sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

6º Domingo do Tempo Comum - B




Sede o rochedo que me abriga, a casa bem defendida que me salva. Sois minha fortaleza e minha rocha; para honra do vosso nome, vós me conduzis e alimentais" (Sl 30,3s)

Por: Padre Wagner Augusto Portugal
Meus irmãos, 

A realidade demonstrada no Evangelho de hoje(cf. Mc 1,40-45) é o sofrimento. O sofrimento advindo da letra era duplamente cruel para o povo de Israel, por causa da doença em si e por causa da excomunhão advinda da mesma, prevista pela Lei Levítica, no capítulo 13. Na opinião geral do povo, a lepra devia ser obra de algum espírito muito ruim. Daí, os leprosos eram intocáveis, um tabu! 

E o Evangelho de hoje vem quebrar esse tabu. O leproso reconhece em Jesus sua misteriosa “autoridade e ministério”, seu poder sobre o poder do mal e sobre a letra, como um tabu que excluía aquele que ostentava esta condição.  A purificação da lepra dependia exclusivamente daquele que estava contaminado com esta situação, porque para Deus a fé remove montanha e cura doenças. 

A primeira leitura(cf. Lv 13,1-2.44-46) ilustra a sorte do leproso: exclusão da comunidade, porque não podia permanecer em casa, ou perto de casa, ou dentro dos muros da cidade, ou à beira dos caminhos. Daí que, pior do que a condenação da lepra, era a condenação da solidão, a exclusão do convívio social de todos. O leproso era considerado um maldito de Deus, ou seja, morto para a sociedade e morto, sem esperança, para Deus.

Jesus inova, pois, esse conceito, curando o leproso. Isso é muito significativo, porque arranca o enfermo da morte social e da morte religiosa, é como um ressuscitar dos mortos aqueles que se encontravam mortos pela marginalização. Mas a ressurreição é feita por quem? Ela é feita por Deus. Por isso, a cura do leproso é reservada para Jesus Cristo. 

Meus irmãos, 

O leproso rompeu a restrição da lei judaica, aproximando-se de Jesus. O leproso deveria estar gritando a sua condição de imundo toda a vez que alguém se aproximasse dele.

E Jesus também irrompe a lei, porque chegar perto do leproso era tornar-se impuro dentro da lei judaica. Jesus não só chegou, mas tocou no leproso estendendo a sua mão. Esse gesto é significativo. É um gesto de profunda compaixão, a marca registrada de Jesus. Sua compaixão é fruto do amor, identificando-se com o outro. E essa identificação é antiga, desde a encarnação, entrando na condição de nossa história.

O egoísta não se preocupa com o outro. Mas o egoísmo é um sentimento que não pode ser próprio dos cristãos.  Por isso o leproso suplica angustiado, com humildade e confiança. O importante de tudo é que Jesus provocará uma crescente opção ao seu trabalho a partir do gesto de hoje. O Divino Mestre faz uma releitura das Leis Judaicas, pela sua autoridade própria, fazendo uma análise libertadora e salvífica. 

O leproso pede de joelhos. Ressaltam aqui duas virtudes próprias de quem pede angustiado: humildade e confiança. O orgulhoso tem dificuldade de pedir. Jesus veio para os pobres. Andou com os leprosos. Caminhou com as prostitutas e os desvalidos da sociedade. Visitou os desprovidos e comeu com eles. Tomar refeição com os “lascados” significa participar de sua sorte, ter compaixão de sua situação.

Essa atitude está dentro do contexto da atitude de Jesus no episódio da cura da sogra de Pedro, como vimos no último domingo: “Ela se pôs a servi-los”. Servir sempre! Servir como imperativo da vida cristã. Serviço que vem da cura recebida e compromisso de uma vida nova. Serviço que é diaconia e anúncio, que é kerigma. Diaconia e Kerigma que superam o ritualismo e o legalismo. Diaconia e Kerigma que é a atitude de Jesus diante do Leproso e de todos nós em todos os tempos! 

Meus irmãos, 

Já a Segunda Leitura (1Cor 10,31-11,1) nos ensina uma regra de vida que vale para todos os momentos da vida diária. Paulo chega ao termo de suas considerações sobre o liberalismo dos Coríntios, com relação à questão de participar dos banquetes pagãos e a questão de comer carne sacrificada aos ídolos e depois vendida no mercado. O apelo é uma distinção entre a idolatria e a verdadeira fé. Tudo deve ser feito em constante ação de graças. Por isso, a regra paulina é geral: fazer tudo, comer, beber e todo o mais, de modo que se possa dar graças e louvor a Deus.

Meus irmãos,

A atitude de Jesus em relação ao leproso (bem como aos outros excluídos da sociedade do seu tempo) é uma atitude de proximidade, de solidariedade, de aceitação. Jesus não está preocupado com o que é política ou religiosamente correto, ou com a indignidade da pessoa, ou com o perigo que ela representa para uma certa ordem social… Ele apenas vê em cada pessoa um irmão que Deus ama e a quem é preciso estender a mão e amar, também. 

Como é que lidamos com os excluídos da sociedade ou da Igreja? Procuramos integrar e acolher (os estrangeiros, os marginais, os pecadores, os “diferentes”) ou ajudamos a perpetuar os mecanismos de exclusão e de discriminação? O gesto de Jesus de estender a mão e tocar o leproso é um gesto provocador, que denuncia uma Lei iníqua, geradora de discriminação, de exclusão e de sofrimento.

Com a autoridade de Deus, Ele retira qualquer valor a essa Lei e sugere que, do ponto de vista de Deus, essa Lei não tem qualquer significado. Hoje temos leis (umas escritas nos nossos códigos legais civis ou religiosos, outras que não estão escritas mas que são consagradas pela moda e pelo politicamente correto) que são geradoras de marginalização e de sofrimento. Como Jesus, não podemos conformarmo-nos com essas leis e muito menos pautar por elas os nossos comportamentos para com os nossos irmãos.

Irmãos e Irmãs, 

É necessário deixar por último uma recomendação do Evangelho e de São Paulo: Jesus não queria publicidade. Jesus pediu ao leproso que não contasse como tinha sido curado. Trata-se da questão do chamado “segredo messiânico”, porque Ele não era mágico, e sim o Redentor do gênero humano.

Isso é muito importante hoje em tempos de tensão entre o anúncio e a exibição sensacionalista. Anunciar é preciso, usar muitos e eficientes meios de tornar o Santo Evangelho conhecido é essencial para a missão da Igreja. Fazer isso bem feito, com criatividade e caridade, é apenas dar ao Evangelho a importância que ele merece.

O triunfalismo que busca a glória da instituição ou de qualquer agente evangelizador, porém, traz sempre o perigo de ser superficial e de acabar desviando o foco da mensagem. Uma Evangelização competente, entusiasmada e humilde, com grande diálogo, sem vaidade ou outros interesses menores, é um bom caminho para evitar que o irmão tropece na estrada da fé.
Fonte: Catequese Católica

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