Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Nestes dias em que agradecemos a Deus pela missão do nosso Seminário São José que completa 275 anos, temos a oportunidade de louvar a Deus por tantos dons e tantas graças. A presença do Núncio Apostólico entre nós nesses dias demonstra a nossa unidade com a Sé de Pedro e o carinho para com o Papa Francisco.
O Seminário é o coração do bispo! Recebi essa bela joia de nossos antecessores que tão bem cuidaram da formação dos futuros padres. O nosso seminário tem uma história que precisa ser aprofundada, vendo com alegria a ação de Deus na vida dessa casa.
O seminário é uma especial comunidade educativa cuja fisionomia vem determinada por seu fim específico, que consiste no “acompanhamento vocacional dos futuros sacerdotes e, por tanto, o discernimento da vocação, a ajuda para corresponder a ela e a preparação para receber o Sacramento da Ordem com as graças e responsabilidades próprias, pelas quais o sacerdote se configura com Jesus Cristo, Cabeça e Pastor, e se prepara e compromete para assumir sua missão de salvação na Igreja e no mundo” (Pastores Dabo Vobis, 61).
Estas tarefas de acompanhamento vocacional, de discernimento, de preparação e ajuda se levam a cabo por diversos formadores em profunda consonância com o Bispo Diocesano, pois ele é o primeiro responsável pela formação sacerdotal.
A Igreja sempre reservou uma especial atenção ao tema da formação sacerdotal. O estudo da história da Igreja nos mostra a delicadeza e a importância de tal tema desde os tempos apostólicos até os nossos dias. Pode-se delinear facilmente as etapas fundamentais deste caminho, tendo presente os momentos históricos da Igreja e os condicionamentos socioculturais vividos.
A Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis de São João Paulo II, recorda-nos atualmente que a formação dos futuros sacerdotes, sejam diocesanos ou não, é de contínuo cuidado e se alarga durante todo o curso da vida. É por isto que é considerada pela Igreja como uma das tarefas de máxima delicadeza e importância para o futuro da evangelização da humanidade.
Depois dos primeiros passos no discernimento vocacional (acompanhados da equipe formadora), o jovem inicia sua caminhada de formação no Seminário. Essa formação deve ser permanente, mesmo depois de concluídos os estudos específicos de Filosofia e Teologia.
A formação seminarística e o modelo de sacerdote são duas realidades intrinsecamente ligadas entre si. Esta é uma constante questão que é colocada com relação ao futuro clero. A formação, mesma, não pode ser separada da imagem do sacerdote e seu modo de viver dentro da sociedade. A obra formativa do seminário visa ajudar o cristão, aquele que se encontrou com Cristo, a viver uma vocação que corresponda com a expectativa da Igreja diante de uma sociedade em transformação.
Cada época tem as respostas para as questões do seu tempo. Embora algumas orientações sempre persistam mesmo passando os tempos. O seminário, com suas estruturas baseadas sobre os três pilares da formação ao sacerdócio: a piedade, o estudo e a disciplina, no passado deu respostas históricas adaptadas a seus tempos. Em tempos mais estáveis, a formação demorava a mudar, a se adaptar. Porém, nos últimos tempos a sociedade está vivendo uma “mudança de época”. Como transmitir a fé em tempos de tantas contestações e como ser testemunha de Cristo Ressuscitado no momento de tantos martírios e perseguições? A transformação radical que o mundo sofreu nos últimos tempos provocou na Igreja perguntas importantes e busca de respostas adequadas para que a messe contasse com seus operários bem preparados.
A renovação pedagógica dos seminários, mandada pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, conheceu uma história ampla e complexa. A relação da Igreja com o mundo, com uma nova dimensão, depois do Vaticano II introduziu uma nova concepção de convivência e de relação entre comunidade eclesial e sociedade. Não baseada sobre o caráter intelectual e de oposição recíproca. Por outro lado, em clima de secularização dos últimos anos, há muito que se pensar novamente até quem se dedica à mensagem. Um contexto sociocultural de clara inspiração cristã, que antigamente assegurava uma maior fidelidade ao estilo de vida das pessoas destinadas ao sacerdócio e à vida consagrada, na maioria dos locais desapareceu. Diante de um mundo em mudança alguns sinais permanecem, pois a fé é a mesma assim como é necessária a experiência de Deus na vida do jovem destinado ao sacerdócio. Porém, a linguagem e os costumes mudados supõem novas iniciativas pastorais e missionárias. Para o diálogo com uma sociedade que perdeu muitos valores importantes, é necessária uma séria preparação dos futuros padres. Em vista de tais modelos diferentes, a preparação ao sacerdócio dos futuros padres tem sido diversificada e não somente em seu aspecto cultural e humano, mas também no pastoral.
É dentro desse clima que vivemos a festa do nosso Seminário. A formação dos padres passou por muitas etapas da história do Brasil, da Igreja e da sociedade. Temos uma experiência riquíssima em realidades vividas em nossa história. Em 1739, o Seminário São José é fundado pelo Bispo Dom Antônio de Guadalupe, ofm. As primeiras instalações do Seminário situavam-se na encosta do Morro do Castelo, no início da ladeira que seria mais tarde chamada de “Ladeira do Seminário”.
Em 1869, Dom Pedro Lacerda transfere a administração do Seminário aos Lazaristas. Essa mudança provavelmente se deu pela dificuldade de Dom Pedro em encontrar padres formadores. Já que ele mesmo havia sido formado com os religiosos, supõe-se que eles facilitaram a mudança. Em 1907, o Seminário é fechado por decisões internas da Igreja no Brasil, que pretendia centralizar a formação sacerdotal nos Seminários de São Paulo e Mariana.
Em 1924, o Seminário Arquidiocesano é reaberto na Ilha de Paquetá. Em 1948, o Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara termina a construção do novo prédio, à beira da Avenida Paulo de Frontin (hoje uma Universidade) e, anos depois, constrói outro edifício para o Seminário Menor, que é ocupado hoje parcialmente pela Filosofia do Seminário. Em 1985, motivado pela construção do Elevado Paulo de Frontin, que causa enorme barulho e torna difícil o estudo, é construído, sob o governo do Cardeal Dom Eugênio de Araújo Sales, o novo prédio para o Seminário Maior. Hoje, nesse complexo, além da residência dos seminaristas, temos a Faculdade de Teologia, o Instituto de Filosofia João Paulo II, a Escola Diaconal Santo Efrém, o Seminário Propedêutico, o Instituto Superior de Direito Canônico e o Instituto Superior de Teologia da Arquidiocese do Rio de Janeiro.
Em 2003 foi criado o Seminário Propedêutico Rainha dos Apóstolos, com sede localizada na Tijuca. Em 2012, o Seminário Rainha dos Apóstolos é transferido para a sede atual do Rio Comprido e a casa da Rua Conde de Bonfim foi destinada ao Seminário Missionário.
São tantas pessoas e tantas histórias que estão ligadas ao nosso querido Seminário São José. O carinho dos padres e bispos ali formados demonstra como foi importante esse tempo.
Ao celebrarmos estes 275 anos de história e de missão, queremos rezar ainda mais pelo nosso Seminário. Louvado seja o Senhor pelos formadores e pelos seminaristas! Peçamos também pela nossa Arquidiocese, para que Deus continue a enviar missionários para a messe que tanto necessita desses homens de Deus! Que São José, patrono do nosso seminário e patrono universal da Igreja, olhe por todos nós, pelos formadores, seminaristas e vocacionados.
Fonte: CNBB
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