“Efatá!” é uma
palavra chave na liturgia deste 23º Domingo do Tempo Comum. Palavra que o
Senhor pronuncia para todos, a qual tem, para cada um de nós, uma
ressonância pessoal. É fundamental que cada um de nós veja e pense no
conteúdo dela.
“Efatá!”, palavra dita pelo Senhor quando o mar se abriu para a passagem dos escravos rumo à liberdade. “Efatá!”,
disse Deus, e se abriram os céus sobre o batismo de Jesus e sobre a
humildade do seu batismo; e abriu-se o paraíso sobre a cruz de Jesus, e o
paraíso ficou à mercê dos ladrões; e se abriram os sepulcros, e os
vencidos fugiram da morte. Esta palavra é dirigida agora a nós, a fim de
que enxerguemos o caminho que nos conduz à salvação eterna.
Por isso, não diga: “Abrir-se-ão os olhos do cego e os ouvidos do surdo”.
Mas que “abrir-se-ão os meus olhos e os meus ouvidos que estavam
fechados por causa da dureza do meu coração, fruto do meu próprio
pecado”.
Saiba que a palavra se cumpre, hoje, a
profecia está se realizando neste Evangelho. A promessa se torna
realidade, hoje e agora, com Cristo e em Cristo na sua vida. Corra e vá
atrás d’Ele. E se não tem como, peça ajuda. Deixe-se ajudar. Não seja
“cabeça dura”! Escute e siga as orientações, os conselhos da sua esposa,
do seu marido, dos seus pais e filhos. Deixe de viver na noite e no
mundo do erro, do pecado, da falsidade e da morte.
“Ah! Padre, eu não sou surdo nem mudo.
Isso é uma ofensa!” Eu digo que sim. Somos “surdos”, por exemplo, quando
não ouvimos o grito de ajuda que se eleva para nós e preferimos pôr
entre nós e o próximo o “duplo vidro” da indiferença. Os pais são
“surdos” quando não entendem que certas atitudes estranhas ou
desordenadas dos filhos escondem um pedido de atenção e de amor. Um
marido é “surdo” quando não sabe ver, no nervosismo de sua mulher, o
sinal do cansaço ou a necessidade de um esclarecimento. E o mesmo quanto
à esposa.
Estamos “mudos” quando nos fechamos, por
orgulho, em um silêncio esquivo e ressentido, enquanto, talvez, uma só
palavra de desculpa e de perdão poderia devolver a paz e a serenidade ao
nosso lar. Os religiosos e as religiosas têm, no dia, tempos de
silêncio e, às vezes, acusam-se na confissão, dizendo: “Quebrei o
silêncio”. Penso que, às vezes, deveríamos nos acusar do contrário e
dizer: “Não quebrei o silêncio”.
O que, contudo, decide a qualidade de uma
comunicação não é, simplesmente, falar ou não falar, mas falar ou não
fazê-lo por amor. Santo Agostinho dizia às pessoas em um discurso: “É
impossível saber, em toda circunstância, o que é justo de se fazer:
falar ou calar, corrigir ou deixar passar algo. Eis, aqui, então, que se
dar uma regra que vale para todos os casos: “Ama e faz o que quiseres.
Preocupa-te de que, em teu coração, haja amor; depois, se falas, será
por amor; se calas, será por amor e tudo estará bem, porque do amor não
brota mais que o bem”.
As histórias de cura, envolvendo as
multidões de excluídos, carentes e adoentados, são a expressão da
atenção especial de Jesus para com os pobres, em vista de lhes restaurar
a vida, característica do Reino de Deus. A proclamação final - “faz os surdos ouvirem e os mudos falarem” -
indica o cumprimento da profecia atribuída a Isaías aos exilados da
Babilônia; porém, agora, não restrita àquele povo que se julgava eleito,
mas a todos os povos da terra sem discriminações. Jesus vem salvar as
maiorias empobrecidas subjugadas pelas minorias que detêm o poder,
resgatando a dignidade e a vida neste mundo.
Por isso, meu irmão e minha irmã, o
segredo está em entrar em comunhão com Cristo ressuscitado. Você que
estava morto veja, escute e entre com Ele pelas portas abertas de Deus.
Ó Senhor, tenho plena consciência de que Vossa voz ressoou no deserto - “Efatá!” – para que, do Céu, caísse como chuva o pão, e da rocha jorrasse água. “Efatá!”, dissestes
e abristes, como que com uma faca, as águas do Jordão, as quais se
tornaram porta pela qual entraram vossos filhos à terra das vossas
promessas. Dignai-vos olhar para mim, para os meus olhos e ouvidos.
Impõe sobre mim as Tuas mãos e liberta-me, cura-me do egoísmo que impede
a comunicação com o meu próximo.
Padre Bantu Mendonça- Canção Nova
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