Por Imprensa POM
07 / Set / 2012 23:59
Os povos
indígenas no Paraguai, sua identidade e situação sociocultural foi tema
de estudo, nesta sexta-feira, 07, durante Encontro de diretores e
secretários das Pontifícias Obras Missionárias (POM) do Cone Sul. O
evento acontece em Assunção - Paraguai, e conta com a participação de
representantes das POM da Argentina, Uruguai, Chile, Brasil e Paraguai.
O tema
foi abordado pela Irmã Raquel Peralta, SSpS, missionária das Servas do
Espírito Santo e membro da Coordenação Nacional da Pastoral indígena
(CONAPI). Antes de se tornar religiosa, Irmã Raquel já estava envolvida
com a luta dos indígenas, povos que ela considera como “os outros, os
diferentes, com cultura, cosmo visão, teologia e espiritualidades
próprias. Eles têm direito de conservar e viver sua cultura, sua língua,
economia e educação”, afirmou a indigenista ao descrever a difícil
situação que enfrentam no país. “Quem deseja se aproximar desses povos
precisa muito cuidado. Esse é um grande desafio missionário. São
culturas ricas, mas por outro lado, são culturas mutáveis”, salientou.
Segundo
estatísticas de 2008, no Paraguai vivem 110 mil indígenas, ou seja,
apenas 1.7 % da população total do país. Para Irmã Raquel é importante
lembrar que esses povos são muito anteriores da sociedade colonial.
91,5% deles se encontram nas áreas rurais distribuídos em 512
comunidades e apenas 8,5% nas cidades. Contudo, nos últimos anos, vem
ocorrendo um êxodo para centros urbanos principalmente dos povos Mbyá
Guarani e Avá Guarani. Irmã Raquel observou ainda que, 95% da população
do Paraguai fala sua língua materna, mas apenas 2% se autodenomina
indígena.
A posse da terra
Hoje,
cerca de 60% das comunidades indígenas no Paraguai têm suas terras
asseguradas por lei. Para 2013, o governo prometeu conceder título a
outras 279 mil hectares o que ampliaria para 70% das comunidades. “Por
outro lado, isso não representa uma garantia definitiva a exemplo do
ocorrido com as comunidades do Itakyry, Alto Paraná, Makutinga e
Itapúa”, alertou.
“A
terra é sagrada, não pode ser vendida pois é comunitária. Sem a terra
tudo fica afetado, a cultura, a identidade, a saúde, a religião. O
neocolonialismo é pior que a colonização por que se dá como um processo
através de grandes projetos como hidrelétricas, criação de gado e
agronegócio. Terra indígena, segundo a lei, não pode ser alienada ou
arrendada, mas muitas comunidades não resistem à pressão e acabam
cedendo aos fazendeiros, bom número deles brasileiros”. Para Irmã Raquel
falta concretizar um projeto de educação indígena que tenha em conta a
cultura e a língua, isso por que, segundo ela, “o próprio sistema de
educação impõe um modelo de ensino de assimilação e integração”.
As hidrelétricas
Outra
questão levantada foi a construção das hidrelétricas binacionais de
Itaipu (Brasil-Paraguai) e Yacyretá (Argentina- Paraguai), obras
realizadas sem consultar as comunidades. Somente a construção da Itaipu
cobriu 50 mil hectares de terra e fez desaparecer 42 comunidades. As
questões relacionadas ao impacto sócio ambiental, 40 anos depois, ainda
não foram tratadas conforme prometido. Até agora, a empresa devolveu
apenas mil hectares de terra e financiou alguns programas sociais de
assistência. “As comunidades indígenas ao sul de Itaipu exigem do Estado
paraguaio a reparação histórica pelos danos causados na construção da
barragem”, destacou Irmã Raquel.
Na
avaliação da religiosa, no Paraguai, as leis até são boas, mas não são
cumpridas. Explicou que a Pastoral indígena em parceria com outras
organizações apoia as comunidades para que tenham acesso aos
instrumentos legais na busca dos seus direitos. O trabalho visa preparar
ações e propostas para 2013 quando um novo governo assume o poder.
“Existem resquícios de resistência. Temos que ajudá-los a fortalecer sua
própria identidade e prepará-los para entrar em diálogo com os não
indígenas”, disse reafirmando a necessidade de descolonizar a partir das
sabedorias insurgentes.
Conquistas e desafios
A pesar
das dificuldades, os indígenas estão se fortalecendo e conseguiram
algumas conquistas como a participação na elaboração da constituinte
nacional, a criação de organizações e associações próprias, avanços na
educação e maior presença nos meios de comunicação. Na Igreja obtiveram
acesso aos ministérios ordenados e à Vida Consagrada. Dentre os maiores
desafios, Irmã Raquel aponta o diálogo com as culturas indígenas, passar
da pluriculturalidade à interculturalidade e elaborar novas leis sobre
os direitos indígenas.
Neste
sábado, 8, está previsto um momento de partilha sobre os trabalhos
realizados pelas POM de cada país ao longo de 2012, e reuniões por
grupos de Diretores, Secretários e representantes da Juventude
Missionária. Os trabalhos encerram no domingo, 9.
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