Uma mulher, um véu, uma boca velada, um olhar firme. Essa é a imagem da
Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2013. Inicialmente, a imagem provoca
uma certa antipatia, principalmente quando se leva em conta a situação vivida
pelas mulheres em nosso continente.
Não são necessárias imagens que reforcem a
situação de silêncio das mulheres, ainda mais no contexto de celebração
ecumênica. Queremos imagens de mulheres ativas, guerreiras, com voz forte. Chega
de mulheres silenciadas! Chega de legitimação religiosa para o silêncio das
mulheres.
No entanto, o Grupo Ecumênico da Índia que
preparou a Semana deste ano, desafia para que olhemos diretamente para os grupos
silenciados, tanto por dogmas religiosos, quanto por questões econômicas e
políticas. Quem são as pessoas sobre as quais o sistema social, econômico e
religioso impõe véus e silencia vozes? Qual é a exigência feita por Deus a nós
diante destes silêncios?
É cômodo e confortante termos nossos olhos
agraciados com imagens que expressam esperança, superação de conflitos, terra
dividida, mulheres e homens com direitos reconhecidos, as diferentes etnias em
harmonia, o diálogo inter-religioso frutificado.
Desconfortante é quando somos confrontados com
imagens e sons que nos provocam a enxergar a realidade tal como ela é, ou seja,
marcada por conflitos, desarmonia, exclusão, violência, competição e acumulo de
riquezas.
Nossa mulher velada nos dirige um olhar firme.
Ela nos provoca a identificarmos, entre nós, quem são os grupos silenciados.
Para onde estes grupos estão olhando? Quais os questionamentos que nos fazem
desvelar a realidade? Este é o desafio. Não tapar nossos ouvidos para impedir
que a fala destes irmãos e irmãs excluídos chegue até nós. Talvez uma das
exigências que Deus faz a nós é a de que identifiquemos os véus que encobrem a
existência da rica diversidade da criação. Outra exigência é que identifiquemos
os véus que colocamos em nossos olhos para não ver e conviver com o que nos
desestabiliza.
Em 2012 fomos provocados pelo grito dos indígenas
Guarani e Kaiowá que denunciaram a exploração e a completa falta de esperança
vivida por eles. Este grito escandalizou, porque desvelou uma realidade que não
queremos ver. Deus exige de nós que olhemos e ouçamos o que não queremos. Esta
exigência da fé é necessária para que a transformação se concretize em forma de
direitos humanos, sociais, ambientais, religiosos e econômicos.
Que ao longo da semana possamos levantar véus
para no final, as vozes silenciadas expressarem em uníssono sua existência.
Fonte: Arquidiocese de Fortaleza
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