A fé que professamos com todo seu conteúdo, não é
senão, a pessoa de Jesus de Nazaré, Nosso Senhor Jesus Cristo, em toda sua obra
de salvação, no seu total despojamento, na vida de íntima fidelidade ao Pai,
tendo com ponto mais elevado, sua paixão morte e ressurreição, nas seguras
palavras do Apóstolo Paulo: “Cristo, ressuscitado dos mortos, já não morre; a
morte não tem mais poder sobre ele” (Rm 6,9).
É o mistério incomensurável da Páscoa, como luz
que ilumina e dar sentido à vida humana, nas pessoas convictas e cheias de boa
vontade, já na acolhida insondável da encarnação misteriosa do verbo, que ao
entrar no mundo disse: “Eis-me aqui, ó Pai, para realizar a tua vontade” (Hb
10,7).
Dom Aloísio Lorscheider na sua reflexão,
intitulada, “Linhas mestras do Concílio Ecumênico Vaticano II”, fala com muita
propriedade e exímia sabedoria de que lhe foi sempre peculiar, entre muitas
coisas, que o Papa João XXIII não desejava que o Concílio fosse uma repetição
dos Concílios Ecumênicos anteriores. Queria o Papa para os dias de hoje, uma
releitura da doutrina já definida no passado. O Vaticano II, segundo o homem,
que no meu modo de ver melhor o assimilou, teria de se preocupar
fundamentalmente com o caminho necessário para o mundo de hoje abrir-se ao
Evangelho: Como evangelizar o mundo de hoje? Como anunciar o Evangelho para o
mundo de hoje e como vivê-lo neste nosso mundo?
O Cardeal Lorscheider, no seu belo e maravilhoso
artigo, responde com duas palavras chaves, para que se possa compreender a
pastoral e a eclesiologia do Vaticano II: Aggiornamento, como atualização,
renovação, rejuvenescimento, numa Igreja despojada e servidora; Diálogo da
Igreja consigo mesma, com as outras Igrejas e com as outras religiões e o mundo
dos não crentes. E disse mais: diálogo é sinônimo de comunhão, participação e
corresponsabilidade.
Aggiornamento é escutar, ir ao encontro, abri-se
às justas (legítimas) exigências do mundo de hoje, em suas profundas mudanças de
estruturas, de modos de ser (culturas), inserindo-se nele para ajudá-lo, sempre
no respeito à sua autonomia relativa (secularização), num espírito de doação, de
caridade total, de diaconia, a serviço dos anawim, os pobres de Javé (…).
Diálogo não é polêmica, controvérsia, discussão;
é, sim, dar ao outro o testemunho de uma convicção íntima que se tem,
oferecendo-lhe, ao mesmo tempo, a oportunidade de, por sua vez, dar o testemunho
de sua convicção íntimo. É concretamente, sentar juntos e dizer como se entende
o Evangelho para os dias de hoje. Que Evangelho anunciar ao mundo de hoje? E em
que Igreja?
Entre as inúmeras chaves assinaladas por Dom
Aloísio, disse o inesquecível patrimônio da Igreja e toda sociedade brasileira,
que o ponto de partida do aggiornamento e do diálogo é o próprio Cristo. A
Igreja espelhando-se em Cristo, procurando atualizar-se, renovar-se,
rejuvenescer-se: ao Cristo vivo deve corresponder uma Igreja viva (cf. Paulo VI,
Discurso da 2º sessão conciliar, 29 de setembro de 1963). Os princípios vitais
da Igreja são a fé e a caridade: a fé sempre desabrochando na caridade (cf. Gl
5,6), no tríplice aspecto em que Cristo se revela como Profeta, Sacerdote e
Rei.
O nosso querido Papa Francisco, que tem diante
dos olhos, na mente e no coração o espírito do Concílio Vaticano II, naquilo que
concretamente diz e faz, ao ordenar 10 sacerdotes da Diocese de Roma, neste
domingo do Bom Pastor, 21 de abril de 2013, disse em sua homilia: “Peço-vos em
nome de Cristo e da Igreja, por favor, não vos canseis de ser misericordiosos.
Com o óleo santo dareis alívio aos doentes e também aos idosos: não tenhais
vergonha de ter ternura com os idosos”.
No mesmo espírito, da fé que desabrocha em
caridade, disse o Sumo Pontífice, numa mensagem digerida aos bispos Argentinos,
aos 18 de abril de 2013, por ocasião da Assembleia Plenária da Conferência
Episcopal Argentina: “Uma Igreja que não sai, mais cedo ou mais tarde adoece na
atmosfera viciada de confinamento. Também é verdade que uma Igreja que sai, pode
acontecer o mesmo quando uma pessoa vai para a rua: pode sofrer um acidente.
Perante esta alternativa, quero lhes dizer francamente, que prefiro mil vezes
uma Igreja acidentada a uma Igreja doente”.
Os generosos gestos de Jorge Bergoglio nascem do
seu grande e sensível coração, mergulhado na revelação divina, ao acolher às
‘Avós da Praça de Maio’, nas palavras de esperança, quarta feira, 24/04/2013:
“Contem comigo, estou à vossa disposição”, no que a representante das Avós
mostrou-se emocionada e satisfeita por ter estendido a mão ao Papa argentino e
disse que Francisco lhe deu um beijo. Ela acrescentou que são milhares as
pessoas que o escutam e colocam em prática seus conselhos. Por esta santa
criatura, Deus seja louvado!
*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal – Pároco de Santo Afonso.
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