sábado, 10 de janeiro de 2015

Solidariedade

Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)

Quem tem ao menos um pingo de humanismo abre a mão a quem é fragilizado e necessita de ajuda, compreensão e amor. O Filho de Deus é um mar de solidariedade para com todo ser humano. Aliás, Deus, tão grandioso, não teria necessidade de nada nem de ninguém. Tudo o que fez, dando existência a cada criatura e possibilidade de ter convívio feliz com Ele aqui na terra e na eternidade, mostra seu rebaixamento ao assumir nossa natureza humana. Dessa forma, podemos compreender bem seu exemplo, de modo humano, para nos dar condição e facilitar nossa aprendizagem e seguir seu testemunho.

No batismo de João, de que Ele não precisava, quis mostrar sua solidariedade total para conosco. Precisamos de nos converter e purificar de toda maldade. Aliás, quem mostrou, já nesse batismo no rio Jordão, sua natureza também divina, foram o Pai e o Espírito Santo. O próprio João falou sobre Jesus para seus discípulos: “Eu vos batizei com água, mas ele vos batizará com o Espírito Santo” (Marcos 1,8). De fato, o Messias instituiu mais tarde o batismo com a ação da terceira pessoa divina, marcando a pessoa batizada com o selo divino indelével do seu amor. Dessa forma, a pessoa humana é salva pela solidariedade divina, que nos eleva à condição filial adotiva.
O ser humano batizado é convocado e recebe a missão de também ensinar a prática da solidariedade, que conserta as relações humanas, promovendo a justiça, a inclusão social, a construção da família com os critérios de Jesus, a boa política e tudo o que humaniza e diviniza o convívio social. Quem é batizado não se fixa na relação com o transcendente, sem também conviver amorosamente com seus pares, à semelhança do Filho de Deus. Ele não se fixa nem se fecha só na relação com as pessoas divinas . Torna-se um de nós para que nos realizemos plenamente na terra e façamos dela um verdadeiro trampolim para o lançamento certeiro e plenamente feliz na eternidade. Por isso, só realizamos nossa construção de vida, com resultado feliz e duradouro, na construção da solidariedade humana, como a cruz de Cristo. Ela indica a haste vertical de ligação com o divino, mas está intimamente ligada com a haste horizontal, na relação de amor com o humano. Só a haste vertical ou só a horizontal não é plenamente humana ou divina. O entrecruzamento de ambas, na solidariedade do divino com o humano e na força dela para a convivência de amor com o humano, nos dá a segurança de caminharmos com a cabeça ligada a todo o corpo e vice-versa.
Nosso olhar humano em relação ao próximo, se pleno da imitação do olhar ou do que fez Jesus para conosco, torna-nos pessoas que vêem e valorizam os outros, como lembra S. Pedro: “Deus não faz distinção entre as pessoas. Pela contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença” (Atos 10, 34.35). Como é importante valorizar os outros em casa, na comunidade e na sociedade!
Jesus é o protótipo de quem só faz o bem, que o profeta já falava como se aplicasse diretamente a Ele: “Não esmorecerá nem se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra... Eu, o Senhor, te chamei... te constituí como o centro de aliança do povo... para abrires os olhos dos cegos, tirar o cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas” (Isaías 42, 4.5.6.7). No seguimento do Mestre, assumindo nosso batismo, transformamos a convivência na terra, a ponto de conseguirmos justiça, promoção da dignidade humana e a verdadeira paz.
Fonte: CNBB

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