sábado, 26 de dezembro de 2015

Rosto de 2015

Dom Genival Saraiva
Bispo Emérito de Palmares  (PE)
 

É muito comum fazer-se um olhar sobre a vida pessoal e a realidade social, ao se aproximar o término de um ano. Todavia, num olhar cristão e numa visão cidadã, é importante que a leitura de tudo isso vá além do simples registro. Sem dúvida, há elementos que identificam o rosto do ano de 2015, por aspectos edificantes e por acontecimentos lamentáveis, tanto no mundo quanto no Brasil. Assim, o Jubileu da Misericórdia, instituído pelo Papa Francisco,no período de 8 de dezembro de 2015 a 20 de novembro de 2016, fala ao coração das pessoas, diante de cicatrizes, de origem diversa, que  se estabeleceram no relacionamento interpessoal e comunitário, como consequência de seu afastamento de Deus. Por sua espiritualidade, este Ano Santo da Misericórdia é portador de muitas graças para os fiéis que se aproximarem de Deus misericordioso e se relacionarem com seus semelhantes, com gestos concretos de misericórdia. Dessa forma, o Papa Francisco abre caminhos de misericórdia para o povo de Deus que podem ser visualizados no simbolismo do gesto de abertura da “Porta Santa”, ou das “Portas Santas”, dado que estendeu às Dioceses do mundo católico a faculdade de fazer isso em seu território. A Encíclica “Laudato si”, do Papa Francisco, e a COP21 (“21ª Conferência das Partes (ou ‘COP’) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas”), encerrada em Paris, no dia 12 de dezembro, trazem contribuições importantes para uma ação responsável diante do poluído planeta terra e de sua previsível deterioração, caso não sejam adotadas,agora, as providências necessárias. Em termos mundiais, os atentados terroristas, em diversos países e continentes, constituem uma mancha negra na história da humanidade. A banalização da vida se evidencia de muitas maneiras, patrocinada por indivíduos e grupos que agem movidos por causas de ordem política e religiosa, com caráter reconhecidamente fundamentalista.
No Brasil, o ano de 2015 tem uma face peculiar, sob o aspecto econômico, político e social. As consequências da desarrumação da economia e os desmandos da política brasileira repercutem diretamente na vida das pessoas e no comportamento social. Embora sempre tenha havido registros na história antiga e recente do país, identificam-se traços próprios de problemas graves, em 2015, como inflação e corrupção, entre outros, que afetam a vida das pessoas e das instituições. A inflação, ao chegar ao patamar de 10%, atinge as famílias, sensivelmente; promovida por inescrupulosos agentes públicos e por gananciosos empresários, a corrupção deixa prejuízos irreparáveis na sociedade brasileira. Há muitos fatos que estão associados à corrupção, em razão da manipulação fraudulenta dos recursos públicos que deixaram de ser aplicados, conforme a destinação prevista: a violência, com índices crescentes em muitos lugares, é uma preocupação generalizada; a saúde pública continua desacreditada, haja vista a proliferação do mosquito da dengue, agora agravada pelo zika vírus, constatado no surto de microcefalia em alguns Estados; o desastre ecológico, provocado pelo rompimento de barragens no Município de Mariana, adquire grande proporção pelas nefastas consequências ambientais, sociais e econômicas nos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo; a seca no Nordeste, um fato secular, e um dado novo em outras regiões, é sinal de inércia administrativa; as contas públicas, além de desvios de ordem técnica, identificados por órgãos competentes, revelam, antes de tudo, desvios de conduta ética dos gestores.
Na liturgia da Igreja Católica, o término do ano é iluminado pela mensagem renovadora da cidadania terrestre e celeste, ao celebrar o nascimento de Jesus Cristo, e o Novo Ano de 2016 começa com as bênçãos de Santa Maria, Mãe de Deus.
 Fonte: CNBB

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