A
Campanha da Fraternidade 2013, cujo tema é “Fraternidade e Juventude”,
foi apresentada na tarde desta Quarta-Feira de Cinzas, 13, no Auditório
Dom Helder Câmara, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Em suas colocações, o secretário geral da Conferência, dom Leonardo Ulrich Steiner, fez menção ao início da caminhada quaresmal que começou ontem e termina na Páscoa. Destacou que o período é um convite à conversão pessoal. “Nas celebrações e leituras deste tempo seremos provocados a seguir o Senhor até o clarear de um novo dia que surge de um processo de conversão que a Quaresma nos possibilita”.
Dom
Leonardo também fez um breve apanhado do histórico da Campanha da
Fraternidade que teve início em 1964 na arquidiocese de Natal (RN) e que
desde então, teve um “itinerário de conversão pessoal, comunitário e
social, propondo temas de grande relevância para a Igreja e a sociedade
brasileira”.
O
secretário reiterou ainda o objetivo da CF-2013, cujo enfoque recai
sobre a juventude. “A Igreja propõe este ano a temática com enfoque na
juventude neste tempo de mudança de época e deseja refletir e rezar com
os jovens, apresentando-lhes o Evangelho, o sentido de vida e ao mesmo
tempo a missão. A Campanha é um convite a nos convertermos e irmos ao
encontro dos jovens e ao mesmo tempo é um convite aos jovens deixarem-se
encontrar por Jesus Cristo, caminho, verdade e vida e serem
protagonistas da civilização do amor”.
A
Campanha, apontou dom Leonardo, é um momento favorável de
questionamentos e busca de reflexões e soluções para a vida da juventude
brasileira. “A Campanha deste ano abre a possibilidade de refletirmos e
mesmo nos questionarmos a partir do Evangelho e da realidade dos
jovens, procurando admirar a generosidade, a criatividade, a
disponibilidade e os ideais dos nossos jovens. Por outro lado,
perguntarmos o porquê de tantos jovens assassinados, de tanta violência
contra os nossos jovens; por que a maioria da população carcerária é
jovem e ainda questionar por que a maioria dos jovens encarcerados e
assassinados são afrodedcendentes. O que realizamos a favor dos jovens
em suas comunidades originais?”.
O
presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcos
Vinicius Furtado Coelho, frisou as parcerias de longa data ente CNBB e
OAB, em “campanhas memoráveis em prol da República e da sociedade que
trouxeram benefícios no sentido da constituição de uma sociedade mais
justa, mais fraterna e solidária”.
Furtado
elogiou o tema da CF deste ano e frisou que se trata de uma campanha que
necessita de “respeito, atenção e amparo necessário para que ideias
autoritárias não frutifiquem no país”. O presidente se referia à redução
da maioridade penal que ele classifica de “tese que não constrói
benefícios em termos de segurança pública e ideia que tenta contra a
garantia da vida humana”.
Gilberto
Carvalho, ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência da
República, compartilhou o abraço fraterno da presidenta Dilma Roussef e
destacou a importância da Campanha da Fraternidade para a sociedade
brasileira. “Acompanho as campanhas desde 1964 e me recordo da sua
importância com sua variação de temas que sempre contribuiram para os
debates sociais e para a compreensão de que a fé exige uma inserção
social. Temos que reconhecer o papel fundamental da Igreja na construção
da democracia, da justiça social e na construção de uma nova
civilização”.
O
ministro apresentou alguns números alarmantes da juventude brasileira e
disse que é preciso urgentemente repensar o papel do Estado e da
sociedade com relação à juventude. “Infelizmente 30% dos jovens
brasileiros vivem com renda abaixo de um salário mínimo; somente 13%
frequentam as universidades; 48% cursam o ensino médio, sendo que 42%
abandonam as salas de aula para trabalhar e 21% das mulheres abandonam
por causa de uma gravidez não planejada. É um quadro crítico que
queremos mudar e a campanha deste ano vem justamente refletir em cima
disso”, sublinhou.
A voz da juventude no lançamento da CF-2013
Três
jovens se posicionaram sobre a vida da juventude brasileira durante o
lançamento da Campanha da Fraternidade 2013. Um deles foi Rodrigo
Crivelaro, presidente do Conselho Municipal de Juventude de Santa
Bárbara do Oeste (SP) e membro da Pastoral da Juventude (PJ). O jovem
citou alguns números e cobrou políticas públicas a favor da juventude.
“Somos
hoje 25% da população do Brasil, cerca de 50 milhões de habitantes,
vivendo em um contexto de época, imersos num mundo digital, carecendo de
muitas políticas públicas que vejam o jovem não apenas como problema,
numa faixa de transição ou apenas como ator estratégico do
desenvolvimento. É preciso fomentar políticas públicas de juventude que
vejam este como presente e sujeito de direito”, frisou.
Alessandra
Miranda, da Comissão Nacional de Assessores da Pastoral da Juventude e
assessora da Cáritas na área de direitos humanos, relembrou que a Igreja
já deu destaque à juventude na CF de 1992. A jovem questionou as
mudanças ocorridas nos últimos 20 anos para essa faixa da população
brasileira e convocou a sociedade a mudar os lamentáveis dados que
desfavorecem a juventude. “Muitas são as situações dramáticas da
juventude. Destaco o elevado índice de mortalidade juvenil provocados
pelos homicídios, a exploração sexual, o tráfico de pessoas, em especial
de mulheres jovens destinadas ao trabalho escravo, o desemprego, o alto
índice de jovens fora das escolas e das universidades. Todas essas são
situações que devem nos organizar para acessar os mais diferentes meios e
frentes para operar essa realidade”.
Por fim,
Awá Mirim, índio Tupinambá, que mora na comunidade Santuário dos Pajés,
no Setor Noroeste de Brasília, expressou sua indignação com relação ao
futuro da juventude indígena que sofre com a falta da demarcação de
terras, instrumento indispensável para a vida e sobrevivência dos povos
indígenas. “Somos hoje 230 povos falando mais de 130 línguas e idiomas.
Saudamos a Campanha da Fraternidade e o tema escolhido. Para nós é um
tema que vem nos preocupando bastante, pois nossos jovens estão morrendo
nas mãos do agronegócio. Ser jovem indígena é antes de tudo ter seu
território, ter sua terra. Para vivermos dentro da cosmologia do nosso
povo, nós precisamos dos nossos territórios, como também de condições
para estudar, viver nas cidades com leis que contemplem também nosso
povo. Somos vistos como uma população diferenciada, portanto, precisamos
de leis também que nos conduzam como diferentes em nossa cultura, em
nossas raízes e tradições”. Fonte: POM
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