nos para também vivermos, à sua semelhança, com a convivência de amor. Quanto mais entrarmos em sintonia com Ele, mais nos abrimos para o entrosamento benéfico com todos, a partir dos que estão ao nosso redor.
No texto bíblico encontramos a narrativa do menino Samuel, que, vigilante, respondeu ao chamado de Deus, pensando ser o do patrão Eli. Este, porém, orientou-o a responder à voz que o chamava: “Fala, Senhor, que o teu servo escuta” (1 Samuel 3, 18). De fato, responder a Deus com a voz da vida coerente com o projeto dele, faz-nos pessoas felizes. Ele nos dá a missão de servir e amar o semelhante para tornar a convivência verdadeiramente humana, justa, solidária, compassiva e misericordiosa, a exemplo de Jesus, o Filho de Deus. Ele veio nos indicar o caminho que leva à vida plena. Sem marcar presença na vida, buscando o ideal de tornar o convívio social de promoção do bem de cada um, não nos realizamos como pessoas humanas, mesmo tendo todo o conforto de bens, cultura e projeção social.
Quem marca presença na história vive na conduta coerente com a dignidade ética e moral. Paulo fala: “Fugi da imoralidade... o vosso corpo é santuário do Espírito Santo” (1 Coríntios 6,18.19).Supera a tentação do ter, do poder e do prazer buscados como finalidade de vida. O objetivo de nossa caminhada vai além do palpável material, física e psiquicamente. Focaliza-se no humanismo divinizado. Faz a pessoa lançar-se no ideal de servir, de promover a vida e a dignidade humana. Tudo realiza para cooperar com o bem dos empobrecidos e de toda a sociedade.
Marcar presença qualificada na vida, de quem vive o ideal de amar e servir, faz a pessoa buscar força em quem a possa lhe dar. João Batista indicou a pessoa de Jesus para seus discípulos O seguirem. Eles foram ver onde o Mestre morava para terem uma convivência maior com Ele (Cf. João 1,35-42). Certamente aprenderam bem o que significava segui-Lo. Quem se aproxima e convive com Jesus, aceita sua presença na vida para dar-lhe uma direção realizadora. Aprende a colocar em prática o exemplo e os ensinamentos do Senhor, a ponto de ser presença como a do Cristo, que somente faz o bem e promove cada pessoa em sua dignidade.
Fonte: CNBB
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