sábado, 15 de setembro de 2012

Diálogo inter-religioso faz-se com amizade e oração

Na apresentação em Lisboa do seu livro, baseado nas reflexões de um dos monges trapistas assassinados na Argélia, em 1996, o arcebispo emérito de Argel destacou a amizade e a partilha da oração como pontos fundamentais para fortalecer o diálogo islamo-cristão.
Os grandes desafios nem sempre carecem de soluções complexas e elaboradas. O arcebispo emérito de Argel, Henri Teissier, deu a entender isso mesmo, ao apontar a amizade e a oração como caminhos para o fortalecimento do diálogo entre cristãos e muçulmanos. Na apresentação do seu livro – “Cristophe Lebreton: monge mártir e mestre espiritual para os nossos dias” -, em Lisboa, o prelado recorreu a excertos da obra para mostrar que “quando Deus fala ao coração dos homens”, nem as crenças os separam.
A sessão, a primeira de um ciclo de conferências que o prelado vai fazer em Portugal a convite dos Missionários da Consolata, entre 12 e 19 de setembro, abriu com o visionamento do filme “Homens e deuses”. Premiada e classificada como um hino ao verdadeiro “compromisso cristão”, a película relata a tensão vivida pelos monges trapistas, quando decidiram ficar no mosteiro de Tibhirine, na Argélia, apesar de ameaçados de morte por guerrilheiros de matriz islamista. Acabaram raptados e assassinados. A força das imagens, da história e da mensagem, deixou marcas nos espectadores, que quase lotaram o auditório do Montepio. No final, reinava o silêncio da introspeção. Em algumas filas, enxugavam-se lágrimas mais sensíveis.

Apesar do filme centrar a ação nos monges trapistas, Henri Teissier, que acompanhou de perto a situação com deslocações frequentes ao mosteiro, salientou que os eremitas não viveram sozinhos este drama. “A tensão foi vivida por toda a Igreja”. Depois dos grupos integracionistas terem condenado à morte estrangeiros e cristãos, a maioria dos religiosos católicos manteve a intenção de ficar na Argélia. «Entendemos que era dever da Igreja manter-se junto dos que sofriam», referiu o arcebispo, adiantando, que no caso dos monges assassinados, «eles não ficaram ali à espera da morte, do martírio, mas em partilha com a comunidade». No fundo, «esperavam viver, porque esperavam que a paz fosse mais forte do que a violência».

Este sentimento de comunhão com a população está bem retratado no diário que Cristophe Lebreton foi escrevendo e que serviu de base ao livro publicado por Henri Teissier. Ao associar constantemente cenas da vida quotidiana com os textos bíblicos, o monge acabou por deixar quase um guião para o diálogo inter-religioso, centrado na amizade e na oração. “A nossa missão evangélica é viver a Boa Nova da nossa relação com os muçulmanos. A Igreja deve acreditar numa relação ‘crística’ aqui e agora”, escreveu Lebreton, numa passagem destacada pelo arcebispo.

O livro, publicado pela Consolata Editora, era para ser apresentado pelo diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura e autor do prefácio, padre Tolentino Mendonça, mas imperativos de última hora impediram-no de estar presente. No sábado, 15 de setembro, Henri Teissier, considerado um dos maiores especialistas da atualidade em diálogo inter-religioso, falará em Fátima, hoje, nas Jornadas Missionárias. Nos dias seguintes, estará em Ermesinde, Porto e Braga. O ciclo de palestras integra-se no programa dos Missionários da Consolata do próximo ano pastoral, dedicado à “Fé, Martírio e Missão”. “Queremos fortalecer a nossa fé, partilhando a fé dos outros”, explicou António Fernandes, Superior Provincial da congregação.
Fonte: Fátima Missionária

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