sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Cuidar da Terra

Dom Canísio Klaus
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)


No dia 09 de fevereiro, dia de Carnaval, milhares de romeiros do sul do Brasil e países do Prata se reunirão na Sanga da Bica em São Gabriel para uma grande convocação em favor do cuidado da terra, “a nossa casa comum”. O encontro acontece pela trigésima nona vez como forma de celebrar o martírio de Sepé Tiarajú, o líder guarani que tombou ao lado de 1500 companheiros na Sanga da Bica, em 1756, buscando defender a terra do seu povo.
A terra, desde os primórdios, foi entregue por Deus ao ser humano para que a cuidasse e tirasse dela o seu sustento. “Cada comunidade pode tomar da bondade da terra aquilo de que necessita para a sua sobrevivência, mas tem também o dever de a proteger e garantir a continuidade da sua fertilidade para as gerações futuras” (LS, 67). A terra “e tudo o que nela existe pertence ao Senhor” (Dt 10,14). Daí que Deus proíbe toda a pretensão de posse absoluta (LS, 67) e o uso da terra como bem especulativo vai contra projeto divino.
Em 2016 a Romaria da Terra adquire um significado especial, uma vez que vem corroborar a encíclica papal “Laudato si: sobre o cuidado da casa comum” e motivar a Campanha da Fraternidade Ecumênica que alerta sobre a nossa responsabilidade para com esta Casa Comum. Conforme o Papa, “todos podemos colaborar, como instrumentos de Deus, no cuidado da criação, cada um a partir da sua cultura, experiência, iniciativas e capacidades” (LS, 14). 
As pessoas que vivem da terra, como é grande parte da população da Diocese de Santa Cruz do Sul, conhecem muito bem a importância do cuidado da terra. Num período de muitas chuvas, como foram os últimos meses, elas sofrem ao verem a terra fértil descer o rio. Igualmente sofrem quando veem a terra virando deserto pela falta de chuvas. Muitos também já começam a sofrer com a percepção do excessivo uso de agrotóxicos e herbicidas que causam danos irreparáveis à biodiversidade. Outros se questionam sobre o futuro da vida na medida em que proliferam as sementes transgênicas e desaparecem as sementes crioulas. Aliás, nesta área, a Diocese de Santa Cruz do Sul tem o belo projeto do Banco das Sementes Crioulas, apontado como um dos melhores bancos de sementes crioulas do Brasil.
Na Romaria da Terra se destaca a sacralidade da vida e a importância da terra na preservação desta vida. Em sua 39ª edição, ela também voltará seus olhos para a realidade das comunidades indígenas, que foram os primeiros ocupantes destas terras e hoje, muitas vezes, são tratados como intrusos. A luta de Sepé Tiarajú que tombou mártir na defesa das terras indígenas, servirá de inspiração para a tomada de posição.
Faço votos de que Deus abençoe os romeiros e abra os corações de todas as pessoas para se comprometerem no cuidado da Casa Comum que é o Planeta Terra.
Fonte: CNBB

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