Pelo texto entendemos que Jesus teria estado entre a multidão e que
haveria muita agitação para se aproximar d’Ele. Talvez para O tocar a
fim de obter cura. E, então, os discípulos observando o movimento das
pessoas, algumas crianças acompanhando os pais, algumas sentadas, outras
inquietas, e todos esperando o momento em que Jesus começasse a falar.
Temendo que ficassem para trás, aproximam-se do Mestre para arrumarem um
esquema. Jesus percebeu que alguns discípulos já vinham, há algum
tempo, conversando entre si sobre como deveria ser o Reino dos Céus.
Jesus já havia contado várias parábolas sobre o Reino dos Céus, e já
havia incutido neles uma enorme vontade de entrar neste lugar
maravilhoso, onde eles poderiam ficar face a face com Deus. Agora, o
lado humano desses discípulos queria saber qual deles teria maior lugar
de destaque no Reino, qual deles seria o maior de todos. E antes de
fazer a pergunta a Jesus, eles mesmos devem ter discutido bastante sobre
isso, e talvez chegassem até a brigar, antes de chegarem ao ponto de
perguntar ao Mestre.
Devemos observar que a pergunta que eles fazem a Jesus é: “Quem é o maior no Reino dos Céus?”
O evangelista Mateus não chega nem a dizer qual deles fez a pergunta e,
além disso, tem o cuidado de melhorar a pergunta, pois em outras
passagens da Bíblia, a pergunta é até mais direta: “Quem de nós sentará ao teu lado no Reino?” O
que se pode deduzir disso é que Jesus falava tanto e tão bem do Reino
dos Céus, que os discípulos fariam qualquer coisa para entrar nele, e
com o maior destaque possível!
A imagem de Reino que eles tinham é a de um reino da terra, então era
nessa linguagem que Jesus poderia explicar. Com toda a hierarquia de um
reino terreno.
Quando o discípulo fez essa pergunta, Jesus deve ter levado em
consideração tudo isso, deve ter percebido os olhares ao Seu redor, e
visto que todos esperavam ansiosos por uma resposta que exaltasse o mais
forte ou o mais inteligente, ou o mais religioso, ou alguma virtude que
eles pudessem discutir sobre quem seria o mais virtuoso ou qualificado
entre eles. O raciocínio rápido e inteligente de Jesus tinha que
encontrar uma saída que fizesse com que eles parassem de brigar para ver
quem era o maior entre eles. E foi uma “saída de mestre” a que Ele
encontrou. Chamou uma criança e disse exatamente o oposto do que seus
discípulos estavam preparados para ouvir: “Quem se faz pequeno como esta criança, este é o maior no Reino dos Céus”.
Com isso, Jesus acabou com a discussão dos discípulos para saber quem
seria o maior entre eles, pois agora eles deveriam buscar serem
pequeninos como uma criança. E Jesus ainda arrematou: “E quem recebe em meu nome uma criança como esta, é a mim que recebe”.
Jesus sabia que seus discípulos O tinham como Filho de Deus e,
portanto, como presença garantida no Reino. Então agora eles teriam que
buscar as qualidades de uma criança e tratar as crianças como se fossem o
próprio Jesus. Mas poderíamos interpretar “criança” com outra
conotação: as pessoas simples e humildes, de pouca formação religiosa e
acadêmica, os excluídos e marginalizados da sociedade.
Padre Bantu Mendonça- Canção Nova
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