sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

História da CNBB vista desde a janela das POM



Por ocasião dos 60 anos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), celebrados em outubro de 2012, a direção das Pontifícias Obras Missionárias (POM) colaborou com esse artigo que resgata a história da instituição episcopal no panorama da dimensão missionária realçada com o Concílio Vaticano II. Confira, abaixo.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nasceu no dia 14 de Outubro de 1952. O território nacional com extensão continental, as comunicações precárias, quando não ausentes, o número de Arquidioceses, Dioceses e Prelazias (117 ao todo) foram fatores decisivos para a criação desse organismo que, em 1952, só existia na França, Alemanha e Estados Unidos.
O Pentecostes da CNBB
Antes de completar dez anos de vida, a CNBB foi abençoada com um poderoso Pentecostes. No dia 25 de janeiro de 1961 o papa João XXIII chamou a Roma todos os bispos católicos do mundo para, com eles, estudar os grandes problemas da humanidade e, possivelmente, encaminhar sua solução.
Nos quatro anos seguintes, os nossos padres conciliares brasileiros foram submetidos, três meses por ano, a um exigente noviciado: de manhã sentados lado a lado com os bispos do mundo inteiro, na Basílica de São Pedro, discutindo os temas propostos; de tarde na “Domus Mariae” escutando os pensadores mais conceituados para enriquecer e atualizar seus conhecimentos. Uma reciclagem e tanto.
O melhor fruto do Concílio
Os frutos deste ingente trabalho foram quatro Constituições, nove Decretos e três Declarações. Mas o Concílio produziu um fruto muito mais precioso. No dia 11 de outubro de 1962, Roma recebeu 2.381 bispos isolados e mutuamente desconhecidos. No dia 8 de dezembro de 1965, a basílica de São Pedro devolveu ao mundo 2.386 bispos afinados, conhecedores da realidade mundial, sensíveis e abertos aos problemas da Igreja toda.
Antes de sair de Roma, no final do Concílio, os bispos do Brasil realizam sua IX Assembleia Geral, na qual foi elaborado o primeiro Plano de Pastoral de Conjunto (PPC) organizado em seis linhas de ação, fundamentadas nos documentos do Concílio Vaticano II. Uma dessas “linhas”, a segunda, define o compromisso do episcopado brasileiro com a missão universal da Igreja enunciada novamente pelo Concílio.
“Dentro do País e fora dele”
As Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja do Brasil (rebatizadas, a partir de 1995, por Diretrizes Gerais da Ação evangelizadora da Igreja do Brasil) e os Planos Bienais, retocados mais ou menos nas Assembleias anuais dos Bispos, disseram coisas gloriosas sobre a importância, a urgência, a conveniência do compromisso missionário ad gentes.
- Devemos "dar de nossa pobreza" projetando-nos ad gentes, além de nossas fronteiras (P 368). (DGAP 1978-82)
- Esta "tarefa especificamente missionária, (missão” ad gentes) que Jesus confiou e continua cotidianamente a confiar à sua Igreja, não se deve tornar uma realidade diluída na missão global de todo o povo de Deus, ficando desse modo descurada ou esquecida". (DGAP 1991-94)
- “Uma Igreja local não pode esperar atingir a plena maturidade eclesial e, só então, começar a preocupar-se com a missão para além de seu território. A maturidade eclesial é conseqüência e não apenas condição de abertura missionária. Estaria condenando-se à esterilidade a Igreja que deixasse atrofiado seu espírito missionário, sob a alegação de que ainda não foram plenamente atendidas todas as necessidades locais (119). (Igreja: comunhão e missão na evangelização dos povos, no mundo do trabalho, da política e da cultura - Doc. 40 da CNBB).
Uma avaliação insuspeita
O que foi feito de tão generosos compromissos? A resposta encontramos nas páginas do Comunicado Mensal, órgão oficial da CNBB.
Na XIII Assembleia Geral da CNBB (S. Paulo, 06-15.02.1973) Dom Mário Gurgel, bispo encarregado da Linha II (Dimensão Missionária) apresentou um relatório sobre aquela que ele chamou de “desconcertante deficiência de espírito missionário” no Brasil.
O documento afirma: “Herança talvez de uma cômoda dependência espiritual de nossos irmãos missionários de outras terras e de um cristianismo egoísta do «salva a tua alma», o que é certo é que essa apatia tem conseqüências desastrosas na Igreja do Brasil, que vão desde o raquitismo à ausência do senso de co-responsabilidade no interior de nossas comunidades, bem como o desinteresse pelos nossos territórios de missão e pelas necessidades da Igreja Universal”.
