Por Padre Geovane Saraiva*
Temos consciência de que todo ser humano, por decisão de Deus, chega a este mundo com uma vocação primeira e fundamental, que é da sua própria existência. Vocação para ser gente, para ser criatura humana. Por isso mesmo é que é muito importante pensar naquilo que nos é proposto durante a trajetória de nossa vida. Cícero, o maior orador romano, ao tratar sobre a idade da vetustez, que significa mais do que velhice ou idade avançada, quer dizer reverência e respeitabilidade, afirmou: “Vivi de tal forma que sinto não ter nascido em vão”. À medida que o ser humano entende que é necessário percorrer com muita disposição o seu percurso natural, interiormente, cresce e se realiza, encontrando-se consigo mesmo e integrando-se na comunidade, na qual está inserido, oferecendo generosamente sua contribuição através da missão, que é servir e testemunhar, de acordo com a Boa-Nova: “Quem quiser ser o primeiro seja o servo de todos” (Mc 16, 44).
Não nascer em vão, à medida que haja um esforço de se vivenciar os três olhares de Jesus de Nazaré no Evangelho acima mencionado, na reflexão do Papa Francisco, vemos que Jesus se volta para o jovem com um olhar de ternura e afeto, fazendo-lhe uma proposta concreta: dar todos os bens aos pobres e depois segui-lo. Aquele senhor tem o coração dividido entre Deus e o dinheiro, e vai embora triste. Isso demonstra uma incompatibilidade entre a fé e o apego às riquezas. O Santo Padre se refere ao segundo olhar de Jesus como um olhar de advertência, ao se expressar: “Como será difícil para os que têm riquezas entrar no Reino dos Céus”. Agora, diante da admiração dos discípulos, Jesus dedica-lhes um olhar de encorajamento, dizendo que a salvação é “impossível aos homens, mas não a Deus”. A privação dos bens dá-nos em troca o verdadeiro bem – enfatizou o Romano Pontífice, na afirmação de que “há mais alegria em dar do que em receber” (At 20, 35). Se confiamos no Senhor, podemos superar todos os obstáculos que nos impedem de segui-lo no caminho da fé.
Francisco disse que o jovem não se deixou conquistar pelo olhar de amor de Jesus e, assim, tornou impossível uma mudança. Somente acolhendo com humilde gratidão o amor do Senhor, ficamos livres das seduções dos ídolos e da cegueira das nossas ilusões. O dinheiro, o prazer e o sucesso deslumbram, mas depois desiludem; prometem vida, mas trazem morte. O Senhor nos pede para nos desapegarmos dessas falsas riquezas, para entrarmos na vida verdadeira, na vida plena, autêntica, iluminada. Como é maravilhoso aprender, no final do Ano Jubilar dos 500 anos do nascimento de Santa Teresa de Jesus, dentro de um conjunto de iniciativas de âmbito espiritual e cultural, com exposições, cursos e peregrinações, indicando-nos um bem e tesouro maior: “Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque O veremos como ele é” (1 Jo 3, 2).
*Escritor, blogueiro, colunista, vice-presidente da Previdência Sacerdotal e Pároco de Santo Afonso, Parquelândia, Fortaleza-CE – geovanesaraiva@gmail.com
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