Um jovem rico, piedoso e observante dos mandamentos, se
encontrou com Jesus. Chamou-o “Mestre” e desejava possuir a vida eterna.
Para conseguir essa meta observava os mandamentos com perfeição. Jesus o
olhou com amor e, então, pronunciou o convite exigente: “Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me”!
A tristeza entrou no coração desse jovem rico. A riqueza o impediu de
seguir Jesus, porque é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus.
Impressiona-nos o fato de que este jovem era perfeito no cumprimento
dos mandamentos de Deus e, além disso, merecera o olhar amoroso de Jesus
porque buscava com decisão progredir no caminho de Deus. Mas o
cumprimento dos mandamentos convivia nele com a riqueza, transformada em
ídolo que lhe dava segurança. Jesus lhe ofereceu a possibilidade de ser
livre, para que o Reino de Deus ocupasse todos os espaços de sua vida.
Ele preferiu a segurança de seus bens. Para não perder o pouco que
possuía, perdeu o tesouro infinito da vida com o Senhor.
O discípulo de Jesus dá valor ao que o mundo despreza. Para possuir a
sabedoria e viver de modo prudente, considera os cetros e os tronos, a
riqueza, as pedras preciosas, a prata e o ouro do mundo, a saúde e a
beleza, como um punhado de areia (cf. Sb 7,7-11). Ele faz como fizeram
os apóstolos que deixaram tudo para seguir Jesus e, por isso, receberam
“cem vezes mais”: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa,
irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do
evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida – casa,
irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições – e, no mundo
futuro, a vida eterna”.
Diante das palavras de Jesus, compreendemos que Ele pede as mesmas
condições para todos os que querem segui-Lo. Tais condições não são
diferentes para os que se consagram a Deus no celibato, para os que são
chamados ao sacerdócio ministerial, ao diaconato permanente ou à vida de
casados. Ao propô-las, Jesus se dirigiu às “grandes multidões” como nos
atesta o evangelista Lucas.
As observâncias religiosas não são o essencial no projeto de Deus. A
opção fundamental e necessária é o desapego das riquezas e a superação
das injustiças que decorrem do acúmulo material. Em contraste com este
rico, segue-se o testemunho de Pedro, representando a comunidade dos
discípulos que, com sabedoria, professa sua fé neste seguimento,
declarando seu desapego de tudo.
É a força da Palavra de Deus – “mais penetrante que qualquer espada
de dois gumes” – que é capaz de extirpar a ambição das riquezas, gerando
o amor ao próximo. É o caminho do seguimento de Jesus na construção do
mundo novo de justiça e paz.
O projeto de Jesus, em andamento, significa a inserção na vida eterna
do “mundo futuro”. É a concretização do sonho de um mundo novo, na paz
da comunhão com a natureza, com o próximo e com Deus. E o caminho seguro
do seguimento de Jesus está na prática diária da Palavra de Deus. A
Carta aos Hebreus nos lembra: “A Palavra de Deus é viva, eficaz e
mais cortante do que qualquer espada de dois gumes. Penetra até dividir
alma e espírito, articulações e medulas. Ela julga os pensamentos e as
intenções do coração. E não há criatura que possa ocultar-se diante
dela. Tudo está nu e descoberto aos seus olhos, e é a ela que devemos
prestar contas” (Hb 4,12-13).
Vivendo assim, entenderemos também que a prática perfeita dos
mandamentos do Senhor tem um valor profundo, se a nossa vida é colocada
inteiramente nas mãos do Senhor e não na segurança de nossas próprias
riquezas. Se queremos ver o mundo mudar a sua avaliação das coisas, não
podemos deixar de responder ao apelo de Jesus no Evangelho deste 28º
Domingo do Tempo Comum: “vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!”
Senhor Jesus, reforça minha liberdade interior de forma que nada, neste mundo, me impeça de cumprir a vontade do Pai.
Padre Bantu Mendonça- Canção Nova
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