Concretizando o diagnóstico, o bispo afirma: “Poderíamos apontar entre as dificuldades para sanar essa falta do espírito missionário deficiências estruturais tanto da própria CNBB como das Obras Pontifícias Missionárias e falta de um relacionamento necessário entre as duas. Relativamente à CNBB, o Plano de Pastoral de Conjunto previa que à Linha 2 caberia a ação missionária, na qual ‘devem empenhar-se todos os membros do povo de Deus, cada um segundo sua vocação e função na Igreja” (Plano de Pastoral de Conjunto, p. 90). No entanto, quando a cada linha correspondia um ou mais Secretariados responsáveis por vários projetos nos quatro programas, à Linha 2 cabia o Secretariado Nacional de Prelazias que, pelo próprio nome, era mais um serviço às mesmas do que um órgão dinamizador da ação missionária. Tanto isso é verdade que os projetos da Linha 2 foram entregues ao Secretariado Geral (2.8) ou ao Secretariado Nacional de Catequese (3.2)”.
“As Pontifícias Obras Missionárias (POM), por sua vez - sem se desconhecer o auxílio financeiro em prol das missões - pouco ajudaram ao desenvolvimento do espírito missionário de nossos fiéis de vez que colocavam todo a ênfase na arrecadação de auxílios, inclusive com métodos e critérios pouco formativos”.
“Mas o que impedia verdadeiramente uma ação mais eficiente e a correção das falhas citadas, era a falta de uma coordenação de esforços. A interpretação de seu caráter de pontifícias como isenção de qualquer entrave fez com que, de um lado elas se esquivassem a uma orientação pastoral e de outro, os bispos se desinteressassem pelas mesmas, julgando, por vezes, indesejáveis suas campanhas nas dioceses”.
“Foi tendo em vista a solução desse impasse, de consequências pastorais muito mais sérias do que parecem à primeira vista, que se decidiu a criação do Conselho Missionário Nacional (COMINA), conforme pede o Moto Próprio Ecclesiae Sanctae (III, 11)”.
“A proposta feita pelo bispo responsável pela Linha 2 em reunião dos Superiores Religiosos Missionários promovida pela Obra Pontifícia da Propagação da Fé (S. Paulo, agosto 1972) foi imediatamente acolhida”. (Ver Comunicado Mensal, n. 245, fevereiro de 1973, pp. 362-364).
Poucos meses depois as POM se pronunciam:
Estamos convencidos de que "a Igreja é, por sua natureza, missionária". A consciência desta sua missionariedade aprofunda-se cada dia mais. Entretanto, damos a esta missionariedade um sentido muitas vezes incompleto e até ambíguo... As igrejas locais estabelecidas não podem limitar a sua missionariedade à atividade evangelizadora dos que convivem na mesma comunidade e estão longe do Cristo ou da vivência do cristianismo.
É verdade que a Missão é também aqui, mas não é verdade que seja somente aqui. Igualmente é verdade que devemos irradiar a evangelização ao nosso redor, no lugar em que vivemos e moramos, mas não é verdade que a missionariedade (seja de cada cristão como de cada comunidade eclesial) se esgota nisto. A Igreja vive e cresce e se torna adulta na medida e que se abre à conversão do mundo...
Devemos confessar que nem sempre sentimos e vivemos esta dimensão da missionariedade. A Igreja no Brasil está fazendo grandes esforços para se tornar missionária, mas só internamente.
Esta dimensão interna da sua missionariedade é urgente e necessária, mas é insuficiente, se não é completada pela dimensão universal, católica. É preciso então, que a Igreja no Brasil se comprometa com a animação missionária no sentido universal, assim como se compromete com a dimensão missionária local... (CNBB - Comunicado Mensal, julho de 1973, pp.956-957).
A partir da criação do COMINA, que passou a articular e coordenar a dimensão missionária no Brasil houve maior harmonia entre as várias forças (POM, CNBB e CRB) engajadas nessa atividade. Uma das prioridades continua sendo a formação através de encontros, congressos e outras atividades nas dioceses e regionais, de maneira especial os cursos realizados no Centro Cultural Missionário (CCM). Esse dinamismo representa uma grande riqueza no esforço de evidenciar a verdadeira natureza e identidade missionária da nossa Igreja. A celebração dos sessenta anos da CNBB é uma boa ocasião para avaliar a caminhada feita, evidenciando serenamente acertos e desencontros. Afinal, a missão recebida de Jesus é maior que qualquer um de nós e o julgamento se fará a partir dos frutos produzidos (Mt 7,20).Fonte: POM

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