Por: Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)
O hino de Filipenses 2,6-11 tem dois movimentos: o primeiro é de cima para baixo e fala do esvaziamento de Jesus. É como uma escada com vários degraus: Jesus não se apegou a sua igualdade com Deus, esvaziou-se, tornou-se servo, semelhante aos homens, humilhou-se, fez-se obediente até a morte de cruz. O sujeito dessas ações é o próprio Jesus que, consciente e livremente, despoja-se de tudo. Seu lugar social é junto aos escravos, sem privilégios, marginalizados e condenados. Para Ele, não há outra forma de revelar o projeto de Deus a não ser esvaziando-se daquelas realidades humanas das quais, com dificuldade, abrimos mão: prerrogativas, posição social, honra, dignidade, fama e, o que é mais precioso, a própria vida. Jesus perdeu todas essas coisas. Desceu no poço mais profundo da miséria e solidão humanas. De fato, o primeiro movimento desse hino não fala de Deus, Tem-se a impressão de que Jesus, despojado de tudo, tenha sido inclusive abandonado por Deus.
O preço da encarnação foi a cruz. E a mensagem de Paulo é exatamente a mensagem de um crucificado. Nós estamos muito habituados a pensar na divindade de Jesus. Por isso, perguntamos: onde foi parar sua divindade? Ficou escondida por um momento? Ou era justamente no fato de ser plenamente humano que revelava o ser de Deus? Imaginar que Deus seja um ser desencarnado e abstrato é a desculpa que algumas pessoas encontram para fugir à difícil tarefa de nos encarnarmos nas realidades humanas mais sofridas, pois, ao fazermos isto, teremos de nos despojar de uma série de coisas, exatamente aquelas coisas das quais Jesus se despojou: prerrogativas, status, fama, promoção pessoal, etc.
A primeira parte do hino tem seu ponto alto na maior baixeza: Jesus se fez servo e foi morto como um bandido, na cruz. Essa foi sua opção de vida consciente. Esse hino retoma um texto muito antigo de Isaias, aplicando-o a Jesus.
O segundo movimento do hino de Filipenses é de baixo para cima. Aqui o sujeito é Deus. É Ele quem exalta Jesus, ressuscitando-o e colocando-o no posto mais alto que possa existir. O nome que Ele recebeu do Pai é o título de Senhor, termo muito importante para os primeiros cristãos e parte integrante de sua fé. Jesus é o Senhor do universo e da história. Diante dele, toda a criação se prostra em adoração.
Deus Pai é glorificado quando as pessoas reconhecem em Jesus o humano que passou pela encarnação das realidades mais sofridas e humilhantes, culminando com a morte na cruz, condenação exposta aos criminosos. Evangelho é. Portanto anúncio daquele que se fez servo, obediente até a morte e morte de cruz. Esse anúncio não acontece sem que as pessoas também se encarnem, apostando a vida, como fez Paulo.
Fonte: CNBB
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